"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 28 de junho de 2015

NOVO DESALENTO

Depois de breve alívio em abril, a apreensão sobre o futuro da economia voltou a aumentar, e o pessimismo não se deve apenas a uma degradação dos indicadores econômicos acima do que se esperava.

Contribuem para o desalento a incapacidade do governo Dilma Rousseff (PT) de apresentar um plano maior e mais duradouro de rearranjo da economia, o renovado isolamento político da presidente e o descompromisso do Congresso com a razão e a responsabilidade.

O total de salários pagos nas maiores metrópoles do país foi, em maio deste ano, 5,7% menor que no mesmo mês de 2014.

Em abril, estimava-se inflação pouco superior a 8% em 2015, cifra que já havia sido em muito revista para cima, dado o choque de preços que o governo tabelou até 2014. Agora, mesmo a projeção do Banco Central alcança os 9%, taxa inédita faz 12 anos.

O BC reiterou ademais sua intenção de conduzir a inflação à meta de 4,5%, tão desprezada nos últimos cinco anos. Trata-se da promessa de elevar ainda mais os juros, por mais tempo.

Quase tão certo quanto o aperto monetário extra é o fracasso parcial do plano de redução do desequilíbrio das contas do governo, o tão falado ajuste fiscal.

Há pouco mais de um mês, os ministros da área econômica apresentaram uma versão menos fantasiosa do Orçamento de 2015, na qual se contava, entretanto, com uma alta irrealista de mais de 5% na arrecadação federal. O mês de maio deu cabo da ilusão. A receita continua a cair, mais de 3%, em relação a 2014. Não será possível alcançar a meta de economia de gastos.

Sabia-se desde o início do ano que o ajuste possível seria modesto, dadas as dificuldades práticas e políticas. Mesmo esse plano, contudo, terá de ser reduzido.

Mais importante, não se vislumbra a apresentação de medidas para cumprir o pacto implícito de que a situação estará sob controle daqui a dois ou três anos -condição para que o estado presente da economia não se deteriore ainda mais.

Como se não fosse o suficiente, a inquietação com o futuro se agrava quando se observa o Congresso -a Câmara, em particular- a ultrapassar os limites de sua irresponsabilidade habitual em matéria de contas públicas, votando outra medida ruinosa para a Previdência.

O desarranjo se intensifica outra vez devido aos escândalos de corrupção pública e privada e ao descrédito do governo Dilma -criticado por dois terços do eleitorado, sitiado pelo PMDB e desacreditado pelo próprio PT, que abertamente condena a política econômica.

Não se sabe de onde a presidente Dilma Rousseff buscará forças para tanto, mas tal maré de problemas apenas poderá ser superada, no médio prazo, caso o governo apresente um plano profundo, ambicioso e pactuado de reformas.


28 de junho de 2015
Folha de SP

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