Em recente discussão no Twitter, tentava eu esclarecer para um usuário, em uma rara troca de postagens de altíssimo nível e absoluta lhaneza no tratamento das divergências, qual o motivo de termos, sem sombra de dúvidas, elementos suficientes para identificar uma unidade nacional nas verdadeiras raízes do Brasil.
A alusão a Holanda não é despropositada, citado inclusive na thread como um dos maiores responsáveis pelo envenenamento dessas raízes em obra que sorrateiramente, no título, ele dava alguma impressão (falsa) de querer louvá-las.
O projeto de poder montado por Vargas visava destruir valores de unidade nacional, na esteira do que já havia feito a classe castrense quando tomou o poder em 1889, a começar pelos valores judaico-cristãos com crescente secularização e expansão do ateísmo no aparato burocrático e tecnocrático. Dessa terra arrasada de valores, Vargas construiu uma unidade nacional baseada na centralidade do seu poder de império e assentada em pilares como o sindicalismo pelego, os campeões nacionais do empresariado e alta burocracia agnóstica que cria as leis que devem ser cumpridas, ainda que contrariem os valores da pátria (de natureza conservadora, obviamente).
Sem a axiologia herdada do período anterior a 1889, os elementos de união nacional desarraigados do que o Ditador havia imposto em suas novidades federais, seguiram sendo a língua, a estabilidade do território desde 1750 (e sem a necessidade do disparo de 1 tiro sequer para manter essa unidade) e os hábitos de vínculo fraterno. Este último detalhe é perfeitamente identificável quando viajamos para o exterior e encontramos brasileiros que nunca vimos na vida: um brasileiro desconhecido que encontramos em viagens no exterior torna-se facilmente amigo por longa data e, em muitos casos, um amigo para a vida toda, independentemente da idade, cor de pele ou gênero.
Se não vemos unidade nacional nisso, é porque elementos de distinção foram sendo inseridos no dia-a-dia com o nítido intuito de segregar brasileiros por cor de pele, gênero sexual, opções de exercício da lascívia individual, opiniões pessoais subjetivas acerca de pessoas da política, além de outras marcas de distinção do neoprogressismo.
Ao vermos que o conservadorismo abrange negros, japoneses, judeus, índios, velhos, jovens, pobres, ricos, homens, mulheres, gays, lésbicas, abstêmios e heterossexuais, a diferença se tornou uma narrativa de defesa de uma pessoa (Lula, no caso) e de ataque a outra (Bolsonaro, no caso). Há no meio o isentão, que se não ataca nem defende Lula, se junta à turba do “LulaLivre” para engrossar o coro do “Ele Não”. Esse é o mais perigoso de todos na busca dessa unidade nacional, pois sabe que esse conceito atrapalha seus projetos pessoais junto ao beautiful peopleglobalista.
Um dos efeitos, portanto, do marxismo cultural, que insere na prática do dia-a-dia essa abordagem das diferenças, é a destruição completa de qualquer possibilidade de debate com base em discurso de união.
Unir é simplesmente ferir de morte a visão de que o mundo funciona por uma luta de classes, uma conflagração ininterrupta entre “diferentes”, sem aceitar que a união desses diferentes seja uma solução viável. A hegemonia e a submissão do opressor imaginário é a única saída viável: pior – essa hegemonia tende a ser hoje global e onde a diferença precisa ser respeitada, a hegemonia veste-lhe a camisa vermelha (ou, recentemente, laranja). A desunião é o único caminho possível de debate e discussão para que dessa desunião se possa extrair uma hegemonia.
Faço essa digressão sobre os efeitos que cegaram a capacidade de leitura de muitas pessoas inteligentes, pois o mencionado debate foi resultado de um tweet do Prof. Yoram Hazony, autor da obra prima The Virtue of Nationalism, a respeito da aplicabilidade ou não de seus conceitos ao case brasileiro.
Seria possível visualizar um nacionalismo brasileiro baseado no conceito estipulado por Hazony?
Haveria como extrair de nossa cultura um universo comum e que se oponha a hegemonia de certo pensamento imperialista/globalista reinante até 1º Janeiro deste ano?
Ao responder positivamente a essas questões e ver-me forçado a recuar no tempo para o Brasil pré-1889, alguns elementos que se perderam são exatamente alvo de uma lenta recuperação que está ocorrendo no Brasil de hoje. O livro de Dom Luiz Philippe de Orleans e Bragança explora esse detalhe com maestria.
E essa abordagem nos abre boas razões para que possamos compreender todos os efeitos colatareis do positivismo comteano, salpicado com doses de progressismo cultural (que é, item, parte da doutrina comteana e alimenta boa parte do isentismo liberal sem que quem o defenda, saiba disso nesse grau de detalhes).
