"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

VALE A PENA LER DE NOVO

Entrevista com Roberto Ellery Jr.: a década de 1970 está de volta?

Em 09 de julho de 2012 esse blog já fazia o alerta. Abaixo segue a entrevista feita em julho de 2012 com Roberto Ellery Jr, vale a pena reler. A única novidade de lá para cá é que o professor começou um excelente blog que recomendo a leitura.

Entrevista com Roberto Ellery Jr.: a década de 1970 está de volta? (entrevista realizada em 09/07/2012)

Num esforço desse blog para tornar claro os perigos inerentes da política econômica adotada atualmente em nosso país, estarei entrevistando uma série de especialistas em economia brasileira. Todos responderão ao mesmo conjunto de três perguntas.

Neste post, entrevistamos o Professor de Macroeconomia da Universidade de Brasília, Roberto Ellery Jr.. Ele é uma das maiores autoridades sobre crescimento econômico e produtividade no Brasil. O Sachsida agradece a gentileza da entrevista.
1) O Brasil está revivendo o final da década de 1970? Será que em breve estaremos revivendo a década de 1980 (apelidada de década perdida)? Por que?
Resposta) Em vários aspectos a situação de hoje é perigosamente semelhante a do final da década de 70. Assim como naquela época o governo está usando uma série de medidas de expansão da demanda agregada com objetivo de deixar o país de fora de uma recessão mundial. Outra semelhança perigosa é a crença no estado como indutor do crescimento econômico. A crise dos anos 80 fez o Brasil abandonar esta crença que marcou apolítica econômica pelo menos desde a década de 1930. Desta forma foi possível abrir a economia, privatizar estatais e encaminhar uma série de reformas que colocaram o Brasil em uma trajetória de crescimento com ganhos de modestos de produtividade e distribuição de renda. A partir de 2005, com o PAC, o governo começa a trocar a agenda de reformas por uma agenda de investimentos públicos ou induzidos pelo governo. Na sequencia o governo traz de volta as políticas industriais caracterizadas pela escolha de setores e empresas vencedores. Com a crise de 2008 o governo assume definitivamente a agenda desenvolvimentista e coloca o BNDES novamente no centro da política de crescimento e da política industrial via crédito barato. Por fim o governo voltou ao protecionismo por meio de barreiras a entradas de produtos importados e de política de câmbio. A experiência brasileira sugere que esta combinação de políticas é fatal para o crescimento da produtividade e, portanto, para o crescimento de longo prazo.

Entretanto existem algumas distinções importantes. Hoje o Brasil é uma democracia, isto limita o governo de levar às últimas consequências as políticas desenvolvimentistas. Aumento da inflação e concentração de renda, consequências típicas do receituário desenvolvimentista, podem minar a base de apoio popular do governo. Outra diferença importante é que não existe uma dívida pública fora de controle. Por outro lado as famílias estão bastante endividadas para os padrões brasileiros, o que pode acabar por criar problemas fiscais em um roteiro semelhante ao ocorrido em alguns países europeus onde o estado assumiu dividas de bancos para evitar uma crise financeira.


2) Qual o maior risco do cenário externo para a economia brasileira?

Resposta) O primeiro grande risco é uma queda no preço das commodities. O elevado preço das commodities foi o grande fator que manteve a economia brasileira fora da crise mundial. Uma reversão neste mercado significaria perda de renda no Brasil e problemas no balanço de pagamentos. É interessante que em vários momentos o Banco Central apontou o alto preço das commodities como um problema, esquecendo que o Brasil é produtor de commodities e portanto beneficiado com a elevação dos preços. Note que o benefício se estende inclusive ao controle da inflação pois permite uma expansão da oferta agregada que absorve pelo menos em parte os efeitos da expansão da demanda agregada sobre os preços.

Outro grande risco é o surgimento de inflação nos EUA. Caso a economia americana se recupere e comece a apresentar sinais de inflação é provável que o FED aumente a taxa de juros dos EUA. Este aumento acabaria por levar a um aumento das taxas de juros no Brasil. Como as famílias estão muito endividadas é possível que um aumento das taxas de juros no Brasil leve a um aumento da inadimplência e, no extremo, a uma crise financeira. O governo terá de escolher entre permitir a falência de bancos ou salvar os bancos incorrendo em aumento significativo da dívida pública. Em ambos os casos poderíamos ter uma crise financeira com efeitos sobre o crescimento semelhantes aos da crise dos anos 80.


3) O governo parece estar usando política tributária para controlar a inflação. Você acredita que isso seja verdade? Se for verdade, concorda com isso? Por que?

Resposta) O governo está claramente usando política tributária para controlar a inflação, basta notar que a baixa inflação do mês passado foi devida a redução nos preços dos carros e que esta redução foi devida ao IPI. Além da política tributária o governo está usando uma série de ferramentas que visam controlar preços para manter a inflação baixa, o preço dos combustíveis é um exemplo. Este tipo de política deu errado onde foi aplicada, além de não controlar a inflação gera distorções de preços relativos que afetam as decisões ótimas dos agentes. Como é impossível para o governo determinar todo o vetor de preços relativos a tentativa de controlar alguns preços relativos não raro gera resultados contrários aos desejados pelo governo. Mais uma vez o combustível serve de exemplo. Ao mesmo tempo que o governo mantém os preços baixos afirma que quer diminuir o uso de automóveis para reduzir a poluição e os congestionamentos nas grandes cidades. Não pode dar certo.
 
06 de fevereiro de 2014
 in Adolfo Sachsida

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