Num momento político em que o governo e o que resta da base aliada têm se mobilizado para condenar os pedidos de afastamento da presidenta Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer está fugindo da imprensa e só dá entrevista quando não há mesmo alternativa.
Temer é professor de Direito Constitucional, mede sempre as palavras, sai pela tangente, usa metáforas.
Nenhum repórter consegue apanhá-lo com a guarda baixa, dizendo asneiras, como acontece quase diariamente com a presidente Dilma, um verdadeiro fenômeno de comunicação às avessas.
Em função da gravidade da situação atual, as declarações de Temer sempre merecem tradução simultânea. Ele sabe que tem chances concretas de chegar à Presidência e torce pelo enquadramento de Dilma por crime de responsabilidade, que o favorece diretamente, pois se ela for afastada em crime eleitoral, aí Temer também será automaticamente cassado.
Nesta quarta-feira, ele teve de encarar os jornalistas, ao participar de uma homenagem póstuma ao ex-presidente da Câmara, Paes de Andrade, que era seu amigo particular.
TRANQUILIDADE INSTITUCIONAL
Com grande habilidade, Temer minimizou a crise política e o acirramento das divergências entre governo e oposição. “Por mais que muitas vezes se diga há esta ou aquela crise, o fato é que temos uma tranquilidade institucional extraordinária”, disse Temer, num breve discurso na solenidade.
Depois, na inevitável entrevista, o vice-presidente assumiu um tom de conciliação, dizendo que deve ser evitado o enfrentamento entre o governo e a oposição sobre a abertura de processo de impeachment e é preciso unir as forças políticas para melhorar o Brasil.
“Temos que pensar no Brasil, que fazer uma grande unidade nacional, que mais do que nunca é necessário um pensamento conjugado dos vários setores da nacionalidade, portanto, dos vários partidos políticos, para que caminhemos juntos em benefício do Brasil”.
ARTICULAÇÃO POLÍTICA
Temer também reiterou sua permanência na articulação política do governo. “O vice-presidente da República colabora sempre com a articulação política, aliás a sua própria função de eventual substituto, como hoje se deu em face de viagem da presidenta, revela essa necessidade de articulação política permanente”, comentou.
Como se vê, Temer sabe o que faz e o que diz. Já está procedendo exatamente igual ao vice que deu certo, Itamar Franco. Quando assumiu a Presidência substituindo Fernando Collor, em dezembro de 1992, Itamar convocou imediatamente uma reunião com todos os partidos e criou um governo de unidade nacional. Foi a única gestão que realmente deu certo no Brasil desde a ditadura militar.
10 de julho de 2015
Carlos Newton
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