O presidente do PT diz que importante mesmo é fazer a reforma política e a regulação da mídia. Será que os demais brasileiros concordam?
Se for verdade o que diz o presidente do PT, Rui Falcão, nas próximas semanas, talvez meses, a cúpula do partido vai dormir e acordar pensando naquilo: a reforma política, com plebiscito e Assembleia Constituinte exclusiva, e a regulação da mídia. Pelo menos foram essas as prioridades elencadas por Falcão na segunda-feira passada, em entrevista coletiva. “Só vamos obter reforma política através de plebiscito com essas mobilizações”, disse, referindo-se aos movimentos sociais. “Só pelo Congresso, seja com a atual configuração, seja na futura, é praticamente impossível”, afirmou, já deixando claro que quer contornar o Legislativo. E acrescentou: “Vamos continuar insistindo para a regulação da mídia. É uma das [reformas] mais importantes, ao lado da reforma política”.
E, a essa altura, já não é segredo para ninguém o tipo de reforma política que o PT de Rui Falcão deseja: os dois principais itens são o voto em lista nas eleições para os Legislativos, com os partidos decidindo a “ordem de preferência” de seus candidatos (ou seja, o eleitor já não decide em quem votar – no máximo, escolherá um partido cujo cacique decide quem deve obter o mandato); e o financiamento de campanha exclusivamente público, como se já não bastasse o Fundo Partidário, em que dinheiro dos impostos dos brasileiros é usado para manter cada vez mais legendas.
Reforma política com plebiscito e regulação da mídia: essas são as prioridades do PT – quem diz é o próprio presidente da legenda. E quais são as prioridades dos 54,5 milhões de brasileiros que votaram pela permanência do PT na Presidência da República? Serão as mesmas da lista de Rui Falcão? Podemos dizer sem medo de errar que a maioria daqueles que deram um segundo mandato a Dilma Rousseff tem outras preocupações, muito mais urgentes e importantes. O brasileiro está, antes de mais nada, preocupado com a inflação, que ronda o teto da meta do Banco Central e corrói lentamente seu poder de compra. Ele quer segurança no emprego, segurança essa que ficará ameaçada caso nosso Produto Interno Bruto não volte a crescer. E não são poucos os que desejam também o fim da corrupção, dos mensalões, da sangria na Petrobras, que também levam para os bolsos de alguns o dinheiro que melhoraria os serviços públicos, motivo principal pelo qual milhões de brasileiros foram às ruas em 2013.
Mas, se formos julgar também pelo discurso da vitória feito por Dilma na noite de sua reeleição, perceberemos o descompasso. Ela mesma descreveu a reforma política como “a primeira e mais importante”. Falou da realização de um plebiscito, da necessidade de discutir o tema com o Congresso, com os movimentos sociais e a sociedade civil. Inflação? Mencionada apenas uma vez. Crescimento e emprego? Também. A corrupção até ganhou um pouco mais de destaque, embora ainda distante do peso dado à reforma política no discurso. Pelo menos a presidente não falou da regulação da mídia, embora já tenha se comprometido em outras ocasiões com o “controle econômico” dos meios de comunicação.
Quando as prioridades de um partido e de um governo se distanciam demais das prioridades do povo, é este quem sofre. A reforma política é, sim, importante – embora discordemos tanto da maneira como o PT quer realizar essa reforma quanto das plataformas que defende –, mas o país vive outras urgências, especialmente no campo econômico. É nelas que deveria estar a preocupação de Rui Falcão e seus colegas de partido, e foi confiando que o PT priorizaria exatamente o combate à inflação, a luta pela manutenção do emprego e o combate à corrupção que milhões de brasileiros depositaram seus votos no dia 26. Se, em vez disso, os esforços do partido se voltarem para outro lado, os eleitores de Dilma terão todo o direito de questionar se não acabaram traídos por aqueles com quem contavam.
Se for verdade o que diz o presidente do PT, Rui Falcão, nas próximas semanas, talvez meses, a cúpula do partido vai dormir e acordar pensando naquilo: a reforma política, com plebiscito e Assembleia Constituinte exclusiva, e a regulação da mídia. Pelo menos foram essas as prioridades elencadas por Falcão na segunda-feira passada, em entrevista coletiva. “Só vamos obter reforma política através de plebiscito com essas mobilizações”, disse, referindo-se aos movimentos sociais. “Só pelo Congresso, seja com a atual configuração, seja na futura, é praticamente impossível”, afirmou, já deixando claro que quer contornar o Legislativo. E acrescentou: “Vamos continuar insistindo para a regulação da mídia. É uma das [reformas] mais importantes, ao lado da reforma política”.
E, a essa altura, já não é segredo para ninguém o tipo de reforma política que o PT de Rui Falcão deseja: os dois principais itens são o voto em lista nas eleições para os Legislativos, com os partidos decidindo a “ordem de preferência” de seus candidatos (ou seja, o eleitor já não decide em quem votar – no máximo, escolherá um partido cujo cacique decide quem deve obter o mandato); e o financiamento de campanha exclusivamente público, como se já não bastasse o Fundo Partidário, em que dinheiro dos impostos dos brasileiros é usado para manter cada vez mais legendas.
Reforma política com plebiscito e regulação da mídia: essas são as prioridades do PT – quem diz é o próprio presidente da legenda. E quais são as prioridades dos 54,5 milhões de brasileiros que votaram pela permanência do PT na Presidência da República? Serão as mesmas da lista de Rui Falcão? Podemos dizer sem medo de errar que a maioria daqueles que deram um segundo mandato a Dilma Rousseff tem outras preocupações, muito mais urgentes e importantes. O brasileiro está, antes de mais nada, preocupado com a inflação, que ronda o teto da meta do Banco Central e corrói lentamente seu poder de compra. Ele quer segurança no emprego, segurança essa que ficará ameaçada caso nosso Produto Interno Bruto não volte a crescer. E não são poucos os que desejam também o fim da corrupção, dos mensalões, da sangria na Petrobras, que também levam para os bolsos de alguns o dinheiro que melhoraria os serviços públicos, motivo principal pelo qual milhões de brasileiros foram às ruas em 2013.
Mas, se formos julgar também pelo discurso da vitória feito por Dilma na noite de sua reeleição, perceberemos o descompasso. Ela mesma descreveu a reforma política como “a primeira e mais importante”. Falou da realização de um plebiscito, da necessidade de discutir o tema com o Congresso, com os movimentos sociais e a sociedade civil. Inflação? Mencionada apenas uma vez. Crescimento e emprego? Também. A corrupção até ganhou um pouco mais de destaque, embora ainda distante do peso dado à reforma política no discurso. Pelo menos a presidente não falou da regulação da mídia, embora já tenha se comprometido em outras ocasiões com o “controle econômico” dos meios de comunicação.
Quando as prioridades de um partido e de um governo se distanciam demais das prioridades do povo, é este quem sofre. A reforma política é, sim, importante – embora discordemos tanto da maneira como o PT quer realizar essa reforma quanto das plataformas que defende –, mas o país vive outras urgências, especialmente no campo econômico. É nelas que deveria estar a preocupação de Rui Falcão e seus colegas de partido, e foi confiando que o PT priorizaria exatamente o combate à inflação, a luta pela manutenção do emprego e o combate à corrupção que milhões de brasileiros depositaram seus votos no dia 26. Se, em vez disso, os esforços do partido se voltarem para outro lado, os eleitores de Dilma terão todo o direito de questionar se não acabaram traídos por aqueles com quem contavam.
Editorial Gazeta do Povo, PR
04 de novembro de 2014
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