Estamos nós, cidadãos brasileiros, em situação de esgotamento. Já estamos dando sinais de que a cabeça não trabalha bem, e quando isso ocorre o corpo também falha. Somos hoje seres doentes, maltratados por um estado de coisas que nos pressiona e que nos empurra, por meio de uma toada lenta, sádica e masoquista, para uma espécie de tripalium.
Somos vítimas de nós mesmos, de nossa consciência distraída e de um país em que não só os extremos, mas o seio da sociedade se perde em colapso. Os nossos direitos estão se evaporando e só temos os deveres cobrados se eles forem para fazer os acertos com o fisco.A leniência faz parte dos três Poderes da República e os transforma em um conjunto esquizofrênico e estéril. Eles não têm mais o controle da situação.
Em ruas, escritórios ou em repartições públicas as pessoas não se entendem. Encontramo-nos de pé, fatigados, em uma torre de babel apertada e encalorada. As forças estão se exaurindo.
Toma conta de nós uma raiva contida, silenciosa, que, guardada, transforma-se em ressentimento. Somos, então, pessoas ressentidas, sem expectativa de dias melhores, o que faz a paisagem de nosso mundo ficar mais feia, mais cinza.
Faltam-nos gentileza, competência, vontade e uma certa porção de “raiva” boa, aquela que provoca mudanças de fato. Reações que não nos ressentem, mas que nos alertam.
E esse esgotamento do brasileiro como cidadão, do Brasil como nação, não traz somente prejuízos imediatos. Traz consigo a falta de esperança, o que de pior pode existir para uma pessoa, uma gente, um país.
PAÍS PARALISADO
O Brasil parece mais um barco remendado no meio do oceano, sem vento para soprar suas velas, seja para qual direção for.
O fim de um cansativo dia de trabalho não é mais motivo para irmos embora e recarregar nossas forças com os bons fluidos da família, que, também já intoxicada por notícias ruins proliferadas por todo tipo de ferramenta, esgota-se aos poucos, deixando às crianças o abandono e a falta de amparo.
Resta-nos, neste universo em desespero, nos contentar com o fato de que a desgraça do outro é maior do que a nossa.
Viver no Brasil, nos dias de hoje, não é somente sobreviver a tiroteios, enfrentar congestionamentos, ser roubado nas ruas e surrupiado em conchavos de gabinetes políticos. Não é mais ter que aceitar a precariedade da saúde e a falta de educação de mínima qualidade.
Ser brasileiro, sem sentir vexame, é ter a habilidade, quase transcendental, de se despir de todo o mal que a própria sociedade cria e se reinventar. Só um novo advento é capaz de mudar as coisas. Fiat lux!
(transcrito de O Tempo)
16 de fevereiro de 2014
Heron Guimarães
Nenhum comentário:
Postar um comentário