Desse antigo positivismo progressita, marchamos ao som das cornetas do alvorecer para um progressismo identitário e que hoje já começa a se mostrar como um neoprogressimo perfeitamente descrito por Lilla e Gabeira, nesta era pós-identitária: é o neoprogressismo da fiscalização e do ordoliberalismo a la Rüstow.
Tanto na forma antiga quanto nessa forma novíssima (pós-moderna ou líquida, como preferem alguns…), o neoprogressismo não abre mão de ler o mundo segundo diferenças subjetivas, qual seja segundo uma ininterrupta caçada aos opressores. A luta de classes se transforma em caça às fake news, qual seja, se transforma naquilo que a esquerda acusa seus opositores: lawfare. É uma caça de pessoas, sem o menor pudor narrativo.
A lei é reformulada e adaptada para abrigar, no campo positivo, os elementos de ataque legal (porém ilegítimo) de opositores com o fim de aniquilar ideias, pensamentos e pensadores.
Danilo Gentili é ótimo exemplo – ao ser condenado e ver, na mesma semana, Gregório Duvivier ser alvo de um ofício do MP para o Ministro da Justiça, avançou o sinal do bom senso e defendeu Duvivier na forma, sem evitar que no mérito Danilo continuasse sendo atacado (inclusive pelo próprio Duvivier).
Danilo leu as semelhanças, mas seus algozes o mantém segregado pelas diferenças.
O esquema de conflito de interesses como belo figurino para uma luta de classes cega não só os progressistas de enxegarem por semelhanças, mas impede que o conservador de última temporada que queira fazê-lo não enxergue, estrategicamente, que seu discurso será moído no segundo seguinte por uma volta constante à matriz das diferenças.
É uma luta inglória, constante, ininterrupta e que só pode ser superada se as semelhanças forem afirmadas em bases objetivas, combatendo sempre o discurso das diferenças por abordagem subjetiva. Quando Danilo se aproximou de Gregório pela semelhança de que “somos humoristas”, recebeu o desprezo de Gregório por serem humoristas diferentes em que um tem a proteção do Presidente da República e o outro não. Jogar no campo subjetivo é o maior erro dos conservadores de última temporada, uma vez que os fatos e o que Gregório fez (e não quem ele diz ser) é o que diferencia um do outro: sem enxegar as verdadeiras diferenças (que se extraem da análise objetiva) os conservadores mais tímidos ficarão sempre escondidos atrás de falsas semelhanças.
Nossa capacidade de construir um país nas bases nacionalistas de Hazony passam pela compreensão das verdeiras semelhanças.
E para isso, auxiliado pelo amigo Diodoro Cirino, lembro a advertência de Eric Voegelin sob sagaz mutatis mutandis de Olavo de Carvalho: “faço aqui, mutatis mutandis, uma analogia com o que Eric Voegelin observou sobre o Estado alemão nos anos 30 do século passado. Os modelos de convivência e associação vigentes na sociedade civil determinam a estrutura real do poder de Estado, independentemente das normas legais consagradas oficialmente. Ou estas últimas refletem aqueles modelos, e ai temos uma sociedade política funcional, ou se sobrepõem a eles como um verniz, encobrindo sob uma camada de adornos jurídicos as relações reais de poder. Neste caso, tudo na vida política é farsa e língua dupla, às vezes sem que os personagens envolvidos se dêem plena conta disso”.
Isso que Olavo de Carvalho pescou de Voegelin e outrora Goffredo Telles Junior definiu como ordem jurídica legítima (para diferenciá-la da ordem jurídica legal) é o que, pelo efeito do progressismo, estamos ainda muito longe de exergar.
No campo da ação o mesmo Olavo de Carvalho já advertiu: “13 de março de 2016 foi, de longe e sem comparação possível, a data mais importante na história da formação da consciência nacional. Não deixem que a grandeza desse momento seja ofuscada pelos vermes e ratazanas do Congresso Nacional, do STF, da mídia ou dos partidos. O desprezo popular por essas criaturas das trevas deve ser reiterado todos os dias, até que a última delas desapareça do cenário político”.
Agora, cá entre nós, leitor culto, leitora atenta – você se lembra o que ocorreu em 13 de Março de 2016 sem recorrer ao Google? Se lembra dessa data com a mesma facilidade com que responderia ao significado de um 7 de setembro?
Pois bem, se você não lembra, é porque a luta de classes está arraigada no seu DNA intelectual e você ainda não percebeu isso. Pior: esse modo de ler o mundo segundo conflitos e que te fez esquecer do 13 de Março de 2016, permite que “os vermes e ratazanas do Congresso Nacional, do STF, da mídia ou dos partidos” sigam te fazendo de otário(a).
