"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

AVIÕEZINHOS DE PAPEL

 

carlos_brickmann_09O Brasil acaba de comprar, por US$ 4,5 bilhões, o direito de participar do desenvolvimento do projeto de um avião supersônico.

O Gripen NG, da Saab, é o sucessor do Gripen, um caça de sucesso (e tem sua origem remota no Viggen, avião de combate de ótima reputação, símbolo da boa engenharia sueca), mas ainda está no papel.
Isso foi apontado como vantagem: ao participar do projeto, o Brasil leva de brinde ampla transferência de tecnologia, podendo criar uma base que lhe permitirá, no futuro, desenvolver aqui jatos de combate e ataque ao solo.

OK, não é bem assim; falta combinar com os americanos, que fornecem parte das peças e precisam autorizar a transferência desta tecnologia. Mas é um bom começo. Ou seria: afinal, quais as necessidades militares do Brasil? E da FAB?

As Forças Armadas estão mal de verbas, equipamentos e infraestrutura. Há falta de refeições para os recrutas e de munição para exercícios de tiro. Seria a compra de aviões o projeto prioritário?
Imaginemos que seja. Mas é de caças supersônicos que o Brasil, que não tem pendências com os vizinhos há mais de um século, precisa?
Vigiar as fronteiras, patrulhar o pré-sal, tudo isso não seria feito, e bem, por aviões não tripulados, os drones, que custam muito menos?
Quantos drones de última geração poderiam ser comprados pelo preço dos Gripen?

É questão de conceito: as magníficas trincheiras francesas, de ótima tecnologia, não resistiram ao novo conceito da guerra blindada alemã. Os drones talvez sejam o futuro da aviação militar num país pacífico com muita coisa a defender.

Sem piloto

O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse que o Brasil comprará 300 drones neste ano. E o país se estrutura para produzir aviões não tripulados em grande escala.
Em outubro, foi liberado pelo Governo o acordo entre Avibrás, Embraer Defesa e AEL Sistemas para construir o drone Falcão, projetado para uso das Forças Armadas.
O drone será capaz de “apontar alvos, auxiliar na direção de tiro, avaliar danos” e fará “missões de reconhecimento, vigilância terrestre e marítima”. Um avião desse tipo pode transportar foguetes e bombas, guiadas ou não.

Governo bom, barato e belo

A Assessoria de Imprensa do Governo paulista diz que a informação desta coluna (Dinheiro, pra que dinheiro) sobre verba publicitária está errada. “Ao contrário do que afirma o colunista, o gasto com publicidade do Governo de São Paulo vai diminuir em 2014.
A dotação orçamentária atualizada de 2013 é de R$ 281 milhões, como pode ser comprovado por qualquer cidadão que buscar no Sistema de Informações Gerenciais de Execução Orçamentária, Sigeo, os valores consignados para o programa Comunicação Social.
A proposta orçamentária enviada à Assembleia prevê, para o mesmo fim, R$ 188 milhões para o ano de 2014″ Clique e confira.

Nosso líder é magnífico

A nota oficial segue dizendo que o Governo paulista segue a lei, o que não foi contestado em nenhum momento na informação: o que foi contestado é o gasto desnecessário de dinheiro público em propaganda, mesmo legalmente.
Uma empresa de águas como a Sabesp, que não tem concorrentes, gasta contratando astros caros como Fernando e Sorocaba, ou como Edgar Picolli; o Metrô, que não tem concorrentes, gasta para dizer que São Paulo “é um Estado cada vez melhor”.
É por isso que o Brasil gasta mais que a Alemanha em propaganda oficial.

Incrivelmente bom

A propósito, a conta do Governo está errada. Como em 2014, por coincidência um ano eleitoral, não se pode gastar com publicidade no segundo semestre, o governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição, tem de concentrar gastos no primeiro semestre. Em 2013, gastou R$ 16,1 milhões por mês com propaganda.
No primeiro semestre do ano eleitoral, deve gastar por volta de R$ 31,5 milhões ao mês. A Assessoria de Imprensa diz que os gastos serão diluídos por oito meses, e ficarão em R$ 23,5 milhões mensais – bem mais que em ano não eleitoral.

Torrando o nosso

A propósito, a Agência Nacional de Cinema, Ancine, federal, escolheu a DM9DDB para cuidar de sua conta de publicidade de R$ 15 milhões por ano.
Alguém poderia contar a este colunista por que a Ancine precisa de propaganda?

Adeus, ano velho

A Assembléia do Rio aproveitou o clima de festas para tomar uma série de providências: dar auxílio-moradia de R$ 5 mil mensais para juízes e promotores, aumentar os vencimentos do governador e seus secretários, elevar o salário dos chefes de gabinete dos nobres parlamentares – de R$ 12 para R$ 16 mil mensais.

Agora, caro leitor, analisemos; o Governo paulista é PSDB, a Ancine, do Governo Federal, é PT, a Assembléia do Rio é PMDB. E o bolso é sempre o nosso.

Até janeiro!

Esta coluna é a última do ano. Permite aos leitores (e ao colunista) descansar um pouco desta vida de olhar o Brasil como ele é de verdade e ainda assim continuar gostando dele. A próxima coluna deve ser publicada na primeira quarta-feira de 2014, dia 8 de janeiro.
Bom Natal, caro leitor, e Feliz Ano Novo. Até lá!

23 de dezembro de 2013
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação.

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