"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O MÍNIMO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A FOLHA DE S.PAULO: ENTREVISTA E NOTAS SOBRE "CRUZADAS ANTI-IDIOTAS"

           
          Media Watch - Folha de S. Paulo 

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Minha entrevista para a Folha de S. Paulo está colada abaixo - mas primeiro algumas considerações sobre este trecho da matéria publicada no domingo, com o título "Cruzada anti-idiotas":
"(...) Felipe Moura Brasil foi responsável pela seleção do material. 'E agora o reparto com você, leitor, na esperança de que também se afaste da condição de bichinho e se eleve à altura dos anjos', escreve o jornalista na empolgada apresentação do volume. (...)"

Eu me empolgo, na verdade, é lendo a Folha de S. Paulo. O repórter Marco Rodrigo Almeida cita esta minha frase sem dizer que ela alude a um trecho da obra de Olavo de Carvalho [sobre o impulso fundamental para o conhecimento] citado logo antes na minha apresentação de '
O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota', como vocês aí que leram sabem bem. Omitindo isso e o senso de humor que permeia todo o texto, fica parecendo, é claro, uma pura "empolgação" juvenil de devoto deslumbrado - imagem tradicionalmente lançada pelos invejosos sobre qualquer admirador do maior filósofo brasileiro, ainda que este admirador explique seus motivos no instante mesmo em que apresenta o calhamaço de 616 páginas que organizou para prová-los somente em parte.

Empolgação, a rigor, é dizer que o livro "dispara contra políticos e intelectuais (...), artistas, o MST, o movimento gay e as recentes manifestações no país", quando o conteúdo do livro foi fechado antes do início dessas manifestações, de modo que não há - nem poderia haver - uma linha sequer a respeito. Na típica ânsia de retratar Olavo como uma metralhadora giratória, o repórter sim se empolgou e, não tendo lido nem sequer o mínimo do "mínimo", acrescentou um alvo que só é mencionado na entrevista que o autor agora lhe concedeu e, notadamente, em função de sua própria pergunta.

Eu sei que devo estar exigindo demais de um jornalista da Folha, que, ademais, já levou "seu quinhão de farpas" do Olavo pelas suas "parcas linhas", segundo ele mesmo afirmou - talvez sem ainda acreditar em como conseguiu estar tão errado escrevendo tão pouco (e olha que os
dois trechos mais constrangedores foram vetados, hein). Mas o que posso fazer se o sr. Almeida consegue errar mais um pouquinho? O que posso fazer se ele confunde o conteúdo do livro com o da entrevista, as correções de um professor com farpas, o convite ao conhecimento com empolgação? O que posso fazer senão a pergunta: será, afinal, tão difícil assim colocar-se no papel de aprendiz diante de alguém mais sábio e, senão compartilhar, ao menos respeitar a admiração de seus discípulos?

Não tenho esperanças de que o sr. Almeida chegue à altura dos anjos, mas, se ele passar da de seus editores na Folha, estou certo de que já terá valido a pena.


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Segue a entrevista que lhe concedi por e-mail, e que não foi publicada no domingo, quero crer, porque a do autor era naturalmente mais importante e já ocupava muito espaço - e não porque seriam "farpas" demais para o sr. Almeida e a Folha engolirem de uma vez só:
1) Como e quando você conheceu o Olavo?

Eu nunca conheci o Olavo pessoalmente. Conheci, como leitor, seus artigos de jornal quando ele ainda escrevia no Globo e alguns anos depois me aprofundei nos estudos de sua vasta obra filosófica, lendo todos os seus livros e apostilas, bem como virando aluno de seu curso online: o Seminário de Filosofia. Em 2010, o editor do site Mídia Sem Máscara, criado pelo Olavo, Edson Camargo - que tampouco conheço pessoalmente - passou a publicar meus artigos, de modo que me tornei colaborador frequente; mas a primeira vez que o Olavo falou de mim foi em 2012, quando leu, elogiou e comentou em seu programa virtual de rádio True Outspeak o meu “Soneto do estudante sério”, o qual lhe dediquei. Meses depois, somente após apresentar o projeto do livro ao editor-executivo da Record, Carlos Andreazza, e receber “carta branca” para procurar o Olavo, é que fui trocar e-mail diretamente com ele, que adorou de imediato o formato e não colocou freio algum para que eu o desenvolvesse.

2) Por que teve [a] ideia de organizar esse livro?

O maior problema do Brasil é a confusão mental. Enquanto este não for minimamente resolvido, não há qualquer possibilidade de resolver todos os outros. E nenhum outro intelectual brasileiro tem uma obra tão extraordinariamente educativa quanto a do Olavo de Carvalho. Quanto mais eu a estudava, para muito além da caricatura que seus adversários fazem dela sem conhecê-la, e sem jamais refutá-la, mais eu sentia a necessidade de mostrá-la aos amigos, leitores e brasileiros em geral. A disparidade de nível de consciência entre as pessoas do meu meio intelectual - na internet e nos livros – e as do meu meio social imediato – no Rio de Janeiro – me obrigava a isso. Era urgente tornar aquela obra mais acessível e atraente ao leitor comum, para falar diretamente ao coração dele sobre temas fundamentais como juventude, conhecimento, vocação, cultura, pobreza, fingimento, inveja, educação, discussão, linguagem, bem como informá-lo, com todas as devidas provas e referências, das forças políticas, intelectuais e jornalísticas que o manipulam. O resultado, como disse o Olavo, foi “uma descrição e uma interpretação da experiência mental brasileira no panorama do mundo”, ou “uma fenomenologia das transformações ocorridas no Brasil nos últimos quarenta anos”. Vale registrar que o livro condensa apenas a terça parte de sua obra, que é a de crítica cultural, sendo as outras duas as de história da filosofia e de produção filosófica propriamente dita.

