A campanha de reeleição de Dilma nada deixou em pé, exceto o apertado triunfo da presidente nas urnas. A campanha desconstruiu muito mais do que apenas os adversários de Dilma.
Implodiu o pouco que restava (se é que restava algo) da credibilidade da política econômica e fez desmoronar as expectativas dos agentes econômicos. A desconstrução operada por João Santana, com o beneplácito da presidente, contribuiu para criar uma herança maldita para a própria Dilma, que terá agora de juntar os cacos para lidar com os graves desafios da economia.
Na visão fantasiosa e maniqueísta difundida pela campanha governista, a atual estagnação econômica do Brasil se deve apenas à crise externa e impecável tem sido a política econômica de Dilma.
Nessas condições, não haveria necessidade de ajustes e, portanto, aqueles que os defendem seriam economistas maléficos da oposição que querem acabar com as conquistas sociais do povo brasileiro que, na ficção petista, são obra direta dos governos Lula e Dilma. Com isso, a substituição do ministro Mantega, anunciada de forma precipitada pela presidente em plena campanha, caiu no vazio, já que, pelo tom da campanha, nada haveria de ser mudado com sua saída do ministério.
Por outro lado, o princípio da independência formal do Banco Central foi estigmatizado num reclame odioso em que esse avanço institucional virou sinônimo de entrega do BC aos banqueiros e da retirada implacável do pão da mesa das famílias mais pobres. Já a defesa por Armínio Fraga da necessidade de responsabilidade fiscal serviu de pretexto para a campanha petista taxar os "tucanos" de partidários do arrocho salarial e da interrupção das políticas sociais do governo.
Ocorre que a economia não pode ser "trabalhada" pelos marqueteiros, como eles se jactam fazer com o imaginário dos eleitores.
Os problemas da economia brasileira pertencem ao mundo real e, na ausência de mudanças substanciais na política econômica, tenderiam a se agravar de forma inexorável em 2015, prenunciando mais um ano de pífio crescimento do PIB e de elevada inflação, o que afetaria mais seriamente o mercado de trabalho.
Nesse contexto, a subida dos juros pelo BC na última reunião do Copom, - fato de certa maneira surpreendente tendo em vista as manifestações anteriores do BC - pode ser vista como um primeiro sinal de que o governo, sem medo de contradizer o discurso de campanha, teria passado a buscar algum tipo de ajuste na política econômica, para evitar que a inflação saia do controle pressionada pelo mercado cambial e pela alta dos preços administrados.
No entanto, ainda é obviamente muito cedo para comemorar uma inflexão do BC em busca da convergência mais rápida para o centro da meta de inflação. O mercado somente se convencerá disso se a condução da política monetária nos próximos meses mantiver coerência com a obtenção desse objetivo, já que a elevação recente da Selic pode ter tido o propósito apenas de ancorar as expectativas em torno do teto da meta (6,5%). A propósito, é irônico pensar que, se a candidata Dilma Rousseff não tivesse demonizado a independência do BC, poderia ser muito mais fácil readquirir a credibilidade da política monetária e fazer convergir as expectativas dos agentes econômicos para o centro da meta, o que aceleraria a queda da inflação.
Contudo, a maior preocupação no curto prazo continua sendo a política fiscal que nos últimos anos perdeu transparência e vigor, a ponto de o Brasil estar ameaçado de perder o grau de investimento dado pelas agências de classificação de risco à nossa dívida soberana.
Alguma coisa terá que ser feita logo, caso o governo queira evitar este verdadeiro desastre.
O problema é que os atuais dirigentes do Tesouro carecem de credibilidade por serem contumazes artífices da contabilidade criativa.
Além disso, há pouco espaço para um corte adequado de despesas, tanto nas rubricas de custeio quanto nas de investimento. Restaria, então, recorrer ao aumento de impostos e contribuições, como, aliás, já está sendo antecipado em notícias divulgadas na imprensa.
Neste caso, mais uma vez, recolhidos os pandeiros e os tamborins, o governo será impelido a fazer aquilo que demonizava em seus adversários na eleição. Porém, da mesma forma que na política monetária, também no campo fiscal as frustrações sucessivas com promessas não cumpridas irão tornar mais difícil e demorado o restabelecimento da confiança dos agentes econômicos Cabe assinalar que, embora a plena e crível reintrodução do "tripé macroeconômico" seja um passo relevante e necessário para a retomada da confiança, a saída do estado de torpor da economia brasileira exigirá muito mais do governo.
De forma especial, é essencial no curto prazo a correção dos desequilíbrios nos mercados de energia elétrica e de petróleo e a melhora do quadro regulatório para os setores de infraestrutura, além do enfrentamento, no médio prazo, da grave questão do custo Brasil.
