"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

SILÊNCIO ELOQUENTE

A Petrobrás teve 11 ex-diretores responsabilizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) pela operação comercial de compra de uma refinaria nos Estados Unidos, sob a suspeita de servir a um esquema de desvio de recursos para fins ainda investigados.

Apenas nesse caso a operação envolve a quantia de 712 milhões de dólares que o TCU pretende estornar para os cofres da empresa. Os bens dos 11 ex-diretores estão bloqueados, inclusive os do seu ex-presidente, Sérgio Gabrielli. A sua sucessora, Graça Foster, poderá ir pelo mesmo caminho.

Um dos alcançados pela decisão do tribunal, Paulo Roberto Costa, está preso. E a Polícia Federal investiga a participação de seu parceiro, o doleiro Alberto Youssef, ambos réus por desvio de dinheiro da refinaria Abreu e Lima, como sócio da estatal em um terceiro empreendimento - a usina termelétrica de Suape.

Nesta, Youssef estava associado ao ex-deputado José Janene na empresa CSA Project Finance, investigada por lavagem de dinheiro do mensalão, repassado pelo publicitário Marcos Valério. É Janene o padrinho político de Paulo Roberto Costa na Petrobrás, formando um elo que aproxima as investigações de desvios para campanhas eleitorais.

São casos que já ultrapassaram o estágio das denúncias e geraram ações policiais e judiciais, com bloqueios de bens e prisões. Sua consistência se mede também pela antecipação da presidente Dilma Rousseff ao seu desfecho policial, declarando-se inocente de uma decisão da empresa que sabia, mais tarde, incriminadora.

No entanto, tanto Dilma, à época presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, quanto seu antecessor, Lula, presidente da República, calam sobre o desdobramento desses casos. A presidente satisfez-se com a não inclusão do Conselho na decisão do TCU, que a isenta, por ora, da responsabilidade imposta aos ex- diretores.

Já o ex-presidente, em cuja gestão ocorreram os fatos, os inclui no roteiro cirúrgico que cumpre como cabo eleitoral da afilhada - um script que o mantém em cena apenas como advogado do governo da sucessora, omitindo-se de qualquer tema incômodo com origem no seu.

A ideia é que seu governo figure na campanha quando for conveniente avaliar os 14 anos do PT no poder para atenuar a crise econômica atual. E separando as duas gestões na maior parte do tempo, como convém ao ex-presidente, para não macular a popularidade com a qual voltou à planície.

Mas o escândalo da Petrobrás é um vínculo de alto teor explosivo a unir criador e criatura, juntos à época como chefe e subordinada. O que torna o silêncio de ambos. sobre os escândalos, eloquente.


04 de agosto de 2014
João Bosco Rabello, O Estadão

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