"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

A ILUSÃO DO CRESCIMENTO PELO AUMENTO DO CONSUMO

Desde 2009, a economia norte-americana cresce anualmente a um ritmo entre 1.5% e os 3%, bastante mais que a Zona Euro. Nas épocas festivas é esperado que o PIB cresça mais. Na Páscoa esse desempenho será mais percetível na Europa, enquanto que no dia de “Ação de Graças” (Thanksgiving), na última quinta-feira de novembro, o PIB dos EUA sai mais beneficiado. O Natal é transversal, grosso modo, a todas economias mundiais. Depois existem as festas localizadas: o novo ano lunar chinês, o carnaval brasileiro, visita do Papa a Portugal em maio…

Por que é que as economias tendem a crescer mais nas épocas festivas, como é o caso da Páscoa? Obviamente, devido ao aumento do consumo que é uma das variáveis utilizadas para medir o Produto Interno Bruto (PIB = Consumo + Investimento + Gastos Públicos + Exportações – Importações traduzido na equação PIB=C+I+G+(X-M)).

Porém, não é correto inferir aqui qualquer causalidade. PIB=C+I+G+(X-M) é uma identidade, não é nenhuma função. Uma função pressupõe uma relação, mas não existe relação causal entre criação de riqueza e consumo. Cria-se riqueza com base em investimento espelhado na interação do trabalho com bens de capital. Podemos criar riqueza só com trabalho, mas será residual comparada com a riqueza que pode ser gerada com a conjunção de trabalho e capital. A riqueza é função do investimento e da poupança que suporta o investimento (PIB=f(Investimento)).

Em suma, a medida do PIB é apenas contábil, e o consumo é o resultado final de qualquer sociedade, e não a causalidade da riqueza. Um incêndio ou uma guerra gera mais consumo na reconstrução de casas, por exemplo. Aumenta o PIB, mas no final o património da nação permanece o mesmo, ou seja, não houve criação de riqueza.

O multiplicador keynesiano parte do princípio que um euro gasto terá sempre como retorno um valor igual ou superior a 1 euro. O multiplicador, neste caso do consumo, é traduzido pela fração [1/(1-c)], indica que a riqueza produzida seria infinita se o consumo também o fosse, o que não teria lógica económica.

Na pré-história só existia consumo através de atividades recolectora e de caça. Com o aparecimento de utensílios e a descoberta da roda temos o primeiro desemprego em massa, e são libertados recursos humanos para criação de mais riqueza, bem-estar, progresso civilizacional. Só o investimento cria riqueza. E de modo análogo, podemos inferir que no futuro longínquo, quando forem construídos bens que, por absurdo, não tenham desgaste e sejam eternos, não haveria mais consumo… E, obviamente, seria o investimento que estaria na origem desse hipotético estágio avançado, e final, da economia.

Então o consumo nesta época festiva da Páscoa não é benéfico para as economias e para as empresas? Claro que é bastante positivo para algumas empresas, nomeadamente as retalhistas, restauração, turismo… Os lucros serão maiores e poder-se-ão repercutir em subidas nas cotações. Mas estamos a falar de uma fase final do consumo. O investimento que é feito “ex-ante” tem como objetivo uma vida melhor refletida em mais bens e de melhor qualidade. O investimento cria riqueza para vivermos melhor. O investimento é a causa do consumo. O consumo é a consequência, e o objetivo, do investimento.

Segundo o Paradoxo da Poupança, princípio proposto pela primeira vez por John Maynard Keynes, a tentativa de uma determinada sociedade para aumentar a poupança pode resultar na redução do montante que é poupado. Por exemplo, numa situação de recessão ou de estagnação económica, se a população aumentar a sua taxa de poupança, isso irá contribuir para o agravamento da retração do consumo, da produção e do emprego e, consequentemente da poupança.

Por que há então crises económicas com aumento da poupança monetária e a liquidação de processos de produção? Porque tal é uma consequência e não uma causa. Uma consequência das políticas expansionistas dos bancos centrais que enviesam o investimento, a poupança e o consumo, como Friedrich Hayek demonstra nos seus triângulos que medem a riqueza produzida, através dos vários estágios de produção. Esta, na realidade, uma boa forma de calcular o PIB. A poupança real diminui devido à política do Banco Central através da redução das taxas de juro… o que não aconteceria caso as taxas de juro fossem encontradas no mercado entre quem poupa e adia o consumo e quem antecipa o seu consumo e não tem dinheiro suficiente para o fazer. Em síntese final, a minha poupança não é a tua perda por não venderes mais produtos. A minha poupança é o teu aumento de rendimento por teres dinheiro para investir devido ao aforro.

O investimento em Portugal é baixo em relação ao consumo, e essa é uma das causas para os crescimentos anémicos que temos tido.


19 de abril de 2017
Paulo Rosa, jornal semanário “Vida Económica” (13 de abril 2017) - Mises

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