"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

DGI - DIRETÓRIO GERAL DE INFORMAÇÕES


 
O Diretório Geral de Informações (DGI) é o serviço cubano de Inteligência externa. Está sob a jurisdição do Ministério do Interior (MININT), sendo que o seu diretor durante mais de 30 anos, foi Manuel Piñero Losada (falecido em 1998, em Havana, em um estranho acidente de automóvel), que era também Vice-Ministro do Interior, envolvido em atividades de Inteligência desde 1959. Entre os três vice-ministros do Interior, Piñero Losada era o primeiro em precedência.
O DGI passou a existir quando a “Seção M” da Diretoria de Segurança do Estado (DSE), que até então era a responsável pela segurança externa, tornou-se o núcleo do novo serviço de Inteligência. Seu Quartel-General, em Havana, é conhecido como o Centro Principal e suas divisões maiores são denominadas Seções que, por sua vez, compõem-se de Birôs.
As Seções Operativas são: II-1 (América Latina), II-2 (Europa Oriental), III (Escritórios na Rússia, República Checa, República Eslovaca, Alemanha, Canadá, México e Nações Unidas), III-1 (Atividades Ilegais), V (África).
As Seções de Apoio são: II-2 (Contatos), IV (Pessoal), N-1 (Serviços Técnicos), Centro de Documentação e Logística.
A Seção II-1 (América Latina) tem 6 ramificações: Colômbia, Venezuela e Equador; Brasil e Uruguai; Argentina, Chile e Peru; República Dominicana e Haiti; América Central; Bolívia. O DGI mantém escritórios ou Centros no exterior (apenas em países com os quais Cuba mantém relações diplomáticas).
 
Poucos detalhes são conhecidos sobre as operações que a Seção II-1 desenvolve nos países em que tem seus interesses. Alguns de seus agentes são orientados pelo Centro, em Paris, responsável pelo apoio que era ministrado aos movimentos de libertação nacional na América do Sul nas décadas de 60 e 70.
 
O Centro, de Paris, implantou e dirige endereços postais, naquela cidade, para utilização pelos movimentos revolucionários que atuam nos países sob a jurisdição da Seção II-1, para comunicar-se com Havana.
 
A Seção II-2 (Europa Ocidental) compõe-se de 7 Birôs: Áustria, Itália, Portugal, Reino Unido, Suíça, França e Bélgica. Cada um desses Birôs é responsável pelo apoio ao Centro correspondente, no estrangeiro. Os Centros da Seção II-2 estão localizados nas representações diplomáticas de Cuba em Viena, Roma, Lisboa, Madri, Londres, Genebra, Paris e, possivelmente, Estocolmo, cobrindo os países escandinavos. Na Grécia e Chipre, por não representarem interesse algum para o DGI, não existem Centros.
 
A Seção III divide-se em 9 ramificações: CIA, Contra-Revolução, ONU, México, Canadá, Rússia, Checoslováquia (agora dividida em 2 países), a então Alemanha Oriental e um Grupo de Apoio, para a fabricação de documentos, conhecido como o “Pessoal do Diosdado”.
 
É conhecida, também, a existência de um escritório unificado de Contra-Revolução que tem como finalidade operacional penetrar na comunidade de exilados cubanos em Miami, a fim de detectar quaisquer planos de ação hostis a Cuba, especialmente através de infiltrações na Ilha. Sobre este tema, recorde-se que foram presos e condenados nos EUA, sob a acusação de espionagem, cinco cubanos (Antonio Guerrero Rodriguez, Fernando Gonzalez Llort, Gerardo Hernandez Nordelo, Ramón Labañino Balazar e René Gonzalez Sehwerert), membros desse Escritório de Contra-Revolução. Todavia, em 9 de agosto de 2005, a Corte de Apelações de Atlanta revogou as sentenças e ordenou um novo julgamento.
 
O Birô das Nações Unidas dá apoio às atividades da delegação cubana naquele organismo internacional.
 
