"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

MUITO ANTES DA RAPOSA - SERRA DO SOL


No final do Império, um engenheiro de Minas Gerais, projetou uma estrada-de-ferro para ligar as então províncias de São Paulo,ParanáSanta Catarina e Rio Grande do Sul pelo interior. Poucos dias antes da Proclamação da República o Imperador D. Pedro II outorgou a concessão dessa obra a empresários brasileiros e apesar das revoltas do início do novo regime republicano. O trecho de 264km entre Itararé e Rio Iguaçu (em Porto União)  estava concluído em1905.
           
Em 1908 Percival Farquhar,(holding Brazil Railway Company), financiado por capitais americanos e ingleses, adquiriu o controle da Companhia de Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande ainda em construção – O Governo da República garantiu-lhe por contrato, à subvenção de 30 contos de réis por Km construído e juros de 6% sobre todo o capital que fosse investido na obra. Como receberia por Km, ele alongou a linha, fazendo curvas desnecessárias, economizando assim em aterros, pontes, viadutos e túneis.
           
Antevendo lucrar com a madeira das florestas de araucária da região, conseguiu receber como doação a área de 15 Km de cada lado da estrada. A ferrovia foi inaugurada em 1910 e iniciou a desapropriação das terras ao longo da estrada que estivessem ocupadas. O governo republicano declarara que a área era devoluta, mas a realidade era bem outra.

Seu povoamento tivera início já no século XVIII, com o comércio de gado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo, como locais de parada. Milhares de colonos viviam ali, da criação de gado e da coleta de erva mate,semi isolados. Desta desapropriação resultou a Guerra do Contestado, um dos mais vergonhosos massacres criados pelo irresponsável golpe de 15 de novembro.

Não se poderá isentar Farquhar da culpa pelos trágicos episódios que vieram a suceder na região do Contestado, mas o governo da república, ao doar - mediante um contrato de concessão de serviços públicos - terras  ocupadas há séculos por brasileiros como se fossem terra de ninguém, foi o principal causador dos graves conflitos ali ocorridos. Foi lançada aí a semente do que acabaria se tornando a Guerra do Contestado.

Recentemente assistimos na Raposa-Serra do Sol: o expulsar os brasileiros lá radicados há séculos Este parece ser o padrão normal dos maus governos republicanos. Imagino o que acontecerá se um dia for eleita a Marina Silva.

O complexo da Brazil Railway Company, dominado pela corrupção, foi à concordata em 1917. Em 1940 o governo nacionalista de Getúlio Vargas encampou-lhe todos os bens, que acabaram por serem incorporados a Rede Ferroviária Federal S/A e esta terminou por ser privatizada por FHC, que a dividiu em pedaços que terminaram na maior parte sendo vendidos como sucata. Perdeu-se assim um patrimônio de 19 bilhões.

Esta praga de governo vem de longe, desde 1889.

25 de janeiro de 2016
Gelio Fregapani é Escritor e Coronel da Reserva do EB, atuou na área do serviço de inteligência na região Amazônica, elaborou relatórios como o do GTAM, Grupo de Trabalho da Amazônia. 

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