O vice-presidente Hamilton Mourão comentou, neste sábado, as tentativas de articulação política por parte do governo. Na última quinta-feira, Bolsonaro se reuniu com líderes dos partidos para tratar da reforma da Previdência. Segundo Mourão, o presidente, de início, havia pensado em fazer “composições transitórias para enfrentar os problemas que surgissem”, como na Previdência, buscando bancadas temáticas. Porém, segundo ele, percebeu que as bancadas temáticas abrangem muitos partidos e viu que isso não funcionou. A segunda linha de ação, segundo ele, seria conversar diretamente com os presidentes dos partidos.
– Agora ele partiu para uma outra linha de ação, e isso faz parte do jogo político. É um processo de ensaio e erro realmente. Ou a gente se rende àquela coalizão que era feita antigamente, o presidente não quer fazer isso, ou tentamos novas formas e é dessa maneira, vamos tentar o diálogo com os diferentes partidos – declarou o vice-presidente, que cumpre agenda nos EUA.
AUTORIZADO – Mourão voltou a dizer que sua visita aos EUA não representa uma tentativa de ter uma agenda paralela à do presidente Jair Bolsonaro.
– Eu estou aqui autorizado pelo presidente da República. Este assunto foi despachado com ele no final de janeiro, início de fevereiro, e ele me autorizou a comparecer a esta conferência.
Em entrevistas nesta semana, Steve Bannon, o ex-estrategista de campanha do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, havia criticado a visita de Mourão ao país, dizendo que o objetivo era criar um “novo centro de poder”. Na sexta-feira, o ex-candidato à Presidência Ciro Gomes também fez comentários na mesma linha.
CLÁUSULAS PÉTREAS – “O Ciro Gomes, conhecido pelo seu destempero verbal, passou a me rotular dessa forma, e eu deixo muito claro para todo mundo: no meio onde eu vivi toda a minha vida, a disciplina intelectual e a lealdade para com o comandante são cláusulas pétreas. Então a minha lealdade para com o presidente Bolsonaro é total e todos os meus movimentos são do conhecimento dele.
Mourão também comentou a possibilidade de uma troca no ministério da Educação, mas disse acreditar que o presidente Jair Bolsonaro está conversando com o ministro Ricardo Vélez e tentando orientá-lo.
– Eu acho que o presidente ainda está dando uma margem para que o ministro Vélez consiga reorganizar o dispositivo dele lá dentro do ministério e toque o barco para frente.
“ALA MILITAR” – O vice-presidente discordou da existência de um grupo que se possa chamar de “ala militar” do governo, dizendo que “o que existe são ministros que vieram das Forças Armadas”.
“Parece que, diariamente, ao final do dia, ali pelas oito da noite, em algum canto escondido do Palácio do Planalto, eu, Heleno, Santos Cruz, Floriano Peixoto, nos reunimos e dizemos: o que que vamos fazer agora? Isso não acontece. Agora, o presidente tem um estilo próprio dele, e a gente tem que saber trabalhar com o estilo do presidente”. E concluiu –“ Não há nenhum tipo de tutela, moderação, segurar o presidente. Não”.
O vice-presidente também falou sobre a expectativa com relação ao governo dos brasileiros que moram no exterior e votaram em Bolsonaro, que obteve 81,7% dos votos válidos nos EUA no segundo turno das eleições de 2018.
RESPONSABILIDADE – “O presidente entende o tamanho da responsabilidade dele, seja para com todos os brasileiros que estão no nosso país, não só os 57 milhões que votaram nele, mas todos os outros que não votaram nele e todos aqueles que estão aqui no exterior e que vieram para cá na busca de melhores oportunidades”, disse o vice-presidente.
Antes de conversar com jornalistas, Mourão se reuniu com representantes da comunidade de brasileiros do estado de Massachusetts. No encontro, o presidente falou sobre o período em que residiu em Washington e disse que tem respeito pelos brasileiros que vivem no exterior.
A vereadora da cidade de Framingham, em Massachusetts, Margareth Shepard, que participou da reunião, disse que foi uma “oportunidade importante” para que o vice-presidente e o consulado conhecessem melhor os membros da comunidade. Margareth é presidente da diretoria executiva do Conselho de Cidadãos de Boston, que representa a comunidade brasileira.
Mourão afirmou que os imigrantes com quem conversou estão em situação regular, vieram aos Estados Unidos “em busca de melhores oportunidades”, são “pessoas batalhadoras”, e o governo tem “profundo respeito e admiração por eles”. Sobre o que pensa dos brasileiros que estão em situação irregular no país, Mourão disse que não cabe ao governo brasileiro ter uma política para solucionar a questão. “Isso é um problema que compete ao governo americano. Não é uma questão que o governo brasileiro tenha que se meter”.
“BOAS INTENÇÕES” – Quando esteve nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro disse em entrevista à Fox News que “a grande maioria dos imigrantes em potencial não tem boas intenções nem quer o melhor ou fazer bem ao povo americano”. O presidente pediu desculpas pela declaração no dia seguinte. Dias antes, seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), havia dito que imigrantes brasileiros irregulares são “uma vergonha” para o Brasil.
Questionado sobre a proposta de Trump de construir um muro na fronteira sul dos Estados Unidos, proposta com a qual Jair Bolsonaro disse concordar na mesma entrevista à Fox News, Mourão disse que segue a opinião do presidente. “Ele falou isso mesmo? Se o presidente apoia, eu também apoio” – declarou.
VENEZUELA – Sobre a possibilidade de uma intervenção militar ne Venezuela, o vice-presidente diz que não acredita nessa possibilidade.
“Mesmo quando o presidente Trump fala que todas as opções estão na mesa, é mais uma figura de retórica do que uma ação mesmo”.
O General Hamilton Mourão está em Boston para participar da Brazil Conference, evento promovido por estudantes brasileiros das universidades de Harvard e do MIT. Neste domingo, viaja para Washington, onde se encontrará com o vice-presidente Mike Pence, com parlamentares americanos e terá uma reunião no Council of the Americas.
08 de abril de 2019
Paola De Orte
O Globo
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