"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 29 de março de 2015

GUIA PARA OS PERPLEXOS

O leitor tem o direito de estar perplexo com o Brasil.

Enquanto grupo importante de economistas manifesta apoio e otimismo com as medidas fiscais e monetárias do Ministério da Fazenda e do Banco Central, outro grupo argumenta que o aperto fiscal não será suficiente, que o aperto monetário veio tarde diante da alta expectativa de inflação e que falta ainda uma agenda de reformas para retomar o crescimento.

Já empresários de diversos setores expressam descontentamento e revolta com o aumento de impostos em momento de queda das vendas, centrais sindicais mostram indignação diante do corte de direitos trabalhistas e políticos da base governista se unem à oposição e derrotam o governo em questões importantes.

A provável piora da situação econômica pode aumentar ainda mais essa confusão. Por isso, é fundamental buscar clareza.

Um processo concomitante de ajuste fiscal e monetário numa economia em recessão é algo raro na economia mundial. Resulta da política econômica aplicada nos últimos quatro anos, cujos estímulos monetários e fiscais geraram piora da trajetória da dívida pública e aumento da inflação, com queda do nível da atividade chegando agora à recessão.

Nesse quadro, o ajuste é indispensável para restaurar a credibilidade da política fiscal e controlar a inflação, permitindo a retomada da normalidade econômica.

Por outro lado, a carga tributária enfrentada pela população e pelas empresas é excessiva para um país emergente como o Brasil, ainda mais considerando a qualidade dos serviços públicos.

Isso dá razão a queixas de empresários, trabalhadores e políticos de que o governo federal quer cobrar mais impostos, reduzir direitos trabalhistas e cortar recursos a Estados e municípios sem que ele mesmo promova esforço similar com redução da máquina pública, dos ministérios e dos cargos comissionados. Como diz o ditado, em casa onde falta pão, todos reclamam e todos têm razão.

Mas qual é a solução? Ela passa, sem dúvida, por um ajuste fiscal que elimine as incertezas sobre a solvência do país e pelo aumento de juros para controlar a inflação. Passa também pelo que alguns países europeus, especialmente a Espanha, vêm fazendo de forma eficiente para sair da crise: ancorar o ajuste não no aumento de impostos, mas no corte de despesas e em reformas para melhorar a produtividade e o ambiente de negócios.

No Brasil, isso compreende as reformas tributária e trabalhista e um programa que viabilize investimentos maciços em infraestrutura com retornos atrativos ao capital hoje disponível no mundo.

Para fazer isso, é necessário um governo com direção clara, comando firme, liderança política e capacidade de comunicar que existe luz no fim do túnel.


29 de março de 2015
Henrique Meirelles, Folha de SP

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