"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 22 de setembro de 2013

O ECLIPSE DA FIGURA DO PAI E A CRESCENTE VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE

 

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É notória a crise da figura do pai na sociedade contemporânea. Por função parental, ele é o principal criador do limite para filhos e filhas. Seu eclipse provocou um crescimento de violência entre os jovens nas escolas e na sociedade que é exatamente a não consideração aos limites.

O enfraquecimento da figura do pai desestabilizou a família. Os divórcios aumentaram de tal forma que surgiu uma verdadeira sociedade de famílias de divorciados. Não ocorreu apenas o eclipse do pai, mas também a morte social do pai. A ausência do pai é, por todos os títulos, inaceitável. Ela desestrutura filhos e filhas, tira o rumo da vida, debilita a vontade de assumir um projeto e ganhar autonomamente a própria vida.

Faz-se urgente um reengendramento, sobre outras bases, da figura do pai. Para isso, antes de mais nada, é de fundamental importância fazer a distinção entre os modelos de pai e o princípio antropológico do pai. Essa distinção, descurada em tantos debates, até científicos, nos ajuda a evitar mal-entendidos e a resgatar o valor inalienável e permanente da figura do pai.

A tradição psicanalítica deixou claro que o pai é responsável pela primeira e necessária ruptura da intimidade mãe-filho/filha e a introdução do(a) filho(a) num outro continente, o transpessoal, dos irmãos, dos avós, dos parentes e de outros da sociedade. Na ordem transpessoal e social, vigem a ordem, a disciplina, o direito, o dever, a autoridade e os limites que devem valer entre um grupo e outro. Aqui, as pessoas trabalham, se conflitam e realizam projetos de vida. Em razão disso, os(as) filhos(as) devem mostrar segurança, ter coragem e disposição de fazer sacrifícios, seja para superar dificuldades, seja para alcançar algum objetivo.

Ora, o pai é o arquétipo e a personificação simbólica dessas atitudes. É a ponte para o mundo transpessoal e social. A criança, ao entrar nesse novo mundo, deve poder orientar-se por alguém. Se lhe faltar essa referência, ela se sente insegura, perdida, sem capacidade de iniciativa. É nesse momento que se instauram processos de fundamental importância para a psiquê da criança com consequências para toda a vida: o reconhecimento da autoridade e a aceitação do limite que se adquire através da figura do pai.

CONFLITOS E LIMITES

A criança vem da experiência da mãe, do aconchego, da satisfação dos seus desejos, do calor da intimidade, de onde tudo é seguro. Agora, tem que aprender algo de novo: que esse novo mundo não prolonga simplesmente a mãe; nele, há conflitos e limites. É o pai que introduz a criança no reconhecimento dessa dimensão. Com sua vida e seu exemplo, o pai surge como portador de autoridade, capaz de impor limites e de estabelecer deveres.

Operar essa verdadeira pedagogia é desconfortável. Mas se o pai concreto não a assumir, estará prejudicando pesadamente seu filho, talvez de forma permanente. O que ocorre quando o pai está ausente na família ou há uma família apenas materna? Os filhos parecem mutilados, pois se mostram inseguros e se sentem incapazes de definir um projeto de vida. Têm enorme dificuldade de aceitar o princípio de autoridade e a existência de limites. Os pais devem se coordenar, cada um na sua missão singular, para agir corretamente. Devem saber que podem haver avanços e retrocessos; estes pertencem à condição humana concreta e são normais.

E importa também reconhecer que, por todas as partes, surgem figuras concretas de pais que, com sucesso, enfrentam as crises, vivem com dignidade, trabalham, cumprem seus deveres, mostram responsabilidade e determinação e, dessa forma, cumprem a função arquetípica e simbólica para com filhos/filhas. É uma função indispensável para que eles amadureçam e ingressem na vida sem traumas até que se façam eles mesmos pais e mães de si mesmos. É a maturidade.

(transcrito de O Tempo)

22 de setembro de 2013
Leonardo Boff

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