"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

SERÁ QUE A APRECIAÇÃO CAMBIAL VAI IMPEDIR NOSSO CRESCIMENTO ECONÔMICO?


Tornou-se a taxa de câmbio um dos principais centros das atenções do mercado financeiro, após a posse do novo presidente do BC (Banco Central). 
O debate está sendo travado por economistas e analistas econômicos sobre se o risco do nível praticado atualmente influencia efetivamente a retomada do crescimento da economia brasileira. É uma questão importante que necessita ser melhor digerida.

Questiona-se de imediato: o que é mais oportuno no momento para o retorno cíclico da economia, uma apreciação no câmbio que venha a auxiliar o BC a amansar a inflação e assim começar a cortar a taxa de juros ou, lançar mão de uma depreciação cambial como instrumento que venha a favorecer o ambiente externo, substituindo importações da indústria? 
Se ao menos fôssemos uma economia aberta, com significativos resultados nas exportações e importações no PIB (Produto Interno Bruto), ficaria claro para nós que a depreciação no câmbio seria atraente, por gerar um efeito positivo sobre a atividade. 

A grande realidade é que somos completamente diferentes dos países asiáticos. Os relatórios divulgados pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) atestam que as importações representam algo em torno de 22% do consumo de produtos industrializados e as exportações inferiores a 20% da produção industrial. Sendo assim, é o mercado interno que impulsiona o crescimento.

É indiscutível a debilitação do Real apresentada nos últimos anos, embora ela venha colaborando com o setor industrial nas substituições das importações, enquanto a elevação das exportações se exibe mais acanhada, em função da evidente queda no comércio global, dentre outras. 
É admissível, portanto, que ela  não seja considerada a principal força propulsora para o nosso crescimento. Outro ponto importante para o equilíbrio macroeconômico passa, essencialmente, pelo ajustamento das contas externas que, por si só, não contribuirá para a volta cíclica do crescimento econômico.

É necessário relembrar o início da década passada, no período que se inicia em 2003, no começo da era petista e vai até 2008, com o estouro da crise econômica mundial, quando houve uma acentuada valorização do Real e, mesmo assim, a indústria conseguiu ir no vácuo do crescimento da produção global.  
Sem dúvida, as contas externas sofreram com o câmbio, mas não dificultaram o crescimento econômico, devido ao fato de que o incremento notado na demanda interna ofereceu uma perceptível compensação ao aumento verificado nas importações e, também, identificou-se na ocasião, um menor apetite do exportador. 

A valorização da nossa moeda influenciou basicamente a queda da taxa básica de juros, deixando a dinâmica inflacionária bem menos agressiva. Portanto, nota-se que existem fundamentos palpáveis para se reconhecer que o resultado líquido do Real foi contributivo para a atividade econômica.

Como sabemos, a depreciação cambial estimula a inflação, destrói a renda do trabalhador, influiu negativamente no índice de desemprego e ao se introduzir uma política monetária mais “arrochada”, impacta violentamente na demanda interna.  
É inegável que as contas externas tendem a se recuperar ao longo do tempo. Mas não se pode assegurar que seja uma força capaz de impulsionar o nosso crescimento, principalmente quando se trata de uma nação de porteiras comparativamente fechadas como a nossa, sendo a demanda interna, a essência básica na sustentabilidade da sua dinâmica econômica.  

Os estudos divulgados afirmam que, historicamente, nos períodos em que uma moeda se apresenta debilitada podemos associá-la, imediatamente, a um pífio crescimento econômico.

Sabemos, de antemão, que o nosso BC não tem o controle total sobre a taxa de câmbio. Sofre no seu ciclo, uma forte influência da moeda americana no mercado internacional.  Pelo menos, é o que vemos na profunda relação existente entre o Real/dólar que está consequentemente interligada a uma abrangente cesta de moedas/dólar. 
Com a implantação do regime de câmbio flutuante a partir de 1999, foram raros os momentos em que se verificou um descasamento entre essas duas variáveis, devido à grande volatilidade da nossa moeda. 
O melhor exemplo aconteceu durante a conturbada campanha eleitoral de 2002, quando o Real perdia força em um cenário também de depreciação do dólar no mercado global.