24 de abril de 2019
Evandro F. Pontes
renova mídia
A alusão a Holanda não é despropositada, citado inclusive na thread como um dos maiores responsáveis pelo envenenamento dessas raízes em obra que sorrateiramente, no título, ele dava alguma impressão (falsa) de querer louvá-las.
O projeto de poder montado por Vargas visava destruir valores de unidade nacional, na esteira do que já havia feito a classe castrense quando tomou o poder em 1889, a começar pelos valores judaico-cristãos com crescente secularização e expansão do ateísmo no aparato burocrático e tecnocrático. Dessa terra arrasada de valores, Vargas construiu uma unidade nacional baseada na centralidade do seu poder de império e assentada em pilares como o sindicalismo pelego, os campeões nacionais do empresariado e alta burocracia agnóstica que cria as leis que devem ser cumpridas, ainda que contrariem os valores da pátria (de natureza conservadora, obviamente).
Sem a axiologia herdada do período anterior a 1889, os elementos de união nacional desarraigados do que o Ditador havia imposto em suas novidades federais, seguiram sendo a língua, a estabilidade do território desde 1750 (e sem a necessidade do disparo de 1 tiro sequer para manter essa unidade) e os hábitos de vínculo fraterno. Este último detalhe é perfeitamente identificável quando viajamos para o exterior e encontramos brasileiros que nunca vimos na vida: um brasileiro desconhecido que encontramos em viagens no exterior torna-se facilmente amigo por longa data e, em muitos casos, um amigo para a vida toda, independentemente da idade, cor de pele ou gênero.
Se não vemos unidade nacional nisso, é porque elementos de distinção foram sendo inseridos no dia-a-dia com o nítido intuito de segregar brasileiros por cor de pele, gênero sexual, opções de exercício da lascívia individual, opiniões pessoais subjetivas acerca de pessoas da política, além de outras marcas de distinção do neoprogressismo.
Ao vermos que o conservadorismo abrange negros, japoneses, judeus, índios, velhos, jovens, pobres, ricos, homens, mulheres, gays, lésbicas, abstêmios e heterossexuais, a diferença se tornou uma narrativa de defesa de uma pessoa (Lula, no caso) e de ataque a outra (Bolsonaro, no caso). Há no meio o isentão, que se não ataca nem defende Lula, se junta à turba do “LulaLivre” para engrossar o coro do “Ele Não”. Esse é o mais perigoso de todos na busca dessa unidade nacional, pois sabe que esse conceito atrapalha seus projetos pessoais junto ao beautiful peopleglobalista.
Um dos efeitos, portanto, do marxismo cultural, que insere na prática do dia-a-dia essa abordagem das diferenças, é a destruição completa de qualquer possibilidade de debate com base em discurso de união.
Unir é simplesmente ferir de morte a visão de que o mundo funciona por uma luta de classes, uma conflagração ininterrupta entre “diferentes”, sem aceitar que a união desses diferentes seja uma solução viável. A hegemonia e a submissão do opressor imaginário é a única saída viável: pior – essa hegemonia tende a ser hoje global e onde a diferença precisa ser respeitada, a hegemonia veste-lhe a camisa vermelha (ou, recentemente, laranja). A desunião é o único caminho possível de debate e discussão para que dessa desunião se possa extrair uma hegemonia.
Faço essa digressão sobre os efeitos que cegaram a capacidade de leitura de muitas pessoas inteligentes, pois o mencionado debate foi resultado de um tweet do Prof. Yoram Hazony, autor da obra prima The Virtue of Nationalism, a respeito da aplicabilidade ou não de seus conceitos ao case brasileiro.
Seria possível visualizar um nacionalismo brasileiro baseado no conceito estipulado por Hazony?
Haveria como extrair de nossa cultura um universo comum e que se oponha a hegemonia de certo pensamento imperialista/globalista reinante até 1º Janeiro deste ano?
Ao responder positivamente a essas questões e ver-me forçado a recuar no tempo para o Brasil pré-1889, alguns elementos que se perderam são exatamente alvo de uma lenta recuperação que está ocorrendo no Brasil de hoje. O livro de Dom Luiz Philippe de Orleans e Bragança explora esse detalhe com maestria.
E essa abordagem nos abre boas razões para que possamos compreender todos os efeitos colatareis do positivismo comteano, salpicado com doses de progressismo cultural (que é, item, parte da doutrina comteana e alimenta boa parte do isentismo liberal sem que quem o defenda, saiba disso nesse grau de detalhes).
