"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 26 de junho de 2018

UMA SENSATA DECISÃO

Na semana passada, aconteceu mais outra reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), quando o Banco Central (BC) resolveu deixar a taxa básica de juros da economia (Selic) estacionada em 6,5% ao ano, o que deverá ajudar a abrandar um pouco o agitado ambiente financeiro nacional.

Paira uma névoa densa sobre a economia brasileira que acaba deixando comprometida a visibilidade de um horizonte de boas expectativas. Nos últimos dias, cresceram as incertezas no mercado financeiro sobre os próximos passos da política monetária.

A paralisação dos caminhoneiros freou a retomada da economia e ainda não se refletiu integralmente nos índices. Uma coisa é certa, a inflação deverá se elevar, tornando ainda mais tímida a expansão da economia. Só nos resta aguardar, embora não corramos o risco de sermos arrastados para uma situação caótica.

Por enquanto, percebo que é prudente conservar a política monetária em compasso de observação, mas devemos estar atentos à sua trajetória e para onde os ventos poderão levá-la. Alguns economistas já enxergam uma estagnação na atividade econômica, o que fatalmente poderá voltar a permitir novos cortes na taxa Selic pelo BC.

As pressões que o dólar vem enfrentando nos ambientes externo e, particularmente interno, deflagradas pela evidente elevação dos juros americanos não levará o BC a adotar uma velha estratégia do passado, subindo os juros com a finalidade de atrair divisas.

Hoje, as reservas cambiais brasileiras representam US$ 380 bilhões, sendo elas satisfatórias para garantir as operações que vêm sendo praticadas pelo BC de “swap” (vendas de dólar a futuro, sem entrega física da moeda), para evitar as oscilações bruscas no mercando cambial e assegurar um considerável poder de fogo. Jamais tivemos, diante de uma turbulência externa, uma situação tão privilegiada em meio a esta arriscada crise que estamos enfrentando.

O modelo que habitualmente vinha sendo adotado em relação ao estresse externo era levar as reservas à exaustão e alta desenfreada do câmbio. A solução vinha através de um inevitável pedido de socorro ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para recomposição das reservas. Foi exatamente o que aconteceu recentemente com a nossa vizinha Argentina que necessitou de US$ 50 bilhões para enfrentar especulações contra o peso.

A partir de 2016, o governo começou a derrubar a inflação, que atualmente está em 2,68%, situando-se bem abaixo da meta estabelecida de 4,5%, o que dá uma certa tranquilidade à autoridade monetária (BC) que projetou o índice para este exercício.

O Relatório Focus do BC, que semanalmente divulga os resultados da pesquisa envolvendo expectativas de mercado, sinalizou na última vez que poderíamos atingir uma inflação em torno 4,00%. Traduzindo melhor, o que realmente for repassado através dos efeitos provenientes da volatilidade do câmbio ou, até mesmo, da greve dos caminhoneiros, despertará o dragão da inflação que, provavelmente, não causará pânico na sociedade. Até porque o nível baixo de atividade econômica que vem acontecendo tem levado alguns analistas a reconsiderar para este ano um crescimento econômico inferior a 2%.

Outro fator importantíssimo levado em consideração foi a indefinição do nosso quadro eleitoral a três meses da eleição presidencial. Existe consenso entre reconhecidos analistas econômicos, independentemente do posicionamento político deles, de que o ajuste fiscal é inevitável, tendo a Previdência como “carro chefe”, fundamental para que o país possa buscar um sólido caminho de crescimento sustentável e uma queda consistente do prejudicial desemprego.

Acontece que o discurso populista, além de ser extremamente inebriante para as camadas de baixa renda e baixa escolaridade, torna-se igualmente uma agradável melodia nos ouvidos de outros tantos brasileiros corporativistas. Felizmente, até o presente momento, ainda não sabemos qual candidato com esse deplorável contorno poderá prosperar; talvez isso só aconteça quando, brevemente, a campanha realmente deslanchar com o programa eleitoral a pleno vapor. Portanto, só me resta relembrar aquele célebre proverbio português: “Cautela e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.


26 de junho de 2018
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)

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