Proporcionou “a melhor Copa da História fora dos gramados” quem, cara-pálida: o governo ou o povo brasileiro?
Pelo bico da Dilma, que não destravou nem na hora de entregar a taça, ela sabe pelo menos que ela é que não foi.
O que é que a imprensa internacional está festejando, a “organização perfeita” que já começa a ser enfiada na História do Brasil ou a tradicional simpatia do povo brasileiro mais a ausência do desastre anunciado que se fazia prever?
E o povo brasileiro, o que é que ele deve comemorar, já que futebol é que não é: a metade das obras que lhe foi entregue ou o dobro do preço das obras inteiras que ele pagou e vai continuar pagando por décadas a fio com juros e correção monetária?
Que as festas brasileiras são as melhores do mundo não é novidade. Que a nossa permissividade ampla, geral e irrestrita é uma delícia para umas férias de 15 dias, idem. Mas agora que os 57 mil soldados do exército, um para cada brasileiro assassinado na rua no ano passado, vão voltar para os quartéis, nós é que vamos continuar tendo de criar nossos filhos no meio do tiroteio das feiras livres de drogas e da libertinagem geral.
Os alemães vão voltar pra casa e criar os deles naquela chatice da paz, da abundância e das melhores educação e serviços públicos do mundo em que eles vivem.
No dia seguinte do Mineiratzen, diante da boa vontade geral com que o Brasil recebeu a “matemática criativa” do Felipão nos provando que aqueles 7 x 1 não foram nada, o time, na verdade, estava indo muito bem, fiquei sinceramente com medo que ele acabasse ganhando um ministério do PT. Veio a calhar, portanto, o 3 x 0 da Holanda para nos livrar de vez de pelo menos mais essa bizarrice acachapante neste país onde nada rende mais dividendos que um bom e velho “malfeito”.
A terrível ameaça de que a Dilma e o Aldo Rebelo façam pelo futebol brasileiro o mesmo que o PT e o PC do B têm feito pela nossa economia e pela credibilidade do futuro do Brasil com as suas sucessivas “intervenções” pode, entretanto, ter aumentado com mais essa pá de cal.
Como não ha mesmo como exorciza-la até pelo menos o resultado da próxima eleição, só resta mesmo rezar...
No que diz respeito ao desempenho da Seleção – e não só o dela – o que explica tudo, aliás, não é mais que duas diferentes maneiras de rezar.
Os alemães e os holandeses são daquela religião em que a reza é o trabalho. Eles acreditam que deus só ajuda quem se ajuda e que o Paraiso conquista-se pelo tanto que cada um consegue acrescentar à obra coletiva fazendo o mais denodadamente possível por si mesmo.
Já nós somos daquela religião que acredita que, sendo isto aqui um vale de lágrimas onde só rola o que deus manda independentemente do que façamos, cada um pode fazer o que quiser, inclusive e principalmente viver fora da regra de deus porque, sendo ele, no fim das contas, o culpado de tudo, nós já estamos previamente perdoados, faltando saber apenas quantas ave-marias teremos de rezar com todo o fervor na "hora H" para zerar a conta e aumentar a chance de que a intervenção divina impeça que colhamos aquilo que plantamos e os pães e os gols se multipliquem por milagre.
Essa diferença faz pelo futebol a mesma coisa que faz pelo PIB nacional de cada um de nós, a menos que apareça um “salvador da pátria” que, em si mesmo, já seja um milagre ambulante, como já tivemos tantos, que produza esse efeito de desvincular a colheita da semeadura sem que seja preciso nem mesmo rezar.
Só que dessa vez não deu.
15 de julho de 2014
vespeiro
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