3) Você acha que o pensamento conservador tem encontrado mais espaço na sociedade brasileira?

A sociedade brasileira é conservadora, como esta mesma Folha já informou aos seus leitores diversas vezes, ainda que de maneira atenuada, como por exemplo na reportagem “Tendência conservadora é forte no país, diz Datafolha”, de 25/12/2012, disponível neste
link. As pesquisas sempre comprovam isso, e nosso livro tem inclusive uma seção intitulada “Povo & representação” que trata justamente desse assunto, trazendo ainda mais dados a respeito. O “pensamento conservador” não precisa encontrar espaço no tecido da sociedade brasileira, porque ele já é o pensamento da sua própria população. Quem precisou não encontrar, mas “ocupar espaços”, na expressão do ideólogo comunista Antonio Gramsci, foi justamente o “pensamento progressista”, que ocupou a mídia, as escolas, as universidades, o mercado editorial, o show business, seguindo a estratégia bem-sucedida de tomada do poder político através da “revolução cultural” gramsciana, denunciada por Olavo de Carvalho desde o seu livro 'A nova era e a revolução cultural', de 1994. A população não sabe que a quase totalidade do “pensamento” que aparece nos meios de comunicação, como entre os colunistas desta mesma Folha, à exceção de João Pereira Coutinho, é “progressista”. O pensamento progressista virou o pensamento puro e simples, a coisa normal, enquanto o “pensamento conservador”, que é o do povo, precisa ser rotulado como tal, normalmente associado ao atraso, ao retrocesso, ao reacionarismo, quando não ao extremismo. Por que, quando se fala em um filósofo como Olavo de Carvalho, cuja obra vai muito além de qualquer rótulo de viés político, é preciso se falar em “pensamento conservador”, e quando se fala em qualquer colunista progressista, cuja obra não vai além de artigos de jornal, ele é tão somente um intelectual? Essa e outras respostas também estão no nosso livro.

4) Seu texto de introdução é bastante enfático a elogiar Olavo de Carvalho. O que esse contato com ele representou para você?

O contato com a obra do Olavo me trouxe a descrição exata da realidade ao meu redor, da mentalidade das pessoas, da atmosfera de fingimento e enganação que eu sentia no dia a dia, da cultura decadente do meu país, dos métodos de manipulação da linguagem e da consciência empregados por aqui, de tudo enfim que era importante saber para levar uma vida inteligente no Brasil, recuperando o seu sentido mais elevado. Não existe melhor antídoto contra o provincianismo mental brasileiro do que ler Olavo de Carvalho. E é uma honra imensa vê-lo felicíssimo com o resultado dos meus esforços. Olavo disse que nem podia ficar falando muito de mim, senão os outros iam pensar que ele estava rezando para “São Felipe Moura Brasil”... Eu dei gargalhadas emocionadas. Ele é assim: de uma generosidade e de um senso de humor que seus difamadores não são sequer capazes de conceber.

5) Sei que o título do livro inclui um tanto de provocação, até mesmo para atrair o leitor. Mas não seria, digamos assim, antifilosófico atribuir que [quem] não compartilha um tipo de pensamento é um idiota?

“Antifilosófico” é pressupor que chamamos de idiota quem não compartilha o tipo de pensamento exposto em algumas partes do livro. Não é a divergência de opinião que faz um idiota. É a absoluta ignorância de certos conhecimentos, informações, fatos e análises lógicas, sem os quais o sujeito se torna presa fácil aos manipuladores mais espertos: um “idiota útil”, como Lênin se referia a seus colaboradores inconscientes. As pessoas que ficam cheias de “mimimi” com o título - que já é um fenômeno de vendas - normalmente não sabem sequer o significado da palavra idiota, e tomam isso como um xingamento qualquer. Citando Olavo: “Em grego, ‘idios’ quer dizer o mesmo. ‘Idiotes’, de onde veio o nosso termo idiota, é o sujeito que nada enxerga além dele mesmo, que julga tudo pela sua própria pequenez.” O livro é um convite para enxergar além de si mesmo, além da mídia, além de toda uma cultura ambiente fabricada para formar idiotas. Como posso aliás não chamar de idiotas aquelas pessoas que, contaminadas pela demonização do “pensamento conservador”, acreditam mesmo que o “pensamento” que recebem prontos da TV e dos jornais é tão lindamente puro quanto o coração da Virgem Maria?


* Leia também a
matéria do Diário do Comércio sobre o livro [reproduzida no Mídia Sem Máscara], com mais uma entrevista imperdível concedida por Olavo de Carvalho.


* Até Rodrigo Constantino, que teve muitas desavenças com o autor, recomenda "O mínimo" no site da revista Veja: "Não seja idiota: leia o livro de Olavo de Carvalho".

11 de setembro de 2013
Felipe Moura Brasil

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