"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

COMO DESMANTELAR UMA SOCIEDADE

Com a estagnação dos velhos comunistas, uma nova esquerda surgiu no mundo, influenciada pelas ideias do italiano Antonio Gramsci, falecido em 1937, aos 46 anos. 

Diferentemente de Karl Marx, para quem todo o resto era decorrente da estrutura econômica dominante, o sardenho de Ales conferiu destaque à superestrutura e à hegemonia cultural, conquistada pela transmissão de ideias em todos os espaços de poder, especialmente nas escolas e nos meios de comunicação.

O Estado e seus líderes resultam do somatório de forças em disputa. A sociedade civil e a sociedade política se influenciam mutuamente, e o governo é o resultado das ideias dominantes. Segundo Mochcovitch, citado por Marcele Frossard (em www.infoescola.com), o conceito de hegemonia, finalmente, representa talvez a contribuição mais importante de Gramsci à teoria marxista. 

Hegemonia é o conjunto das funções de domínio e direção exercido por uma classe social dominante, no decurso de um período, sobre outra classe social e até sobre o conjunto das classes da sociedade. A hegemonia é composta de duas funções: função de domínio e função de direção intelectual e moral, ou função própria de hegemonia (MOCHCOVITCH, 1992, p. 20-21 apud DANTAS, 2015, p. 17).

O fracasso da luta armada, e, por conseguinte, da tomada do poder pela força, despertou na nova esquerda o valor dos ensinamentos de Gramsci. Primeiro, com o PCB, que, aferrado a esquemas antigos, não conseguiu arregimentar forças e confundiu a hegemonia cultural com a ocupação de espaços na máquina estatal, tanto que na Bahia era famosa a frase de Antonio Carlos Magalhães de que ele preferia trabalhar com os comunistas, por serem dedicados.

Quem mais soube aplicar a teoria gramsciana foi o PT. Oriundo da ala socialista da Igreja Católica, representada pelos adeptos da Teologia da Libertação, de grupos trotskistas e operários, o Partido dos Trabalhadores começou a espalhar sua influência a partir dos sindicatos e em poucos anos tornou-se capilar na chamada sociedade civil organizada.

Partido inicialmente voltado para as lutas dos trabalhadores, vislumbrou a tomada do poder por meio da formação ideológica de gerações nas escolas, campos e construções, passando a empunhar bandeiras que pusessem abaixo tudo o que fosse de tradição civilizatória.

O resultado está aí: qualquer moleque se acha com autoridade para desbancar o conhecimento acumulado há milênios, os filhos não reconhecem a autoridade paterna nem dos professores, enquanto a sociedade, atordoada e sem saber o que fazer, chamam o delegado para fazer o papel do pai e da mãe.

Muitos pais, que cresceram na irresponsabilidade, fazem os filhos e vão embora; muitas mães, da mesma forma, têm filhos por diversão, e os entregam aos cuidados dos avós, quando não os largam por aí ou os negligenciam para curtir baladas, porque são mulheres e têm todo o direito de perseguir a felicidade individual.

Uma parcela significativa da população perdeu os freios morais do medo, da vergonha e da culpa, tornando-se um segmento de desembestados, e nos levará ao começo do fim, sem nada de bom para pôr no lugar, se as pessoas de bom senso não reagirem a tempo.

Já vivemos um tempo em que o errado é o certo e o certo é o errado. E quem sempre procurou andar na linha vai ter de pedir permissão ao bandido para abrir a boca.


28 de junho de 2017
Miguel Lucena é jornalista e delegado da Polícia Civil do DF.

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