"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A PEC MAIS URGENTE É A PROPOSTA DE EMENDA AO CÉREBRO

A oposição à reforma do ensino médio e à PEC 241 mostra quando opinar é mais importante do que entender"STRANGER THINGS", NETFLIX


Qual a opinião de Olavo de Carvalho sobre a PEC 241? “Nenhuma. Ainda não estudei o caso o suficiente”, twittou. Olavão já publicou uma cacetada de livros, uma série de cursos, e atualiza todos os dias suas páginas nas redes sociais, com apontamentos sobre política, religião, cultura, história, etc. Mas não é raro que diga a mesma coisa sobre vários assuntos: “não sei”, “não tenho opinião”, “ainda não estudei esse caso”, etc.

Essa atitude, que o filósofo Nassim Nicholas Taleb chama de “humildade epistêmica”, é artigo raríssimo no Brasil. Nossos colégios e universidades preparam milhões de soldados para a atitude contrária. Querem que os alunos se “situem no mundo”, que tenham “propostas” de “intervenção”, que serão lideradas naturalmente pelo governo (sobre isso leiam o excelente ‘O problema da redação do Enem não é o tema, é o formato‘, de Eduardo Levy).

A que distância estamos de um outro modelo: no qual os professores e as bancas de avaliação cobrem que o aluno saiba identificar, esclarecer, comparar, classificar, elucidar, agrupar os principais argumentos dos principais lados do debate, mostrar o “estado da questão”, e somente depois de tudo isso, quem sabe, como consequência e não como prioridade, chegar a uma opinião pela qual assuma plena responsabilidade.

Mas como o modelo não é esse, na hoje arena por excelência do debate público – as redes sociais – vemos especialistas de última hora em ensino médio, orçamento público etc. etc. (sem falar em Brexit!) emitindo suas condenações em peso, prontamente aplaudidos pelas claques de plantão.

Invariavelmente os militantes esbarram em contradições básicas, como ignorar que sua presidenta-diva, “soberana das Américas”, propunha exatamente as mesmas coisas poucos meses atrás (Dilma disse em campanha que iria diminuir o número de matérias do Ensino Médio e seu governo moribundo defendeu um teto para o gasto público), ou tomou atitudes em sentido parecido (Dilma cortou R$ 7 bilhões da Educação dias após vestir a faixa em 2015. Nenhum peteba protestou). Que dirá então cobrar que eles leiam as propostas em debate, avaliem, elucidem, classifiquem, etc. Aqui também existe responsabilidade da imprensa, que, por exemplo, gostosamente tomou a opinião de um professor pela da FGV como instituição; a FGV desmentiu.

Qual a minha opinião sobre a PEC 241? A mesma que tenho sobre o Brexit, sobre o qual nunca escrevi nada. Mas sei que precisamos de uma outra PEC urgente: a Proposta de Emenda ao Cérebro. Depende de cada um de nós usá-lo antes do fígado.

19 de outubro de 2016
Cedê Silva é jornalista.

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