"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

"PEDIDO DE DESCULPAS" DA ODEBRECHT ESTÁ ENVOLTO NUMA DESFAÇATEZ INACEITÁVEL

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A nota de duas páginas “Desculpe, a Odebrecht errou”, que a empresa estampa hoje nos jornais, é uma lástima. A nota é dirigida a quem? A pergunta faz sentido, porque a nota não tem destinatário. E acima deste título está escrito “Expressão de Opinião”, o que estraga e desmerece ainda mais a nota. É mera “Expressão de Opinião”, e não um Ato de Contrição. E a primeira frase desta nota sem destinatário contém uma mentira que não tem mais tamanho. Uma mentira tão gigantesca quanto o tamanho da empresa e o estrago que ela cometeu por causa da corrupção.
Começa assim: “A Odebrecht reconhece que participou de práticas impróprias em sua atividade empresarial”. E desde quando crimes reiterados contra o erário nacional, contra o dinheiro do povo brasileiro, contra a Nação Brasileira podem ser etiquetados como “práticas impróprias”? Ou seja, a empresa demonstra querer abrandar o que não pode ser abrandado. Tornar leve, suave e suportável o que é monstruosamente pesado e insuportável.
PRESSÕES EXTERNAS? – E prossegue: “Não importa se cedemos a pressões externas, tampouco se há vícios que precisam ser combatidos ou corrigidos no relacionamento entre empresas privadas e o setor público”.
Importa, sim. E como importa! Ou vocês da Odebrecht acham que o povo não sabe o que é cidadania, que o povo brasileiro detesta a desonestidade, sabe o que é decência e não aceita a corrupção?. E mais: “Vícios”? Quer dizer então que os crimes que a empresa e seus dirigentes cometeram contra o povo foram meros “vícios”? Vício é prática repetida de mau hábito. É conduta imprópria.
É de se reconhecer que os senhores usaram um substantivo suave para se referir aos hediondos crimes de lesa-pátria que cometeram, sejam como corruptores e/ou corrompidos ou as duas coisas juntas.
AGRESSÃO A VALORES – “Foi um grande erro, uma violação dos nossos princípios, uma agressão a valores consagrados de honestidade e ética. Não admitiremos que isso se repita”.
Que saiba esta empresa, que apesar de sua inegável tradição e dos relevantes serviços prestados, os crimes cometidos jamais poderiam ter ocorrido, no passado, no presente e no futuro. Logo, prometer que daqui para frente os crimes não mais se repetirão não é uma virtude, mas comezinho dever no relacionamento da empresa com o setor público, relacionamento que a empresa desprezou e deu no que deu.
E essa frase “Por isso, a Odebrecht pede desculpas, inclusive por não ter tomado antes esta iniciativa” não externa arrependimento. Muito menos arrependimento eficaz. O pedido era para ser de perdão. Pedir desculpas é muito pouco. Desculpas se pede quando alguém, sem querer esbarra na outra pessoa, na rua, no ônibus, quando dá um encontrão no outro… Para se redimir da reiterada prática de atos criminosos contra o povo, o mínimo que se espera é pedir perdão. Pedir perdão por toda a vida. E pedido de perdão tendo o povo brasileiro como destinatário.
VÁRIAS LIÇÕES – E acrescenta a nota: “A Odebreccht aprendeu várias lições com os seus erros. E está evoluindo. Estamos comprometidos, por convicção, a virar essa página”.
Se vê que do início ao fim a empresa rotula os crimes que cometeu como meros “erros”. E garante que está evoluindo, que está comprometida, por convicção a “virar essa página”. Não, senhores, não foram “erros”, mas crimes hediondos. E nem era preciso dizer que está evoluindo… que está comprometida, por convicção, a virar essa página. São garantias que não precisam ser prometidas.
E aqueles 10 compromissos que os senhores assumem no verso da página da nota nem precisavam estar escritas. “Não tolerar a corrupção”, “dizer não à desonestidade”… e os demais compromissos deveriam ter sido sempre rotineiramente praticados. É obrigatório. É civilidade. É ordem. É da lei. É da moral.
Por fim, o pior da nota: “A sociedade quer elevar a qualidade das relações entre o poder público e as empresas privadas”. Que barbaridade afirmar isso! Deixa a impressão que nós, a sociedade, o povo brasileiro, é que baixamos a qualidade das relações, quando, na verdade, quem as tornaram promíscuas e imundas foram os senhores e os administradores públicos. Não fomos nós, o povo brasileiro.

02 de dezembro de 2016
Jorge Béja

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