O governo dormiu em festa e acordou em pânico. Na noite de quinta-feira, o Planalto cantou vitória e anunciou que os caminhões voltariam a circular. Na manhã de sexta, foi atropelado pelos fatos. As rodovias continuaram bloqueadas, e a crise de abastecimento se agravou em todo o país.
O Planalto errou ao ignorar os alertas de revolta contra a disparada do preço do diesel. Errou de novo ao negociar com gente que não tinha força para suspender o motim. Errou mais uma vez ao abrir o cofre antes de garantir a liberação das estradas.
MILITARES – Com o acordo na lona, Michel Temer apelou à saída de sempre: pediu socorro às Forças Armadas. Os militares não conseguem reduzir a violência no Rio, e agora se veem atirados em outra fogueira. Ao receber a nova missão, avisaram ao chefe que também correm o risco de ficar sem combustível.
O presidente resolveu endurecer o discurso. Em tom enfezado, disse que “terá a coragem de exercer sua autoridade”. Qual autoridade? O poder presidencial parece cada vez menor, esvaziado pela rejeição popular e pela debandada de aliados.
BAJULADORES – Temer está entrincheirado no palácio, cercado de bajuladores e políticos sem voto. O ministro Moreira Franco, novo titular de Minas e Energia, desapareceu no auge da crise. Agora quem fala pelo presidente é Carlos Marun, ex-capataz de Eduardo Cunha.
O ministro-pitbull voltou a dar plantão na TV para defender o chefe. “Fomos exitosos”, assegurou à GloboNews, na tarde em que o noticiário mostrava o fiasco do acordo. Na mesma entrevista, ele disse integrar o “melhor governo da história do país por hora de mandato”.
“AVANÇAMOS” – Marun não é o único desconectado da realidade. O Planalto acaba de lançar uma campanha publicitária para comemorar os dois anos do impeachment que instalou Temer no poder. Enquanto a propaganda repete o bordão “Avançamos”, a população experimenta a escassez de combustível, transporte e alimentos.
Na quarta-feira, terceiro dia de bloqueio nas estradas, o site do MDB afirmou que “os tempos de instabilidade, recessão e desequilíbrio econômico ficaram para trás”.
28 de maio de 2018
Bernardo Mello
O Globo
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