Foi difícil para a presidente Dilma Rousseff assinar, na segunda-feira, dia 1º, a exoneração de Anderson Dorneles, gaúcho de 36 anos. Mais do que um assessor, Dorneles – a quem ela se referia como “menino” – era uma espécie de faz-tudo da presidente havia mais de uma década.
Os dois se conheceram quando Dorneles tinha 13 anos e trabalhava como office-boy da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, dirigida na ocasião por Dilma. Desde então, ela resolveu adotá-lo: carregou o menino para todos os órgãos em que trabalhou até chegar à Presidência.
No Planalto, era o cara da maçaneta, um dos poucos autorizados a abrir a porta do gabinete de Dilma sem precisar ser anunciado, e o único a ter acesso ao celular da presidente.
Os dois se conheceram quando Dorneles tinha 13 anos e trabalhava como office-boy da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, dirigida na ocasião por Dilma. Desde então, ela resolveu adotá-lo: carregou o menino para todos os órgãos em que trabalhou até chegar à Presidência.
No Planalto, era o cara da maçaneta, um dos poucos autorizados a abrir a porta do gabinete de Dilma sem precisar ser anunciado, e o único a ter acesso ao celular da presidente.
Oficialmente, a saída de Dorneles é atribuída a um motivo estritamente pessoal: ele vai casar e morar com a mulher em sua terra natal, Porto Alegre. A cerimônia está marcada para o dia 26 de março. As razões que o levaram a deixar o Planalto, no entanto, vão muito além das questões nupciais. Guardam relação com as investigações da Lava Jato.
Nos próximos dias, o acordo de delação premiada com a empreiteira Andrade Gutierrez, envolvida com o esquema do Petrolão, pode ser homologado. A PF suspeita que Dorneles possa ser um importante elo entre a empreiteira e o Planalto. Para os investigadores, existem fortes indícios de que, para azeitar a relação com o afilhado de Dilma, a Andrade o presenteou com o Red Bar, um restaurante inaugurado no estádio Beira-Rio em novembro do ano passado.
SOCIEDADE OCULTA
No contrato social da empresa, Dorneles não figura como dono do empreendimento, mas há indicações que apontam para uma sociedade oculta entre ele, o advogado Douglas Franzoni Rodrigues e o empresário do setor de automóveis no Rio Grande do Sul, Jaime Menezes Sobrinho, estes últimos os donos oficiais do bar, segundo documento de constituição da empresa, cujo nome fantasia é “JD”.
A PF já apurou junto a testemunhas que, na noite de 20 de novembro, quando o bar foi inaugurado num evento de cinco horas de duração, o afilhado de Dilma, sempre ao lado de Franzoni e Menezes, se portava como anfitrião. Animado e muito solícito, recebeu cumprimentos dos convidados e posou para fotos em frente ao local. Há mais elementos que reforçam a ligação do ex-assessor palaciano – e da própria Dilma – com Douglas Franzoni.
IstoÉ levantou que o advogado que aparece como dono do Red Bar foi nomeado para a Casa Civil em setembro de 2005, meses depois de Dilma assumir o posto no lugar de José Dirceu, àquela altura apanhado no mensalão. Franzoni foi designado para função comissionada na Secretaria de Controle Interno da Casa Civil, órgão responsável pelas boas práticas na administração pública.
Formado em Direito, Franzoni se transferiu em agosto de 2007 para a Consultoria Jurídica do Ministério de Minas e Energia, época em que também atuou como advogado da Eletronorte, duas áreas sob a influência de Dilma e de sua ex-auxiliar Erenice Guerra. Documentos obtidos por IstoÉ também mostram que, além da amizade germinada em terras gaúchas e florescida em Brasília, o advogado Franzoni assumiu a defesa de Anderson em pelo menos duas causas de interesse particular na Justiça brasiliense. A reportagem não localizou Franzoni para comentar o caso. IstoÉ enviou pediu à Presidência esclarecimentos sobre a exoneração de Dorneles e suas relações com o advogado. Não houve resposta.
DECISÃO ANTIGA
A saída de Dorneles do Planalto foi oficializada na última semana, mas a decisão já havia sido tomada em setembro do ano passado, no rastro de uma série de reuniões que teve como palco os principais gabinetes da República – sempre acompanhada pelo assessor de Dilma, Giles Azevedo, a quem Dilma confia as mais espinhosas missões.
Na ocasião, Dilma já sabia do bar e não queria encrenca próximo de seu gabinete. Sobretudo, porque é notório que a presidente se empenhou pessoalmente para, em meio aos atrasos no cronograma de obras dos estádios da Copa, liberar o dinheiro que financiaria a obra do Beira-Rio, de responsabilidade da Andrade Gutierrez, uma das empreiteiras investigadas pela força-tarefa da Operação Lava Jato.
A burocracia só foi resolvida depois que ela pediu ao presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que acabasse com o impasse. O desenlace permitiu que, em fevereiro de 2014, a petista conseguisse inaugurar o Beira-Rio, com a participação do então governador gaúcho, Tarso Genro (PT), do então secretário-geral da Federação Internacional de Futebol, Jérôme Valcke, e do pentacampeão Ronaldo Fenômeno. Um ano depois, como explicar a ligação de seu afilhado com um bar que teria sido ofertado pela Andrade Gutierrez justo no Beira-Rio? A saída foi tirar o bode da sala. Claro que nem todos os rastros foram apagados.
08 de fevereiro de 2016
Marcelo Rocha
IstoÉ
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