O “Pessoal do Diosdado”, pequeno em sua estrutura, providencia documentação de toda e qualquer natureza: passaportes, vistos, carteiras de identidade, certidões de nascimento e óbito; obtém os timbres e os selos das diversas embaixadas; material de expediente de todos os países e amostras dos diferentes tipos de papel fabricados em cada país; responsabiliza-se pela aquisição de mapas, fotos de aeroportos, horários de ônibus, trens e aviões. Em geral, fornece todo o tipo de informações necessárias a uma viagem, inclusive e principalmente no que diz respeito à travessia ilegal de fronteiras. Muitos terroristas treinados em Cuba regressaram a seus países clandestinamente devidamente instruídos pelo “Pessoal do Diosdado”.
 
O Centro da cidade do México é, provavelmente, o responsável pelo apoio às operações clandestinas nos países da América Latina e EUA. Quanto ao Centro da DGI, em Praga (antes da divisão da Checoslováquia em dois países) tinha a atribuição de prover as necessidades de transporte, hospedagem e documentação dos revolucionários dos movimentos de libertação nacional, a caminho de Havana, para treinamento ou consultas. “Che Guevara, quando saiu do Congo, em 1965, ficou algum tempo hospedado em um apartamento, em Praga, antes de dirigir-se à Bolívia” (entrevista de Ulisses Estrada Lescaille, companheiro de Che, no siteRebelión, em 16 de agosto de 2005).
 
A Seção II-1 (Atividades Ilegais), originariamente integrante da Seção III, da qual se desligou em 1968, é ativa em recrutamento, instrução e infiltração. A ela cabiam determinadas atividades no antigo bloco comunista.
 
Quanto à Seção III-2 (Contatos), ela foi criada com a missão de prover as diversas Seções do DGI, e seus Centros no exterior, de domicílios de conveniência, pontos de coleta de informes, abrigos e locais de reunião. É também responsável pelas ligações oficiais com outras organizações do governo cubano.
 
A Seção IV (Pessoal) tem a missão de recrutar e treinar todo o pessoal do DGI, bem como selecionar o pessoal para serviço no Corpo Diplomático. Posteriormente, foram-lhe atribuídas outras tarefas.
 
A Seção V (África) era a responsável pelas ligações com o comando dos militares em operações na África, dirigindo e controlando todas as atividades de guerrilha naquele Continente. Segundo indícios, essa Seção incluía também o Oriente Médio.
 
A Seção N-1 (Serviços Técnicos) supre os oficiais e agentes do DGI com sistemas clandestinos de comunicações e presta todo o auxílio técnico necessário às operações das demais Seções. Esse apoio técnico compreende uma unidade fotográfica, uma unidade de codificação e cifragem, uma unidade de despistamento e uma unidade áudio.
 
Pouco se conhece sobre o Centro de Documentação, além do fato de que nele estava alocado um “conselheiro” soviético. Possivelmente esse Centro seja o Arquivo Geral do DGI.
 
A Seção de Logística encarrega-se da alimentação, do vestuário e do alojamento dos agentes chamados a Havana, assim como das necessidades administrativas e logísticas das diversas Seções do Centro Principal.
 
Com o fim dos chamados movimentos de libertação nacional, na década de 80, a queda do Muro de Berlim em Nov 89, o fim da Alemanha Oriental e do bloco socialista em 1990, bem como o fim da União Soviética em 1991, todo esse planejamento de funcionamento do Diretório Geral de Informações teria sido, evidentemente, reformulado.
 
Uma referência deve ser feita ao Departamento de Operações Especiais, órgão a cargo das Tropas Especiais, unidade paramilitar vinculada ao Ministério do Interior, através da qual militantes dos movimentos de libertação nacional, escolhidos pelo Departamento América, recebem treinamento militar em Cuba. Recorde-se que, quando da deposição de Salvador Allende, no Chile, um grupo de Tropas Especiais estava no país, comandado por um Oficial-General cubano.
 
Sabe-se que oficiais desse Departamento mantêm contatos diretos com membros do aparato militar de determinados movimentos de libertação e de alguns partidos de esquerda que não se libertaram da tática suicida da luta armada. A supervisão geral de tais contatos é, no entanto, do Departamento América.
 
17 de novembro de 2014
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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