Na proposta de acordo com o juiz Sérgio Moro, o engenheiro Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, reúne documentos, extratos bancários, planilhas, fotografias dele com investigados. Ele cita valores e descreve em detalhes como foi acertada a divisão de propinas milionárias que abasteceram os cofres do PT e os bolsos de dirigentes petistas.
Um dos episódios mais relevantes de sua proposta trata justamente da partilha de propinas envolvendo Lula, o PT e a Odebrecht na Sete Brasil. Segundo Duque, em 2010, com o discurso de que era preciso reativar a indústria naval e gerar empregos no país, a empresa foi criada para subcontratar empreiteiras do esquema da Petrobras.
PROPINA AO PT – A exemplo do que já ocorria na estatal, essas empreiteiras pagariam propina ao PT de 1% sobre os contratos bilionários de sondas, um negócio de R$ 200 milhões partilhado entre o PT, Lula, Palocci e Dirceu. Duque testemunhou todos esses acertos.
— Vaccari me informou que iria para José Dirceu e para Lula, sendo que a parte do Lula seria gerenciada pelo Palocci — disse Duque a Moro.
Em depoimento ao juiz Sergio Moro em maio do ano passado, Renato Duque fez uma série de acusações contra o ex-presidente Lula. O operador petista na Petrobras disse que Lula sabia da corrupção na estatal, operava em favor das empreiteiras e arbitrava a divisão da propina.
LULA ERA ATUANTE – Lula, segundo Duque, mantinha uma agenda de encontros sigilosos nos quais cobrava pessoalmente a liberação de dinheiro para as empreiteiras. O ex-diretor afirmou ter mantido três encontros secretos com Lula para tratar de assuntos relacionados ao esquema. Ele acusou Lula de ser o verdadeiro chefe da organização criminosa que saqueou a Petrobras:
— Nessas três vezes, ficou claro, muito claro para mim, que ele tinha pleno conhecimento de tudo e detinha o comando — disse Duque a Moro.
Por meio de nota, os advogados do ex-presidente Lula afirmaram que “os fatos mais recentes indicam uma desesperada tentativa de fabricar versões para prejudicar o cumprimento da decisão do STF que afastou a competência da Justiça Federal de Curitiba para julgar esses temas”.
PALOCCI OPERAVA – Além de Lula, Duque acusou o ex-ministro Antonio Palocci de ser o operador de Lula e o único autorizado a falar em nome dele sobre os negócios na Petrobras. Além de afirmar que Lula recebia propinas do esquema, Duque disse ter escutado do ex-tesoureiro João Vaccari Neto que Palocci administrava a parte de Lula nas propinas da Sete Brasil.
Segundo Duque, Lula era chamado por dois apelidos entre os operadores do esquema: “Nine” e “Chefe”. Quando não falavam diretamente o apelido de Lula, os integrantes do esquema gesticulavam com as mãos perto do rosto para simular uma barba.
DILMA PARTICIPAVA – Sobre a ex-presidente Dilma Rousseff, Renato Duque se dispõe a detalhar episódios que mostrariam a ex-presidente em franca atuação no esquema. Duque contaria, por exemplo, que, em meados de 2012, durante o primeiro mandato de Dilma, ele decidiu deixar a Diretoria de Serviços da Petrobras.
Na ocasião, foi chamado ao Palácio do Planalto para ter uma conversa com Dilma. No gabinete presidencial, Duque disse ter ouvido de Dilma um pedido para que ficasse porque ele “seria o arrecadador” da campanha petista nos próximos anos.
A assessoria de Dilma informou que só vai se manifestar quando iver acesso aos depoimentos. Procurados, os advogados de Renato Duque informaram que não comentariam o assunto.
30 de abril de 2018
Robson Bonin
O Globo
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