Charge do Simanca, reprodução de A Tar |
As esferas coloridas retratando Luiz Inácio Lula da Silva como o centro de um grande Sistema Solar da corrupção e a insistência em introduzir no léxico o termo “propinocracia” são próprias do histrionismo que às vezes acomete a Lava Jato, mas não há dúvida de que a carga sobre o ex-presidente acaba de mudar de patamar. Lula não seria simplesmente beneficiário de um tríplex em Guarujá ou de reformas num sítio em Atibaia, acusações que já causavam embaraço político por serem simbólicas.
IMAGEM RUIM – São suspeitas, afinal, que desconstroem décadas de imagem do petista como alguém que mudou sem mudar de lado, como seu partido gosta de dizer. Ou seja, que muda de opinião e amadurece, mas sem jamais deixar de optar pela defesa dos trabalhadores contra os grandes empresários.
A Lava Jato está indo além. Está tentando contar uma história com começo, meio e fim. Uma “narrativa”, como virou moda dizer, ironicamente, entre os petistas. Lula não seria apenas o beneficiário de mimos de amigos empreiteiros, mas o comandante, o general, o maestro – todos termos usados pelo procurador Deltan Dallagnol em sua longa exposição – de um esquema durante anos, que se manifestou primeiro no mensalão e agora no petrolão.
ESQUEMA DE CORRUPÇÃO – Lula intermediaria a obtenção de contratos públicos para a OAS, e provavelmente outras empresas, para que desses valores parte fosse extraída como propina e financiamento ilegal para aliados no PT e em outros partidos. O objetivo final seria a construção de uma maioria política que permitisse a perpetuação do esquema no poder.
O ex-presidente, obviamente, vê a coisa toda de forma diferente. Os acordos políticos, para ele, são legítimos numa democracia, e não diferentes do que outros governos sempre fizeram. O famoso tríplex nunca foi usado ou reservado para ele. Valores recebidos pela OAS foram pagamentos por atividades que estão no portfólio de um ex-presidente preocupado em abrir mercado para uma grande empresa nacional.
LULA SERÁ CANDIDATO? – Fragilizado após o impeachment, as dificuldades de Lula em fazer valer sua versão dos fatos são evidentes. Mas o desgaste político é o menor de seus problemas.
O juiz Sergio Moro costuma levar de seis a sete meses entre receber a denúncia e proferir uma decisão, em geral condenatória. A primeira instância recursal, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, demora em média um ano para dar sua decisão, e não tem por hábito desfazer o que Moro fez. Estamos falando, portanto, na possibilidade concreta de Lula estar condenado em segunda instância no primeiro semestre de 2018.
No mínimo, seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa, impossibilitado de concorrer à Presidência e tentar salvar seu partido e seu nome.
18 de setembro de 2016
Fábio Zanini
Folha
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