"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

NO PAINEL DO GLOBO, FHC EXIBIU CONTRADIÇÕES NA DUPLICIDADE DA POLÍTICA

FHC e Merval Pereira, no painel de debates de O Globo


No painel promovido pelo Globo, com o apoio da Confederação Nacional do Comércio, conduzido por Miriam Leitão e Merval Pereira, edição de terça-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso desenvolveu suas opiniões, sempre brilhantes e inteligentes sobre a reforma política do Brasil, mas sem se distanciar da eterna duplicidade de que se reveste a política, nos seus lances táticos e estratégicos. 
Além de FHC, Miriam Leitão e Merval Pereira, acrescentaram contribuição importante os jornalistas Aluizio Maranhão, Alan Gripp, Flávia Barbosa, Agnaldo Novo e Sérgio Fadul.

Fernando Henrique defendeu a redução do número de partidos, são 35 no momento, o retorno das doações de empresas às campanhas políticas, o voto distrital. Abordou as acusações do Ministério Público Federal ao ex-presidente Lula, mas acentuou não desejar vê-lo preso. 
Aí a primeira dualidade. Pois se as acusações forem comprovadas, como estão sendo, o que poderá fazer a Justiça? Absolvê-lo? Inocentá-lo? Ou simplesmente não fazer nada?

A segunda dualidade foi cometida quando FHC, buscando reduzir a dimensão do processo crítico que o país atravessa, sustentou a existência de um “pouquinho de corrupção” no governo de quem o sucedeu no Planalto. 
“Um pouquinho?” Os governos Lula e Dilma bateram o recorde brasileiro nesse campo de atividade ilegal. Seja por ação, seja por omissão. O exemplo do que ocorreu na Petrobrás está aí aos olhos e pensamentos de todos.

NÃO HÁ DÚVIDAS – Se por acaso houvesse dúvida, para esclarecê-la bastaria o recente pronunciamento do presidente da Petrobrás, Pedro Parente, que inclusive integrou a administração tucana e falou seus rodeios sobre os prejuízos da corrupção.

Com inteligência, que ninguém lhe pode negar, ao lado de sua elegância e cultura, Fernando Henrique manteve-se na estrada de mão dupla ao defender a volta das doações de empresas (e de empresários) às campanhas políticas. 
Mas fez ressalvas. Para ele, diz o Globo, a empresa não poderia fazer doações a mais de um partido e, mesmo assim, até determinado limite. Não mencionou qual seria, mas apoiou o tema.

Melhor seria, creio eu, que no caso de as doações serem permitidas, elas se tornassem dedutíveis do Imposto de Renda. Neste caso, portanto, seriam de domínio público e refletiriam a verdade dos repasses.

QUAIS DOAÇÕES? – Pois enquanto existiu, a lei permitia que doações fossem registradas na Justiça Eleitoral. Mas quais delas? As doações que se destinaram efetivamente a campanhas ou aquelas que, sob o manto da ilegalidade, foram voltadas para o pesado superfaturamento de contratos, como os da Petrobrás, que alimentaram o sistema desenfreado da corrupção.

Os bens dos corruptos no país, bem como os saldos das contas no exterior, são a melhor prova da torrente que abalou o país e a economia brasileira, além de fomentar as acumulações de capital, às margens do desemprego que leva a população nacional ao desespero, à falta de esperança, a uma ansiedade crescente.

ASSALTO ORGANIZADO – Um pouquinho de corrupção não teria causado esses efeitos, diria FHC. Mas devemos lembrar que desta vez não se trata.............................................. de defeitos da democracia, são reflexos do assalto organizado aos cofres públicos.

De toda forma, é sempre um prazer ler e ouvir FHC, testemunha essencial e capaz de traduzir a realidade brasileira. Até mesmo quando estende a mão a Lula, para, penso eu, que o PSDB tenha mais alternativas para a sucessão de 2018 e não fique apenas com o PMDB de Michel Temer. A dualidade política é o nosso sistema. Que fazer?


19 de outubro de 2016
Pedro do Coutto

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