Desse antigo positivismo progressita, marchamos ao som das cornetas do alvorecer para um progressismo identitário e que hoje já começa a se mostrar como um neoprogressimo perfeitamente descrito por Lilla e Gabeira, nesta era pós-identitária: é o neoprogressismo da fiscalização e do ordoliberalismo a la Rüstow.
Tanto na forma antiga quanto nessa forma novíssima (pós-moderna ou líquida, como preferem alguns…), o neoprogressismo não abre mão de ler o mundo segundo diferenças subjetivas, qual seja segundo uma ininterrupta caçada aos opressores. A luta de classes se transforma em caça às fake news, qual seja, se transforma naquilo que a esquerda acusa seus opositores: lawfare. É uma caça de pessoas, sem o menor pudor narrativo.
A lei é reformulada e adaptada para abrigar, no campo positivo, os elementos de ataque legal (porém ilegítimo) de opositores com o fim de aniquilar ideias, pensamentos e pensadores.
Danilo Gentili é ótimo exemplo – ao ser condenado e ver, na mesma semana, Gregório Duvivier ser alvo de um ofício do MP para o Ministro da Justiça, avançou o sinal do bom senso e defendeu Duvivier na forma, sem evitar que no mérito Danilo continuasse sendo atacado (inclusive pelo próprio Duvivier).
Danilo leu as semelhanças, mas seus algozes o mantém segregado pelas diferenças.
O esquema de conflito de interesses como belo figurino para uma luta de classes cega não só os progressistas de enxegarem por semelhanças, mas impede que o conservador de última temporada que queira fazê-lo não enxergue, estrategicamente, que seu discurso será moído no segundo seguinte por uma volta constante à matriz das diferenças.
É uma luta inglória, constante, ininterrupta e que só pode ser superada se as semelhanças forem afirmadas em bases objetivas, combatendo sempre o discurso das diferenças por abordagem subjetiva. Quando Danilo se aproximou de Gregório pela semelhança de que “somos humoristas”, recebeu o desprezo de Gregório por serem humoristas diferentes em que um tem a proteção do Presidente da República e o outro não. Jogar no campo subjetivo é o maior erro dos conservadores de última temporada, uma vez que os fatos e o que Gregório fez (e não quem ele diz ser) é o que diferencia um do outro: sem enxegar as verdadeiras diferenças (que se extraem da análise objetiva) os conservadores mais tímidos ficarão sempre escondidos atrás de falsas semelhanças.
Nossa capacidade de construir um país nas bases nacionalistas de Hazony passam pela compreensão das verdeiras semelhanças.
E para isso, auxiliado pelo amigo Diodoro Cirino, lembro a advertência de Eric Voegelin sob sagaz mutatis mutandis de Olavo de Carvalho: “faço aqui, mutatis mutandis, uma analogia com o que Eric Voegelin observou sobre o Estado alemão nos anos 30 do século passado. Os modelos de convivência e associação vigentes na sociedade civil determinam a estrutura real do poder de Estado, independentemente das normas legais consagradas oficialmente. Ou estas últimas refletem aqueles modelos, e ai temos uma sociedade política funcional, ou se sobrepõem a eles como um verniz, encobrindo sob uma camada de adornos jurídicos as relações reais de poder. Neste caso, tudo na vida política é farsa e língua dupla, às vezes sem que os personagens envolvidos se dêem plena conta disso”.
Isso que Olavo de Carvalho pescou de Voegelin e outrora Goffredo Telles Junior definiu como ordem jurídica legítima (para diferenciá-la da ordem jurídica legal) é o que, pelo efeito do progressismo, estamos ainda muito longe de exergar.
No campo da ação o mesmo Olavo de Carvalho já advertiu: “13 de março de 2016 foi, de longe e sem comparação possível, a data mais importante na história da formação da consciência nacional. Não deixem que a grandeza desse momento seja ofuscada pelos vermes e ratazanas do Congresso Nacional, do STF, da mídia ou dos partidos. O desprezo popular por essas criaturas das trevas deve ser reiterado todos os dias, até que a última delas desapareça do cenário político”.
Agora, cá entre nós, leitor culto, leitora atenta – você se lembra o que ocorreu em 13 de Março de 2016 sem recorrer ao Google? Se lembra dessa data com a mesma facilidade com que responderia ao significado de um 7 de setembro?
Pois bem, se você não lembra, é porque a luta de classes está arraigada no seu DNA intelectual e você ainda não percebeu isso. Pior: esse modo de ler o mundo segundo conflitos e que te fez esquecer do 13 de Março de 2016, permite que “os vermes e ratazanas do Congresso Nacional, do STF, da mídia ou dos partidos” sigam te fazendo de otário(a).
24 de abril de 2019
Evandro F. Pontes
renova mídia
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