"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 27 de março de 2014

O DRAGÃO DO DESCASO CONTRA A SANTA EDUCAÇÃO - GLAUBER ROCHA ME CONCEDERIA ESSA LICENÇA POÉTICA?



Meu nome é Jussara Carvalho Rocha e sou professora de Língua Portuguesa. Eu sempre grafo “Língua Portuguesa” assim mesmo, com iniciais maiúsculas.

Na semana passada, no meio de uma aula, um aluno do 7.º ano me disse sem rodeios, sem constrangimentos: “professora, ninguém aqui liga pra sua matéria!” Confesso que na hora senti uma espécie de baque seco; Língua Portuguesa normalmente não conquista multidões, mas ouvir assim, desse jeito, doeu.

Essa dor que, fermentada por alguns dias gerou indignação e irritação, não veio por conta do que o aluno disse, exatamente, mas pelo que representa essa fala dele, da geração dele, embora eu saiba que esse garoto não fala por todos, mas infelizmente fala por boa parte dos adolescentes e pré-adolescentes de hoje.

Então, eu pego a deixa da pergunta dele e devolvo: esses meninos estão interessados, “ligam” para o quê mesmo? Diante do que se desenrola à nossa frente, no que diz respeito à educação, vejo um futuro triste, de massas e massas de “profissionais” incompetentes, incompletos, pelo simples/grave fato de não terem buscado e acumulado conhecimento. Hoje, o que mais vemos são reportagens de tv propagando quão difícil é a contratação de mão de obra qualificada. Em um programa, certa vez, vi um grupo de estagiários de uma empresa que disputavam pela efetivação. O teste final, e não menos importante, foi um ditado; um simples ditado em que nenhum dos candidatos teve 100% de acerto. Muitos não ultrapassaram a marca de 60%. Triste.

O desprezo pela educação pública no Brasil encontrou um forte aliado, ou melhor, dois: de um lado, o descaso dos próprios familiares e alunos. Alunos esses que hoje se entregam a uma rotina de infinitas horas diante das telas de computador, fazendo “milhares de seguidores” nas redes sociais. Jovens que não sabem utilizar a tecnologia para dinamizar suas vidas, mas sim, como uma ferramenta de idiotização em massa; olha Eisntein aí na conversa (quem estiver ligado, vai entender).

Pronto: temos um sistema de educação que não educa, alunos que não aprendem e professores que não são valorizados. Pra quê melhor?? Juntemos a esses ingredientes, os “balcões”, as “vendinhas” de diplomas. Você quer um diploma universitário, meu filho? Então você terá! Há algumas décadas, no período “pré-cotas”, as universidades públicas eram o alvo, o sonho de muita gente. Uma boa formação era o que interessava de fato, por isso, o garoto estudava, corria atrás, porque sabia que fora dessas instituições, não poderia alcançar o que buscava. Hoje, no período franco das “cotas”e dos “fies”, que não passam de facilitadores na formação de medíocres profissionais por faculdades pífias, tudo leva a pensar e constatar que não há necessidade de se estudar tanto, porque de uma maneira, ou de outra, o diploma virá.

O que temos como perspectiva de futuro é isso: uma multidão de profissionais despreparados, oriundos de um sistema deficitário de ensino, do básico ao superior. Aliás, por que o termo “ensino superior”? Ah, isso é assunto para outro momento.

Nunca frequentei escola particular; vim da escola pública, num momento em que já estava sucateada. Corri atrás, corri por fora, corri na frente para realizar o que eu desejava: ser professora de Língua Portuguesa. Uma profissão desmerecida por tantos, infelizmente até por alguns colegas. Amo o que faço, sei que nasci pra isso. Não mudo por nada. Sei que é um caminho árduo, mas não tenho medo de briga. O que me entristece é o tipo de pensamento que brota em cabeças como a do meu aluno, citado no início do texto. Prevejo para ele um futuro triste, de mediocridade, de incompetência e de ignorância.
 
27 de março de 2014
Jussara Carvalho Rocha é Professora de Língua Portuguesa.

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