Num importante artigo publicado na edição de quarta-feira, 26, de O Globo, Zuenir Ventura rebateu, ao mesmo tempo, a articulação desenvolvida por Nabor Bulhões em torno do manifesto dos advogados contra o juiz Sérgio Moro, e as opiniões emitidas pelos jornalistas Jânio de Freitas (Folha de São Paulo de sábado) e Élio Gaspari (O Globo de domingo), as quais, por coincidência, concordam, em síntese, com as restrições feitas à atuação de Moro. O foco foi o despacho a um pedido formulado por Marcelo Odebrecht.
Entre esses fatos, surge outro, a reportagem de Mário Cesar Carvalho, na Folha de São Paulo de domingo, destacada por mim, em artigo publicado dia 26 neste site, e por Zuenir Ventura no belo artigo, em que culmina lembrando a atuação da figura eterna de Sobral Pinto na advocacia. Mário Cesar Carvalho sustentou que o manifesto dos advogados contra Sérgio Moro foi articulado pelo advogado Nabor Bulhões, que defende Marcelo Odebrecht e obteve, como os fatos atestam, o apoio de mais de uma centena de signatários.
O manifesto, por sinal, foi publicado sob a forma de matéria publicitária nos principais jornais do país. Eles devem ter pago do próprio bolso, não desejo insinuar que a fatura foi assumida pela empresa. Mas este não é o ponto relevante da questão. Afinal, advogados e jornalistas são livres para opinar sobre os temas que desejarem e da forma que quiserem. O Supremo Tribunal Federal, ao julgar a questão das biografias, campanha liderada de fato pelo jornalista Ruy Castro na Folha de São Paulo, derrubou não só as proibições que artistas tentavam impor, mas a censura de modo geral, incluindo a interdição prévia de obras de arte e de história. A história que se escreve no dia a dia.
NA CONTRAMÃO DO TEMPO
E que não tem princípio nem fim, no sentido de tempo, tão eterna quanto a existência humana. A propósito, deve-se sempre lembrar que não existe exemplo, nos dois mil anos da era cristã, de uma obra que tenha sido censurada ou interditada, que, depois, não tenha sido liberada de forma total. A censura, portanto, obscurantista como sempre, está na contramão do tempo, na contramão da cultura, na contramão da vida.
Antes de retornar ao tema Nabor Bulhões, acrescento o que certa vez disse ao meu amigo Ruy Castro: ele, com sua campanha, além de acabar com a censura, conseguiu levar o Supremo Tribunal Federal a condenar a ditadura que dominou o Brasil de 1964 a 1985. Isso porque a censura foi dominante no período. O espetáculo do ballet Bolshoi, na comemoração de seus 200 anos, depois de ter sua transmissão anunciada, não pode ser realizada pela Rede Globo. Significava propaganda comunista. Esse fato tornou-se inacreditável. Mas aconteceu.
Portanto os advogados são absolutamente livres para manifestar suas ideias, da mesma forma que Élio Gaspari e Jânio de Freitas. Pode-se deles discordar, mas nem por isso defender que não se expressem como entenderem. Aliás vale frisar que Gaspari, no Globo, referiu-se ao afastamento de Marcelo Odebrecht do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, criado pela presidência da República, lembrando que se encontra preso em Curitiba. Não se referiu ao recente despacho de Sérgio Moro, objeto da notícia contida no protesto dos advogados.
São, todos esses, fatos que acontecem e felizmente, chegam ao palco da opinião pública, refletindo as controvérsias e os conflitos de todas as sociedades, as quais, graças a Deus, vivem na liberdade e na democracia.
Amém, como terminam as orações.
28 de janeiro de 2016
Pedro do Coutto
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