"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

A SEMANA DAS DEFINIÇÕES

 



A convenção do Partido dos Trabalhadores confirmou a presidente Dilma Rousseff como candidata à reeleição. 
Enquanto isso, nos bastidores ferviam e fervem como nunca as negociações que ressuscitam Lula como candidato à Presidência.

Dois motivos: Dilma tem índice alarmante de rejeição no Sul e no Sudeste, e isso é prelúdio de uma iminente queda de intenções de voto.
Segundo: o quadro econômico nacional é o pior de muitos anos, com a Petrobras em frangalhos, marcada por fracassos estratégicos e por investimentos mal direcionados, ainda com o sistema Eletrobrás em derrocada, que encontra exatamente em Dilma o cerne das maiores críticas.

Pesam nisso as intervenções estabanadas e desastradas, como a promessa de uma queda de tarifas de 26%, que, ao contrário, desencadeou em curtíssimo prazo elevações de até 45%. Parece que o pior ainda aguarda o consumidor, que poderá desabar mesmo quando o fantasma das urnas estiver exorcizado.
 
Se os sacerdotes de antigamente liam no voo dos pássaros e vaticinavam pelas entranhas do bode expiatório, hoje os analistas políticos que aconselham os candidatos apontam o risco terrível do aumento da rejeição e da desaprovação de Dilma como governante.

Pelo Ibope, a desaprovação ultrapassou a aprovação, e quem a considera apenas regular representa outra parcela igual. Dilma nunca foi tão mediocremente avaliada. Isso acontece num momento crucial que determina o potencial eleitoral em curto prazo.

Como captar votos se mais de um terço da população manifesta insatisfação em relação a ela? Nunca alguém nessa situação de descrédito anteriormente conseguiu a façanha de se eleger. Até índices bem mais confortáveis não foram suficientes para fazer alcançar a vitória.
 
MINAS E A RAMPA
 
A tradição ensina que Minas Gerais é o Estado caixa d’água, não só pelas suas represas, que atualmente andam vazias, mas por ser o lugar de onde saem as tendências que inundam o país. Aécio é soberano em Minas e cumula uma projeção de 2 milhões de votos, que não possuem apenas um significado estatístico.
Minas, com suas regiões díspares e representativas do Brasil, liga o Sul ao Nordeste e reflete, melhor que qualquer outro, a síntese nacional. Não é por acaso que quem encabeçava as pesquisas presidenciais em Minas no fim de junho acabou ganhando a eleição. O majoritário em Minas sempre foi quem subiu em seguida a rampa.
 
Em 1994, Fernando Henrique, numa pesquisa realizada em Belo Horizonte pela CP2, passou seus adversários exatamente na última semana de junho e daí para a frente só abriu margem e conquistou no primeiro turno a vitória.
Existe um desvio nesta ocasião: Aécio é ex-governador de Minas e não poderia perder no palco que o viu de intérprete. Enfim, joga em casa, entretanto Minas irradia, ergue-se de referencial.
 
As vaias que atormentaram Dilma em 12 de junho, na abertura da Copa, teriam refletido uma brusca queda de Dilma.
E se cair é de uma hora para outra, subir é muito mais demorado. Dilma cairá mais? O que pode fazer para estancar o processo? O que resta a seu partido fazer?
 
SEMBLANTE AZEDO
 
A síndrome da derrota, adquirida por alguns caciques do PT, contagia indisfarçadamente a tropa e azeda o semblante. Lula tem se feito mais crítico, mais duro em relação à condução política de Dilma, que torrou seu arsenal de bondades antes da hora e chega agora de mãos abanando ao momento mais crucial.
 
Os dois adversários dela são menos conhecidos e ainda menos expostos na mídia. Quer dizer que significativa parcela do eleitorado não tem condição de formar uma opinião, quanto menos de confiar um voto a quem, para ele, nem existe.
 
Uma raposa velha como Lula entende com facilidade os fatores adversos e neste momento, mais do que nunca, é acionado e, por sua vez, ativo na possibilidade de uma virada de mesa substituindo Dilma caso Eduardo Campos aceite ser seu vice.
Neutralizaria assim a sangria de votos no Nordeste que Eduardo captou e recuperaria parte daqueles que Dilma perdeu. Ainda neutralizaria o apoio de Eduardo Campos a Aécio no já previsto segundo turno.
 
Eduardo Campos vive assim o dilema. Manter-se como terceira via e com esse atraente papel num momento em que os desejos de renovação gritam nas ruas. 
Cobiçado por Aécio, que deixou sua vaga de vice aberta, e ainda mais por Lula, que vê nele a panaceia para curar o efeito de rejeição a Dilma, Eduardo Campos, comprometido com Marina Silva, terá uma semana árdua, que tem até o dia 30 como o limite de uma decisão.

26 de junho de 2014
Vittorio Medioli
O Tempo

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