"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 30 de novembro de 2013

ESTADO ASSALTANTE

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Bertolt Brecht – dramaturgo comunista viciado em depositar nos bancos suíços dividendos de direitos autorais que sonegava da RDA – escreveu o seguinte:

“O que é assaltar um banco comparado a fundar um?”.

A pergunta, permissiva, parece atiçar a amoralidade da camarilha vermelha. Mas o justo será respondê-la com outra pergunta:

o que é fundar um banco comparado com a eterna ladroagem patrocinada pelo Estado intervencionista?

A pergunta vem a propósito da visita do ministro da Fazenda do governo petista, Guido “tatibitate” Mantega, ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, para tratar das ações movidas pelos investidores das cadernetas de poupança cujos rendimentos foram espoliados pelos vários “planos econômicos” dos governos Sarney/Collor e oficializados, enquanto esbulho, nas gestões de Itamar/FHC. De passagem, vale lembrar que os planos, todos lesivos, foram bolados na cabeçorra dos governantes de Brasília para combater uma inflação mórbida que eles mesmos criaram.
 
Em retrospecto, diga-se que o calote das cadernetas deveria ter sido quitado há pelo menos 20 anos, mas na prática isso vem sendo postergado de forma marota pelos donos do poder desde o governo FHC (que criou o Proer para favorecer um banqueiro contraparente). Outro dado curioso, considerado um acinte, é que, desde a assunção do PT, os governos de Lula e Dilma tornaram-se aliados da banca nativa, agora declarando abertamente que o resgate da dívida para com os poupadores das cadernetas pode “reduzir a oferta do crédito e prejudicar a expansão da economia nacional”.

No jogo de cena, representado em tom de ópera bufa, os agentes do governo avaliam a dívida dos bancos em R$ 149 bilhões. Mas o Instituto de Defesa do Consumidor e o advogado dos poupadores no julgamento do STF, Luiz Fernando Pereira, garantem que tudo não passa de uma mentira vergonhosa. Segundo Pereira, o “prejuízo” dos bancos não passa de R$ 8 bilhões (cinco dos quais já resgatados), quantia três vezes menor do que o lucro anual de apenas três dos bancos da praça, entre eles o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, a maior gestora da Poupança.

Por sua vez, convém lembrar que a partir da implementação do “Plano Bresser” (era Sarney) até meados de 2008, a banca, depois de repassar às cadernetas uma rentabilidade menor que a inflação, obteve lucro superior a R$ 440 bilhões. “Lucro esse que se deu em detrimento dos poupadores” – acentua o advogado.

Diante do julgamento do STF, agora protelado para 2014, cresce a expectativa. Como o governo é, por força da ação do fisco, sócio dos banqueiros, e só quer compartilhar dos lucros, Mantega e o presidente do Bacen, Alexandre Tombini, pressionam para que o STF oficialize o calote, passando o rolo compressor por cima dos poupadores. Na refrega, enviaram até abaixo-assinado de ex-ministros da Fazenda e meia dúzia de vestais da tecnocracia financeira em favor da banca.
 
- “Se o julgamento for favorável aos poupadores, isso vai significar uma perda no capital dos bancos e a redução de um quarto no capital do sistema financeiro nacional, com impacto para a concessão de crédito de R$ 1 trilhão” – diz um agente do BC, Isaac Ferreira, com o propósito de aterrorizar os ministros do Supremo.
E sem mencionar que é a partir da manutenção do crédito fácil (e irresponsável) que Dilma aposta suas fichas para manter-se no poder.

De fato, quem fomentou a inflação e manipulou os indexadores das cadernetas foi (é) o governo, com suas trapaças financeiras. Bem medido, faz tempo que os banqueiros deixaram de mandar na economia do mundo: eles hoje não passam de bonecos nas mãos dos donos do poder político e por eles são tratados com reservas, em particular quando se aproximam as eleições.
Em tais ocasiões, os políticos que mantêm o poder manobram os bancos de tacape em punho e riso irônico na boca.
   
(Ademais, comunistas, socialistas e social-democratas sempre transaram bem com a banca: Lenin, por exemplo, pedia dinheiro emprestado aos banqueiros americanos e europeus e os pagava, com juros altos, na data aprazada. O próprio Fidel, mesmo com o pé na cova, segundo a “Forbes” mantém conta bilionária em banco suíço, assim como, segundo a revista, o vosso Lula).
    
Em suma: muita gente acha que em 2014 a justiça será favorável aos poupadores. Mas o ministro Mantega aposta que o STF não vai prejudicar o setor financeiro nem abalar o crédito oficial.
Como diria o Major Graça, em Vidas Secas, “Gunverno é gunverno!”.

30 de novembro de 2013
Ipojuca Pontes, ex-secretário nacional da Cultura, é cineasta, destacado documentarista do cinema nacional, jornalista, escritor, cronista e um dos grandes pensadores brasileiros de todos os tempos.

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