Outro dia eu escrevi sobre a sensação de “tempo parado”...de história que não anda pra frente, que tenho quando penso no Brasil...Eu lembrei do “Feitiço do Tempo” (Groundhog Day) e do personagem de Bill Murray que entrava em desespero com a sensação de apatia daquela cidadezinha presa sempre no mesmo dia. Mas, pergunto eu, e se ao invés de parar o tempo ficássemos apenas repetindo (na imprensa) os mesmos. Eternamente os mesmos. Fatos?
“Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; mas se quiser explicar a quem indaga, já não sei.” Anteriormente eu já havia citado Santo Agostinho quando escrevi sobre o assunto. O que eu não havia feito, e faço agora, é reforçar – como fica evidente na segunda parte da frase – a importância do entendimento comum daquilo que seja o “tempo”.
Afirmo que é da noção comum de tempo que um povo constrói o sentido que dá para a própria história. Grande novidade, não é? Parece mais uma frase chavão e, digo eu mesmo, seria, não fosse a implicância política que obrigatoriamente precisamos tirar dela.
Dia 31 de março de 2014, comemora-se, lembra-se, ou lamenta-se (eu sei lá qual o verbo politicamente correto a ser usado) os 50 anos da intervenção militar de 1964. Por que isso aconteceu, como aconteceu e quais foram as consequências? Vai haver alguma reportagem especial do Fantástico? Vai haver gente do IBOPE nas ruas fazendo perguntas às pessoas?
As forças armadas brasileiras já receberam, anos atrás, sérias advertências sobre comemorações no dia 31 de março. Já existe uma versão oficial da história a ser ensinada às crianças nos colégios. Nada existe para ser comemorado, segundo o governo petista, num mundo em que o Muro de Berlin caiu – e o socialismo não existe mais – mas onde a Revolução Bolivariana veio para libertar todo um continente do “imperialismo americano”.
Como reagir à tirania de algo que “não existe mais”?? Como convencer os brasileiros de que o país caminha para uma ditadura comunista quando as pessoas pensam que isso “acabou”...que o PT mudou, que Lula usa ternos caríssimos, e que Dirceu anda de jatinhos de luxo?
Não há dúvida alguma de que a nossas situação é infinitamente mais grave que a da Venezuela! Não resta debate sobre quem está mais doente...quem vive sob maior ditadura. Não há, digo eu, ditadura maior do que a do pensamento. Nada pode ser mais eficaz do que convencer alguém de que esse alguém já é livre. Sabem como se consegue isso? Dizendo para esse “alguém” (no caso em discussão nós todos) qual a noção correta que devemos ter do conceito de liberdade! Isso se faz de maneira contínua... isso se conquista de forma subliminar, silenciosa e persistente numa revolução cultural diária que tantas e tantas vezes eu já mencionei naquilo que escrevi.
Cinquenta anos depois de ter acontecido, aquilo que restou da intervenção militar de 64 é uma lembrança com 3 características: “comunismo não existe mais”, quem lutava por ele lutava pela “democracia” e os “militares foram os culpados nessa coisa toda” - combinação perfeita para tornar um fato local de 50 anos atrás em algo tão distante (ou mais) quanto a Primeira Guerra Mundial que, em 2014, completa um século do seu início e que aconteceu longe do Brasil.
Nada mais resta fazer do que afirmar que a construção do conceito daquilo que entendemos como tempo tem um componente subjetivo, um caráter passional e que é fruto, também, de um ato de volição. Um povo precisa ter a noção de que é capaz, ele mesmo, de construir a sua história; não de ser “vivido” por ela..de ser uma eterna vítima dela ...como alguém que viaja num barco sem comandante. Num navio fantasma agora encalhado numa luta com um monstro das profundezas que não lhe deixa seguir a viagem no tempo, e que permanece parado, eternamente, num quadro que mais lembra a arte de Salvador Dali - O Encouraçado Brasil e a Lula Gigante.
Em homenagem à bravura daqueles que já morreram em Caracas.
28 de fevereiro de 2014
Milton Simon Pires é Médico.
Milton Simon Pires é Médico.
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