Implodiu o pouco que restava (se é que restava algo) da credibilidade da política econômica e fez desmoronar as expectativas dos agentes econômicos. A desconstrução operada por João Santana, com o beneplácito da presidente, contribuiu para criar uma herança maldita para a própria Dilma, que terá agora de juntar os cacos para lidar com os graves desafios da economia.
Na visão fantasiosa e maniqueísta difundida pela campanha governista, a atual estagnação econômica do Brasil se deve apenas à crise externa e impecável tem sido a política econômica de Dilma.
Nessas condições, não haveria necessidade de ajustes e, portanto, aqueles que os defendem seriam economistas maléficos da oposição que querem acabar com as conquistas sociais do povo brasileiro que, na ficção petista, são obra direta dos governos Lula e Dilma. Com isso, a substituição do ministro Mantega, anunciada de forma precipitada pela presidente em plena campanha, caiu no vazio, já que, pelo tom da campanha, nada haveria de ser mudado com sua saída do ministério.
Por outro lado, o princípio da independência formal do Banco Central foi estigmatizado num reclame odioso em que esse avanço institucional virou sinônimo de entrega do BC aos banqueiros e da retirada implacável do pão da mesa das famílias mais pobres. Já a defesa por Armínio Fraga da necessidade de responsabilidade fiscal serviu de pretexto para a campanha petista taxar os "tucanos" de partidários do arrocho salarial e da interrupção das políticas sociais do governo.
Ocorre que a economia não pode ser "trabalhada" pelos marqueteiros, como eles se jactam fazer com o imaginário dos eleitores.
Os problemas da economia brasileira pertencem ao mundo real e, na ausência de mudanças substanciais na política econômica, tenderiam a se agravar de forma inexorável em 2015, prenunciando mais um ano de pífio crescimento do PIB e de elevada inflação, o que afetaria mais seriamente o mercado de trabalho.
Nesse contexto, a subida dos juros pelo BC na última reunião do Copom, - fato de certa maneira surpreendente tendo em vista as manifestações anteriores do BC - pode ser vista como um primeiro sinal de que o governo, sem medo de contradizer o discurso de campanha, teria passado a buscar algum tipo de ajuste na política econômica, para evitar que a inflação saia do controle pressionada pelo mercado cambial e pela alta dos preços administrados.
No entanto, ainda é obviamente muito cedo para comemorar uma inflexão do BC em busca da convergência mais rápida para o centro da meta de inflação. O mercado somente se convencerá disso se a condução da política monetária nos próximos meses mantiver coerência com a obtenção desse objetivo, já que a elevação recente da Selic pode ter tido o propósito apenas de ancorar as expectativas em torno do teto da meta (6,5%). A propósito, é irônico pensar que, se a candidata Dilma Rousseff não tivesse demonizado a independência do BC, poderia ser muito mais fácil readquirir a credibilidade da política monetária e fazer convergir as expectativas dos agentes econômicos para o centro da meta, o que aceleraria a queda da inflação.
Contudo, a maior preocupação no curto prazo continua sendo a política fiscal que nos últimos anos perdeu transparência e vigor, a ponto de o Brasil estar ameaçado de perder o grau de investimento dado pelas agências de classificação de risco à nossa dívida soberana.
Alguma coisa terá que ser feita logo, caso o governo queira evitar este verdadeiro desastre.
O problema é que os atuais dirigentes do Tesouro carecem de credibilidade por serem contumazes artífices da contabilidade criativa.
Além disso, há pouco espaço para um corte adequado de despesas, tanto nas rubricas de custeio quanto nas de investimento. Restaria, então, recorrer ao aumento de impostos e contribuições, como, aliás, já está sendo antecipado em notícias divulgadas na imprensa.
Neste caso, mais uma vez, recolhidos os pandeiros e os tamborins, o governo será impelido a fazer aquilo que demonizava em seus adversários na eleição. Porém, da mesma forma que na política monetária, também no campo fiscal as frustrações sucessivas com promessas não cumpridas irão tornar mais difícil e demorado o restabelecimento da confiança dos agentes econômicos Cabe assinalar que, embora a plena e crível reintrodução do "tripé macroeconômico" seja um passo relevante e necessário para a retomada da confiança, a saída do estado de torpor da economia brasileira exigirá muito mais do governo.
De forma especial, é essencial no curto prazo a correção dos desequilíbrios nos mercados de energia elétrica e de petróleo e a melhora do quadro regulatório para os setores de infraestrutura, além do enfrentamento, no médio prazo, da grave questão do custo Brasil.
04 de novembro de 2014
Gustavo Loyola, Valor Econômico
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