"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

EXPULSARAM DONA MARINA, MASSACRARAM A DEMOCRACIA. MAS ELA NÃO PODE DESISTIR DA LUTA


Ontem, às 7 horas da noite, sentado diante da televisão, eu era um homem dividido e atormentado. O jornalista bem informado lembrava o comportamento desse mesmo TSE, no registro desprezível do PSD de Kassab, do Pros de ninguém e do Solidariedade do Paulinho da Força.
 
Mas confiante na mente, na alma e no coração do ser humano, eu esperava, aguardava, acreditava. Em quê? Não antevia de jeito algum aquele 6 a 1 desmoralizante, resistia à descrença, dizia para mim mesmo que ainda era possível um 4 a3, quem sabe a favor do registro do partido de Dona Marina.
 
Quando a relatora disse: “Cabia ao partido que pedia o registro autenticar as assinaturas”, e que isso não era obrigação deles, fiquei assombrado. A relatora considerava que os cartórios estavam acima da lei, perdão, eles representavam a própria lei. Perguntei então para mim mesmo, lógico, sem resposta: “Essa relatora não tem família? O que dirá quando chegar em casa?”.
 
Como a vida é cheia de lembranças, de reminiscências de fatos que aconteceram, enquanto esperava, retrocedia para 1966, 47 anos atrás. Candidato a deputado pelo MDB da resistência (havia o MDB da subserviência, de Chagas Freitas e Miro Teixeira, este ao lado de Dona Marina, todos os dias).
 
O general Golbery levou o ano todo procurando amigos do repórter com a proposta indecente: “Se o jornalista desistir da candidatura, não será cassado”. Eu respondia com uma pergunta. Não a ele, claro, mas aos amigos preocupados :
“O que vou dizer à minha família?”.
Resisti o ano todo, só fui cassado no dia 12 de novembro, a eleição seria no dia 15. Mario Martins, candidato a senador, eleito e logo cassado, telefonou pedindo que eu encerrasse o comício do dia seguinte na PUC. Encerrei, claro, com um discurso violentíssimo.
 
O TSE VAI SE DISSOLVER?
 
Quando o resultado ficou em 4 a 0 contra o registro e nenhum dos três ministros votara, pensei numa solução heroica, válida,legitima, constitucional: os três votariam pelo registro e fariam a sugestão de conceder um prazo de 30 ou 60 dias, para que Dona Marina fizesse o que a relatora falara: “Referendar as assinaturas”, 92 ou 98 mil, que os cartórios vetaram, não precisavam explicar coisa alguma, eles estão isentos dessas “motivações tolas”. Faltavam 48 mil assinaturas, nos cartórios, 98 mil INTOCADAS.
 
Não houve nenhuma palavra sobre isso, ficou em 5 a 0. Gilmar Mendes foi o único a tirar do placar esse zero deprimente. Não é segredo que tenho criticado muito Gilmar Mendes, mas na participação de ontem, só merece aplausos. Primeiro, retumbou: “O que está acontecendo aqui é VERGONHOSO”. E não recorreu ao lugar comum, “data vênia”.
 
Depois, com as duas mãos cobrindo o rosto, apelou para o vulgar, que no caso não vou nem criticar: “O que estão decidindo é de FAZER CORAR UM FRADE DE PEDRA”. Bom ator, Gilmar foi se exaltando, elevando a voz, quase gritando, depois, enlevado, baixava o tom sem diminuir a violência da crítica.
 
Nem adianta examinar o conteúdo (conteúdo?) dos seis votos que liquidaram o 33º partido, decidiram que deveriam terminar o julgamento em odor de santidade, ao contrário das três outras vezes, quando não se incomodavam e até se exibiam da forma mais enganadora, mistificadora, fraudulenta.
 
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PS – Agora me dirigindo a Dona Marina, a quem recorro pela primeira vez na vida. A resistência não termina por causa de uma derrota programada, planejada, pressentida. Mesmo sem a Rede, tem que ser candidata.
 
PS2 – Se não queriam que você fosse candidata, para que não interferisse no resultado e tudo se resolvesse no primeiro turno, não faça o jogo deles, se filie a outro partido. Dispute, faça campanha sem raiva mas com disposição ainda maior. Marina, quer derrota mais gloriosa do que a de ontem, com poderes e poderosos se voltando contra você?
 
PS3 – São 10 horas da manhã. Espero que ainda hoje, a qualquer momento, volte para comentar a tua entrada em outro partido, sinal de que você continua na luta.
 
PS4 – Em 1937, Geraldo Rocha, dono do jornal “A Noite”, por causa de uma conspiração interna, perdeu o órgão (o que já acontecera com Irineu Marinho, em 1925).
 
PS5 – Vargas chamou o jornalista, disse: “Na hora da borrasca não se muda o timoneiro, funde outro jornal”. Geraldo Rocha concordou, fundou “A Nota” (pegado ao Teatro Municipal), não desistiu.
 
PS6 – Não desista, marina. Resistência é palavra de têmpera divina, poucos, muito poucos, podem pronunciá-la, exibi-la, gritá-la pela ruas.

04 de outubro de 2013
Helio Fernandes

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