"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

IMPUNIDADE DE SÉRGIO MACHADO MOSTRA QUE TAMBÉM HÁ BRECHAS NA LAVA JATO

Casa do Sérgio Machado
Casa de Machado ocupa meio quarteirão nas Dunas
Mais de um ano depois da homologação de um acordo de delação premiada que tem lhe garantido o direito de não passar nem um dia sequer na cadeia, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado vive como se estivesse numa prisão domiciliar de luxo. Machado, ex-senador, que confessou ter desviado ao menos R$ 100 milhões para aliados políticos, atualmente passa a maior parte do tempo recluso em casa com piscina, quadra, extensos jardins no alto de uma colina com vista para o mar azul da Praia do Futuro.
A residência toma meio quarteirão no Bairro de Dunas, um dos mais nobres e caros de Fortaleza, onde também moram expoentes do mundo empresarial e político do Ceará como o ex-governador e senador Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB e ex-aliado de Machado.
ESTÁ LIVRE – Machado não sofre qualquer restrição legal. Formalmente, é um homem livre. O acordo de delação negociado com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) tem uma cláusula que lhe facultava a opção de cumprir antecipadamente a pena, já que os processos referentes à Transpetro ainda não foram julgados. Recentemente, a eficácia do acordo foi questionada pela Polícia Federal.
Alegando razões de “foro íntimo”, Machado optou por não antecipar a pena. Aos raros interlocutores, o ex-presidente da Transpetro diz estar se sentindo ameaçado porque acusou “políticos profissionais dispostos a qualquer coisa para se salvar”. A um amigo, o ex-senador, que tem 70 anos, afirmou que está preparado “para passar o resto” dos seus dias “por conta desta luta”. Quando comenta sua situação, reclama que “é como se a prisão domiciliar já tivesse começado”.
PRISÃO DOMICILIAR? – Pelo acordo, Machado vai cumprir três anos de prisão domiciliar seja qual for o resultado dos inquéritos nos quais está envolvido. Cumpridos dois anos e três meses, passará para o regime semiaberto diferenciado. Ele pode ser condenado a no máximo 20 anos de reclusão, mas se as penas ultrapassarem os três anos serão automaticamente convertidas na punição alternativa.
Temendo retaliações, Machado passa a maior parte do tempo na casa de Dunas que teve a segurança reforçada. Pelo menos três camadas de segurança protegem Machado. A primeira formada pelos vigias do bairro. Como na maioria das áreas ricas das grandes cidades, as ruas de Dunas são praticamente desertas. Apenas carrões e as motos de seguranças circulam pela região. Existem relatos de equipes de reportagem abordadas e intimidadas pelos vigias.
Além disso a casa tem uma equipe de ao menos oito seguranças fortemente armados e equipados com coletes à prova de balas que ficam no interior da residência. Na semana passada, a reportagem do Estado esteve no local sem avisar e foi atendida por um deles, que disse gentilmente: “O doutor Sérgio não está. Deu uma saidinha”.
NA ACADEMIA – Machado tem ainda uma equipe de guarda-costas que o acompanha nas cada vez mais raras aparições públicas e impede qualquer pessoa de chegar perto do ex-presidente da Transpetro.
Mas não evita situações embaraçosas. Ele foi hostilizado em uma visita ao Shopping Del Passeo e na academia onde se exercitava sob a orientação do bicampeão mundial de vôlei de praia Roberto Lopes foi chamado de ladrão. Outros frequentadores chegaram a procurar a direção da academia para reclamar. Machado parou de frequentar o local.
Amigos e ex-aliados viraram a cara para o ex-senador e ex-candidato ao governo do Ceará. No PMDB local, partido ao qual era filiado, é visto como inimigo. Machado e sua família também viraram alvo de boatos e fofocas. Na capital cearense alguns juram tê-lo visto com tornozeleira eletrônica, o que não é verdade.
NO EXTERIOR – Segundo fontes da alta sociedade de Fortaleza, os quatro filhos de Machado se mudaram para o exterior. Dois moram em Nova York, um em Londres e Serginho, que rompeu com o pai depois do escândalo, estaria morando no megacondomínio Saint Regis, em Miami, onde o ex-jogador Ronaldo Fenômeno e o apresentador Fausto Silva têm apartamentos.
Gente do entorno de Machado nega e diz que os boatos foram alimentados pela família por questões de segurança. Segundo pessoas próximas, hoje o ex-senador se limita a ir às missas de domingo na Igreja Nossa Senhora de Fátima, também em Dunas, onde costuma se aconselhar com o padre Edcarlos Isaías de Souza, e visitar a mãe, dona Deisy, de 90 anos.
Na casa das Dunas – alugada – Machado vive entre leituras e escritos ao lado da mulher, seguranças e cinco empregados, entre eles um garçom. Mas não deixa de reclamar. “Esta casa tem aparência antiga e muros altos, inclusive do lado de dentro”, disse ele a um amigo.
GRAVAÇÕES –  Na delação, o ex-presidente da Transpetro diz ter desviado R$ 100 milhões para mais de 20 políticos de diversas legendas e envolve diretamente o presidente Michel Temer, que nega irregularidades. Mas o político cearense ficou famoso pelas gravações secretas que fez com políticos graúdos com os quais tinha intimidade, como o ex-presidente José Sarney e os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR), em uma espécie de antecipação do método que seria usado por Joesley Batista, dono da JBS.
Em uma delas Jucá diz a frase: “Tem que mudar o governo para poder estancar essa sangria”. Além das delações, Machado se comprometeu a devolver R$ 75 milhões dos quais, segundo ele tem dito a pessoas próximas, ainda faltam R$ 20 milhões.
Em relatório de inquérito que investiga Jucá, Sarney e Renan por obstrução da Justiça, a delegada da PF Graziela Machado da Costa e Silva pede a revogação dos benefícios concedidos ao ex-presidente da Transpetro. Machado diz aguardar com “tranquilidade” a manifestação da PGR sobre o documento da PF. Ele tem dito perceber “forte atuação” dos políticos investigados na repercussão do caso e estranhar que outros arquivamentos feitos pela PF não tenham tido o mesmo destaque.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – A matéria tem alguns erros de informação. Machado não desviou “pelo menos R$ 100 milhões”. Este total é apenas aperitivo. Ele desviou muito mais, porque acertou devolver R$ 75 milhões do total que embolsou com os filhos, sem relação ao que foi distribuído aos caciques do PMDB. O jornal inglês The Guardian publicou que um dos filhos de Machado investiu R$ 100 milhões em quatro propriedades de luxo no Reino Unidos. Ele rompeu o acordo com a Procuradoria, por isso não usa tornozeleira e vive como se fosse um homem livre, e realmente é. O repórter acreditou mesmo que a casa é “alugada”??? No meio de tanta mentira, a única verdade é que o acordo de delação de Machado é uma vergonha nacional. (C.N.)


07 de agosto de 2017
Ricardo Galhardo
Estadão

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