Em manifestação ao Supremo Tribunal Federal, o juiz federal Sérgio Moro afirmou que Marcelo Odebrecht e ex-diretores da construtora Odebrecht ainda não apresentaram esclarecimentos à Justiça sobre uma suposta “orientação” do empresário para dificultar as investigações do esquema de corrupção da Petrobras.
“Até o momento não foram prestadas explicações pelos pacientes ou por seus defensores sobre a orientação de Marcelo Odebrecht para, aparentemente, apagar mensagens e memórias de aparelhos celulares de Márcio Faria e Rogério Araújo [ex-diretores], ou seja, destruir provas (“Higienizar apetrechos MF e RA”)”, disse o juiz.
No ano passado, a Polícia Federal apreendeu um celular na casa do executivo e analisou as mensagens que constavam no aparelho.
As declarações do juiz foram feitas em parecer defendendo a manutenção da prisão preventiva de Marcelo Odebrecht. Na semana passada, o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, negou pedido de liberdade feita pela defesa de Marcelo Odebrecht.
O ministro justificou sua decisão com base no parecer da Procuradoria-Geral da República, que sustenta que há risco de, uma vez fora da cadeia, o empresário volte a interferir no processo judicial.
“SEGURAR ATÉ O FIM”
Em sua manifestação ao STF, Moro diz que não houve esclarecimento “sobre a orientação de Marcelo Odebrecht para, aparentemente, que Márcio Faria e Rogério Araújo não movimentassem seus ativos, pois, se sequestrados, seriam reembolsados pela Odebrecht (“MF/RA: não movimentar nada e reimbolsaremos tudo e asseguraremos a familia; vamos segurar até o fim”)”.
O juiz também aponta que não foi esclarecida a “orientação de Marcelo Odebrecht para, aparentemente, divulgar doações de campanhas, sabe-se lá com qual objetivo obscuro (“vazar doação de campanha”), e igualmente nada esclareceram sobre o que consistiria o trabalho “para parar/anular (dissidentes da PF)”, em aparente cooptação ilícita de policiais federais para atrapalhar as investigações”, completou Moro.
Por esses motivos, Moro afirmou ao STF que a prisão do empresário tem fundamentos legais e que a soltura dele poderia colocar em risco a ordem pública, “caracterizada pela aparente prática profissional e habitual de crimes de corrupção ativa e de lavagem de dinheiro, envolvendo não só agentes da Petrobras, mas também agentes políticos”.
OUTRO LADO
Em nota, a defesa de Marcelo Odebrecht “esclarece que todas notas mencionadas no ofício foram amplamente esclarecidas em interrogatório entregue por Marcelo Odebrecht no âmbito da ação penal em curso na Justiça Federal”.
O texto diz ainda que “a defesa aguarda com serenidade a conclusão do julgamento de seu habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal, em que está sendo analisada sua prisão preventiva, ao mesmo tempo em que mantém a confiança de que, ao final da ação judicial, sua inocência ficará cabalmente esclarecida e comprovada”.
No depoimento entregue por escrito em outubro, Marcelo Odebrecht disse que “nunca cogitou interferir nas investigações”, sustentou que a referência aos polícias era uma discussão com o departamento jurídico para avaliar se havia algum debate se grampos ilegais na Lava Jato poderiam parar ou anular as investigações.
O empresário afirmou ainda que orientou a divulgação de dados sobre doações eleitorais para evitar ilações e que a questão de ex-diretores envolvidos na Lava Jato não mexerem em ativos no exterior foi “uma anotação para conversar com o jurídico sobre se deveríamos falar com eles sobre não fazer movimentações atípicas”.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O temperamento de Marcelo Odebrecht não tem nada a ver com seu avô Norberto, recentemente falecido, o engenheiro baiano que criou o império. Dr. Norberto não pensava apenas em ganhar dinheiro e dedicou muito trabalho e parte de sua fortuna para desenvolver um importantíssimo projeto social no Sul da Bahia, abrangendo diversos municípios. Seguindo a norma de ensinar a pescar, ao invés de dar o peixe, o patriarca da Odebrecht fez da educação e do trabalho as bases para mudar a vida das comunidades carentes daquela belíssima região. Mais o neto é outro tipo de gente. Pensou que facilmente sairia da cadeia e seguiu na trilha da corrupção, mandando cooptar servidores da Polícia Federal e jornalistas da grande mídia, para anular os processos da Lava Jato. Não conseguiu. Mas continua tendo esperanças de que vai ser solto pelo Supremo, um tribunal do qual se pode esperar qualquer coisa, hoje em dia. Ah, Brasil… (C.N.)
14 de janeiro de 2016
Deu na Folha
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