"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

EBOLA, PROBLEMA GLOBAL

A África Ocidental, uma das regiões mais pobres do mundo, enfrenta o pior surto de ebola desde que esse vírus extremamente letal foi descoberto, em 1976. A debilidade institucional dos países afetados impõe à comunidade internacional o dever de acompanhar de perto a crise, tanto para debelá-la como para evitar sua propagação.

Na sexta-feira (1º), a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que o vírus continua se espalhando em velocidade maior do que os esforços para contê-lo e alertou para possíveis consequências catastróficas em termos de vidas humanas e impacto socioeconômico.

Das cerca de 1.300 pessoas infectadas, ao menos 729 morreram, o que torna este o surto mais mortífero entre os cinco registrados.

O ebola vem provocando mortes na Guiné, em Serra Leoa e na Libéria, vizinhos entre si. Mas um caso já foi notificado na Nigéria, o país mais populoso da África (177 milhões de habitantes).

A situação é particularmente dramática dada a profunda desconfiança das populações locais em relação a seus governos, que ademais enfrentam deficit de funcionários e de material médico.

Não se descarta uma subnotificação de casos. Em áreas com alta incidência do vírus, como o leste de Serra Leoa, familiares de pessoas mortas com sintomas da doença escondem os corpos e fazem enterros sem os cuidados devidos. Surgem boatos de que o governo esteja disseminando o ebola.

A falta de colaboração contribui para o alastramento do vírus, que passa de uma pessoa a outra por meio de sangue, secreções e outros fluidos. Um homem pode transmiti-lo pelo sêmen até sete semanas após ter sobrevivido à doença.

Dadas as circunstâncias, é essencial que a OMS aumente seu protagonismo. Nesse sentido, foi um bom sinal a criação, na última quinta-feira, de um fundo de US$ 100 milhões para financiar a oferta de agentes de saúde e o aprimoramento dos controles fronteiriços.

Por ora, a única notícia alvissareira quanto ao futuro vem dos EUA, onde a crise acelerou as pesquisas para uma vacina. Se tudo ocorrer dentro do previsto, a imunização estará disponível em 2015 para trabalhadores de saúde e outros grupos de alto risco.

Vários países, enquanto isso, adotam medidas preventivas. No Brasil, aumentou o rigor em portos e aeroportos na identificação de eventuais portadores do vírus.

Não se trata de uma crise localizada. O fato de já ter atingido três países, as dificuldades estruturais dos governos e as características do ebola justificam o alarme da OMS. Quanto mais célere a reação internacional, melhor.

 
04 de agosto de 2014
Editorial Folha de SP

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