Fatores de origem prioritariamente internos, mesmo que sejam considerados menos relevantes, muitas vezes influenciam na conduta da taxa de câmbio, atingindo sua volatilidade e a intensidade de ajuste relacionado à tendência do dólar no âmbito mundial.  

A justificativa quanto ao Real, que desde 2012 vem apresentando um desempenho pior que o sugerido pelo comportamento do dólar, deve-se, exclusivamente, à tragédia do desgoverno de Dilma, principalmente na sua política econômica irresponsável que acabou destruindo o Brasil, revelando completa insuficiência no crescimento da economia, acompanhada de inflação elevada, inclusive penalizando ainda mais o Real. 
Talvez por isso, as medidas de risco Brasil se afastaram notadamente em relação aos países similares. Ou melhor, o descolamento da nossa moeda aconteceu mais em função das expectativas aumentarem consideravelmente o risco-país do que propriamente as intervenções lideradas pelo BC. 

As interferências do BC não provocam danos ou prejuízos, assim como interferem muito pouco na dinâmica da taxa de juros. Existem muitas publicações acadêmicas e, até mesmo, contribuições realizadas pela equipe técnica do BC que explicam a baixa eficiência das intervenções, salvo num espaço curtíssimo de tempo. 

Temos um excelente exemplo das vultosas compras de dólar entre 2003/08, quando a cotação do dólar caiu consideravelmente. Para o setor real, a volatilidade da moeda é muito pior do que a sua valorização. 

Vamos pressupor um empresário importador de insumos que fez seu planejamento financeiro estimando um dólar num patamar cambial de R$ 3,00 e, depois da compra efetivada, a cotação declina para R$ 2,50 no mês subsequente. Obviamente, desaparecerá a competitividade inerente ao preço. É nesse exato momento que entra o BC, procurando administrar a volatilidade.

É prudente não se afirmar com segurança que estamos próximos de um novo ciclo de valorização cambial. Desde o Brexit, no mês passado, temos visto uma movimentação no câmbio que, possivelmente, poderá ser o reflexo de um sentimento que os países emergentes têm no tocante a interesses relacionados às economias avançadas.  Uma manifestação que se estima ser temporária e jamais poderá ser comparada ao ciclo visto na década passada.

Será que existem condições no presente para se apostar na possibilidade de um novo ciclo de enfraquecimento da moeda americana no mercado global? Os EUA exalam ganhos de produtividade bem mais elevados que o resto do mundo, muito diferente do que vimos na década passada. 
Acontece que os emergentes desaceleraram. Está difícil se prever um “boom” de commodities, já que o desempenho do comércio mundial vive um dos seus piores momentos, depois de ter apresentado, no passado, um crescimento superior a 7% a.a. 

Entretanto, a economia americana avança por ser mais fechada e menos suscetível ao comércio global. Com isso, sua moeda tende a se apreciar mais, mas não agora, e não deverá demonstrar aquela celeridade que vimos no ano passado.

Por fim, talvez esteja enganado quem pensa num desfecho para a questão da nossa moeda se fortalecendo no futuro próximo. Por enquanto, não se comenta tanto assim, por se entender que o câmbio efetivo real se encontra bem distante das mínimas verificadas há cinco anos. 
Talvez em função da ação do BC não poder identificar algo além do que moderar a volatilidade da moeda, provavelmente, se estivermos no limiar de um novo período de apreciação, o que realmente ainda não está clarificado, apesar de que não seria ruim para a retomada do crescimento econômico. Lembremos aquele conceito soberano - câmbio forte, crescimento à vista.

A ansiedade já está plenamente integrada ao cotidiano dos brasileiros por vários motivos irrefutáveis e, um desejo se destaca acima de tudo - a reconquista do crescimento da economia brasileira, pois, somente através dela, poderemos ressuscitar, sobretudo, o nível do emprego e, evitarmos, dessa forma, uma convulsão social que está nos rondando há algum tempo. 

Pressinto que o que estiver sendo feito na direção para ajudar o BC a flexibilizar as condições monetárias com segurança é aceitável. Particularmente, sou apenas contra a depreciação do Real através da imposição.

20 de julho de 2016
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS (Universidade Salvador)

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