"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

HISTÓRIAS DE JEQUIÉ, LOMANTO E GETÚLIO

 

by Antonio Gabriel Nássara, desenhista carioca
by Antonio Gabriel Nássara, desenhista carioca
 
Pálido, os olhos tristes e a alma cansada, Getúlio Vargas desceu em Belo Horizonte, na tarde de 12 de agosto de 1954, a convite do solidário governador Juscelino Kubitschek, para inaugurar a siderúrgica Mannesmann. O Rio pegava fogo com o inquérito da Aeronáutica (a “Republica do Galeão”) contra os que tinham tentado matar Lacerda.
 
Liderados pelos comunistas e udenistas, nós estudantes, com lenços amarrados na boca, impedimos que Vargas atravessasse a cidade pela Avenida Afonso Pena, sendo o cortejo presidencial obrigado a seguir pela Avenida Paraná e tomar a Avenida Amazonas até a Cidade Industrial.
 
No palanque, ao lado do governador e dos colegas jornalistas, vi bem suas mãos trêmulas mas a voz forte. Vargas deu seu recado aos inimigos:
– Advirto aos eternos fomentadores da provocação e da desordem que saberei resistir a todas e quaisquer tentativas de perturbação da paz.
 
Da inauguração, Getúlio foi direto para o Palácio das Mangabeiras. Não conseguiu dormir, segundo confessou depois a Juscelino. Depois do café da manhã, antes de voltar para o Rio, de pé, sorrindo discretamente, com seu indefectível charuto, ao lado de JK, Getúlio nos cumprimentou, um a um, e disse algumas palavras aos poucos jornalistas ali presentes.
Eu era o mais novo, fiquei na ponta. Achei sua mão gordinha e fria:
 
by William Jeovah de Medeiros, desenhista paraibano
by William Jeovah de Medeiros, desenhista paraibano
 
– É muito jovem. De que Estado você é?
– Da Bahia, presidente. De Jaguaquara.
– Onde fica?
– Entre Salvador e Ilhéus, perto de Jequié.
Ele parou, pensou um pouco:
– Jequié, Jequié. Conheci o jovem prefeito de lá. Conversamos, me deixou uma boa impressão. É um rapaz de futuro.
– É o Lomanto, presidente.
– Pois é, um rapaz de futuro.
Despediu-se com seu discreto e distante sorriso e a mão gordinha e fria.
 
(*) Excertos das memórias do jornalista Sebastião Nery
 
Interligne 18g
 
Nota deste blogueiro:
Getúlio demonstrou tino político. Antônio Lomanto Jr. (1924), homem político baiano, foi vereador, prefeito, deputado estadual, deputado federal, senador e governador de seu Estado.
 
01 de abril de 2015
José Horta Manzano, in Brasil de longe

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