"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

O FIM DO GOVERNO DILMA É SÓ O COMEÇO


A democracia impôs uma dura derrota ao golpismo. Ainda que o governo estivesse subtraindo e loteando a República em "tenebrosas transações", o maior medo de Dilma Rousseff se concretizou: a Câmara dos Deputados autorizou o Senado a abrir o processo de impeachment. É o fim da crise? Não, mas é uma vitória importante e histórica que sinaliza um novo começo.

Com a autorização dada pela Câmara, as atenções voltam-se para o Senado. Renan Calheiros será pressionado para que o julgamento da denúncia corra o mais rápido possível e, da mesma maneira que os deputados foram cobrados nas redes sociais e em suas bases eleitorais para votar "sim", os senadores também o serão.

Ao que tudo indica, o processo terminará por cassar o mandato de Dilma sem maiores problemas. Fora, é claro, alguma firula protelatória no STF ou a clássica baderna dos movimentos representantes da rebeldia a favor e do fascismo vermelho.

É importante ressaltar que o impeachment não é a solução para todos os problemas do país. No dia seguinte à queda de Dilma Rousseff, os serviços públicos continuarão péssimos, o desemprego e a inflação continuarão altos, a desigualdade social ainda será gritante, e a corrupção continuará existindo.

Reconstruir o país será mais difícil do que tirá-lo das mãos daqueles que o destruíram.

Os diversos setores da sociedade civil que estão unidos para derrubar o governo mais corrupto da história do país devem continuar trabalhando em conjunto no pós-Dilma. Todo o esforço de conscientização política e amadurecimento da democracia que vem sendo feito deve continuar.

Devemos fiscalizar rigorosamente o próximo governo para que cumpra a Constituição. Também precisamos exigir que a sociedade seja ouvida para a proposição de uma agenda política, econômica e social condizente com as necessidades do país. Cometer o mesmo erro de Dilma Rousseff, impondo pautas políticas de cima para baixo, seria um erro fatal.

Além disso, todas as experiências vividas por aqueles que lutaram contra o governo petista, como os gigantescos protestos combatidos com discursos fantasiosos e mobilizações de milicianos e militantes pagos; o trabalho de pressão sem precedentes que foi feito para garantir os votos necessários para o impeachment; as investigações e revelações que desconstruíram uma ditadura baseada na propina; a defesa e o fortalecimento de instituições democráticas, que foram violadas durante mais de uma década, devem servir de base para o novo período que nossa democracia vivenciará.

A luta contra a sombria ditadura militar é a narrativa fundadora do PT e de seus aliados, que a utilizaram para executar o projeto de poder que destruiu o país. A tortura, a perseguição e a censura que puniram aqueles que se opuseram àquele regime autoritário marcaram uma geração de políticos que pautou a política pós-redemocratização e transformou uma resistência virtuosa em justificativa para o crime.

A queda de Dilma Rousseff significa a derrocada da mística petista, o fim de um ciclo. E todo o esforço que vem sendo empenhado na luta contra o autoritarismo e a delinquência do atual governo será contado como a fundação de uma geração que não aceita ataques à República, o início de um novo tempo para a democracia.

O impeachment é só o começo da mudança.



21 de abril de 2016
Kim Kataguiri, Folha de SP

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