"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 1 de setembro de 2013

A FILOSOFIA CONDENADA AOS PALAVRÕES


 

Eu hoje decidi escrever como quem faz uma confissão – a minha confissão! Eu tenho, às vezes, encontrado coisas escritas na internet (no meu blog ou no grupo do Facebook) cujo nível moral é capaz de constranger até uma dessas prostitutas de calçada. Sabem quem andou escrevendo essas baixarias? Eu! Isso mesmo, meus amigos... Eu...

A questão aqui nesse pequeno artigo não vai ser nem uma “crise de culpa” nem uma apologia do “baixo nível”. Vamos ver se consigo escrever algo sobre a questão da filosofia e da linguagem que ela (ou pelo menos eu quando “me meto” à filósofo) vem utilizando na tentativa de fazer as pessoas pensarem.

Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer o seguinte: tivesse eu algum treinamento formal em filosofia e história talvez pudesse (assim quero crer) ser mais preciso na minha capacidade de expor o que penso sem ter necessidade alguma de apelar para baixaria. Eu não acredito na originalidade de uma filosofia feita “a pontapés”...

Mas sinto muito ter que dizer uma coisa a todos vocês – acredito menos ainda num pensamento original e numa verdadeira razão crítica que não compartilhem do conceito de “choque”. Sobre choque, não vou me alongar aqui. A palavra tem hoje um significado tão “amplo” que, como todas as palavras assim, não quer dizer rigorosamente mais nada.

Não interessa se vou me referir aqui a uma descarga elétrica, a um trauma, ou a um déficit de oxigênio para uma célula. Não quero saber se isso diz respeito a uma  medida política ou a um plano econômico! Eu aqui vou ficar com a ideia de “colisão” e uso ela para afirmar o seguinte: a filosofia nasceu do choque entre aquilo que nós “acreditamos que o mundo seja” e aquilo que ele é.

Ela se torna mais possível ainda quando colidem nossas ideias a respeito de como esse mundo “poderia ser” e aquilo que ele se tornou. Em outras palavras – basta a nossa razão se debruçar sobre um determinado objeto para daí nascer o “choque”... para daí mesmo surgir a própria possibilidade da filosofia. Acho que é nessa parte do texto que devo escrever que é impossível fazer filosofia sem estar disposto a “chocar-se”... Bom... então já escrevi. Agora vamos adiante:
 
Uma vez isto estabelecido como verdade, nasce uma segunda questão. Qual o tipo e a intensidade do “choque” que alguém deve submeter-se hoje em dia para filosofar com originalidade.

Afirmo o seguinte -  o tipo e a intensidade devem ser aqueles necessários ao recolhimento, a desconexão com um mundo pronto que nos oferece uma realidade pré-determinada e destinada a oferecer uma experiência de “conhecimento verdadeiro; mas sem choques”.

Imagino, já que comecei o texto falando sobre “baixo -nível” que seja algo como uma mulher ter uma verdadeira relação sexual e permanecer virgem..Desculpem, mas não me ocorre analogia mais decente..

A terceira questão – e talvez a mais importante delas – é a seguinte: ainda há algo capaz de nos chocar? Não estamos todos nos sentindo como que adormecidos? Cada notícia terrível não é uma “espécie de cirurgia ]diferente... mas com uma misteriosa anestesia continua da qual nunca acordamos? 

Afirmo, e já fiz isso antes, que sofremos de uma “patologia do tempo”. Vivemos um eterno presente em que não há tempo para choques, para o recolhimento e nem mesmo mais para o verdadeiro sofrimento. Recentemente, Olavo de Carvalho utilizou-se de uma expressão chamada, se não me engano, “paradoxo cognitivo” -  uma situação de conflito moral causado pelo choque contínuo entre aquilo que nos mostram como sendo imoral e mesmo deplorável e aquilo que querem que seja nossa conduta. Embora não tenha mencionado a impossibilidade da simples existência da filosofia nessa condição acredito que essa desgraça é evidente.

Talvez um dia eu saiba mais filosofia... Talvez possa parar de escrever palavrões buscando chocar as pessoas para atrair sua atenção e talvez – somente talvez – pudesse um dia ocorrer o inverso. Quem sabe pudesse aumentar a sensibilidade do cidadão mediano a ponto de a frequência e a intensidade dos choques se tornarem cada menos necessários...

Quem sabe a filosofia  possa finalmente voltar a ser uma linguagem de amor, de compaixão e de busca eterna pela verdade onde a época de filósofos condenados a dizer palavrões tenha ficado para trás e não volte nunca mais...

Puta que pariu, acho que ainda vai levar muito tempo, porra!
 
01 de setembro de 2013
Milton Simon Pires é Médico.

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