"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

INFLAÇÃO INDIGESTA

Batalha contra a alta de preços está longe do fim, e crescimento deve demorar a deslanchar; é preciso rever o modelo e incentivar produção

 

 
 
O experimentalismo econômico do governo trouxe uma conta indigesta. Menor controle de gastos, aumento desmedido de crédito público e intervencionismo setorial excessivo não levaram à aceleração do crescimento. Ao contrário, minaram a confiança de investidores e consumidores e, até aqui, resultaram em mais inflação.
 
O último relatório do Banco Central reforçou a impressão de que a batalha contra a alta de preços está longe do fim e de que o crescimento demorará a deslanchar.
 
Nas projeções do BC, a inflação permanecerá pouco abaixo de 6% anuais pelo menos até o final de 2014. O principal motivo é a valorização do dólar, que pressiona preços de produtos importados. Estima-se o crescimento do PIB em parcos 2,5% ao ano.
 
O atual cenário remonta a 2009, quando a crise financeira de certa forma legitimou o retorno do ativismo estatal. Então era possível justificar o combate à recessão por meio de maior gasto público.
 
Em 2010, por razões eleitorais, a estratégia foi mantida. O problema brasileiro, contudo, já não era um mercado desaquecido. Com dinheiro público injetado na praça, houve um choque de custos que onera a economia desde então.
 
A presidente Dilma Rousseff reforçou a aposta na maior presença do Estado e manteve a ampliação dos gastos e do financiamento de bancos oficiais. Completou o modelo com intervenção setorial --não raro improvisada e até truculenta-- e tolerância com a inflação. Tratava-se de consolidar os juros baixos como marca de governo.
 
A estratégia, hoje se vê, não rendeu os frutos esperados. O governo parece reconhecer que sua margem de manobra na política econômica é mais estreita e, tardiamente, ensaia corrigir o rumo.
 
A mudança, tímida, começou há alguns meses com o Banco Central, que iniciou um ciclo de alta de juros para conter a inflação. Desde julho a taxa básica (Selic) subiu de 7,25% para 9%, e não se descarta que em breve volte a dois dígitos.
 
Mais recentemente, o governo tenta convencer a sociedade de que atuará de forma mais previsível e responsável, sobretudo na gestão do orçamento e do crédito público. Algumas medidas de incentivo ao consumo, como cortes de IPI, também estão sendo revertidas. As concessões, se saírem, comporão o quadro de otimismo.
 
Se confirmada, a nova orientação representará uma boa notícia. À luz dos desafios dos próximos anos, contudo, é preciso muito mais que modificações pontuais.
 
É necessário reorientar a economia brasileira no sentido da retomada dos investimentos e da produção. A agenda interna é de corte de custos e revisão do modelo que até agora privilegiou consumo e carga tributária sempre crescentes.
 
O desafio dessa transição não é pequeno. Demanda liderança política e competência de gestão --atributos escassos no atual governo.
 
02 de outubro de 2013
Editorial Folha de São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário