"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 29 de dezembro de 2013

2014 PODE SER MELHOR

 
Os problemas de desenvolvimento no Brasil, porém, vão muito além de ter um ano melhorzinho
 
FEITA A SURPRESA, a de um jornalista de economia dizer algo otimista, façamos logo a ressalva antes de continuar: 2014 pode ser melhor do que 2013, sim, e daí?
 
Sob um certo aspecto, até 2013 terá sido melhor que 2012. O PIB deve crescer uns 2,3%. Em 2012, cresceu 1%. Desarranjos, excessos, erros e omissões acumulados em 2013, porém, serão purgados ainda por alguns anos.
 
Para não estragar toda a surpresa, no entanto, voltemos antes a passear pelo lado mais agradável das probabilidades.
 
Suponha-se que o governo passe a limpo algumas das bobagens que vinha fazendo, como parece ter prometido. Suponha-se que a mudança na política econômica americana não seja sobressaltada.
 
Caso o governo seja um bom menino, haverá menos incerteza, com o que as empresas ficam menos inseguras de investir.
 
O câmbio está mais desvalorizado (está mais caro importar). O efeito positivo da desvalorização leva um tempo para aparecer. Pelos calendários astrais da econometria, o dólar mais caro ajudaria a indústria nacional em 2014.
 
A transição na economia americana pode ser acidentada, mas é transição apenas porque, em tese, a economia deles vai crescer mais. O mundo inteiro, parece, vai consumir um pouco mais no ano que vem, o que dá um alento para nossos preços e produtos.
 
Depois de anos de tropeços, acidentes e atrasos, parece que a produção da Petrobras enfim vai começar a aumentar. Alguns investimentos em obras de infraestrutura vão começar, pouca coisa em 2014, é verdade, mas alguma coisa.
 
A estimativa média de crescimento é de 2% em 2014. Por ora, parece a mais razoável. Se vierem besteira do governo e acidentes na finança do mundo, podemos crescer 1%. Se tudo der certo, podemos ir a uns 3%.
 
Porém, esse não é o debate principal. Fizemos besteira grave e perdemos muito tempo nos últimos cinco anos. O conserto vai levar ao menos outros dois. Ainda assim, vamos ter de trocar o "modelo" da carruagem.
 
Primeiro, sendo o Brasil ainda pobrinho e de desigualdade exorbitante e repulsiva, a economia precisa crescer pelo menos a uns 4% por ano para que a gente não tenha de esperar até as calendas do infinito para ver menos pobreza e sofrimento.
 
Segundo, crescer 3% em 2014, além de pouco, não é indicativo de retomada. A gente dá atenção demais ao curto prazo, a como apertar tal ou qual botão para fazer a economia dar uma aceleradinha, sintonia fina que de resto é difícil de acertar.
 
Terceiro, a economia tem limitações evidentes: escassez de recursos (trabalho e investimento em capital), produtividade baixa. Melhorias sociais e de infraestrutura devem ajudar a elevar a eficiência nos anos por vir. Mas pouco. A gente precisa mexer em muita coisa, fazer "reformas" (que não são apenas a da receita "liberal"), a fim de acelerar o crescimento de modo duradouro. Isso não é apenas lenga-lenga, apesar da chatice cediça.
 
Isto posto, com ou sem reformas, crescer 3% é, bidu, melhor que 2%. A não ser que o governo e nós assim passemos a achar que "o pior já passou". O pior está sempre à espreita, para dar o bote.
 
Não é uma mensagem perfeita de Ano Bom. Mas é o que dá para fazer.
 
29 de dezembro de 2013
Vinicius Torres Freire, Folha de São Paulo

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