"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

O EMBRUTECIMENTO POLÍTICO É A DERROTA DA CIVILIZAÇÃO

Só para variar, houve quem pervertesse completamente o que eu disse no meu artigo anterior, Tragédia na França: a culpa é da própria Europa. OK, voltemos ao tema. 

Eu tratei basicamente de duas coisas: primeira, que a civilização ocidental – da qual a Europa é o berço e um dos dois melhores exemplos, o outro sendo a América do Norte – está pagando um preço altíssimo por perverter os conceitos que a sustentam; segunda, a estupidez do desarmamento da população honesta e a cultura de coitadismo da qual decorre esta aberração.

Vida de centrista
São valores básicos da civilização ocidental a democracia, a liberdade individual, o progresso científico-tecnológico, a primazia dos Direitos Humanos e a justiça social, entre outros. As duas forças embrutecedoras da política pós-Revolução Francesa – a direita e a esquerda – detestaram o artigo porque nele eu bato em uma ferida de cada uma.
A direita não gostou porque eu disse que a culpa pelo embrutecimento terrorista é da falta de compaixão e solidariedade pelo sofrimento de grandes populações deixadas à própria sorte e à mercê de “governos” opressores que massacram “seus” povos. A direita odeia ser cobrada por compaixão e solidariedade, valores de que ela desdenha alegando algo que é bem representado pelo ditado “quem não tem competência não se estabeleça” – ou “cada um que se vire”.
A esquerda não gostou porque eu disse que o empoderamento do indivíduo, inclusive para o uso de força letal para garantir sua segurança, é uma necessidade urgente e uma condição sine qua non para o convívio pacífico e harmônico em sociedade – paz e harmonia essas baseadas na capacidade de defesa do cidadão, não no Estado-papai que “protege” e domina o cidadão em todas as esferas de sua vida, o que a esquerda indubitavelmente sempre deseja fazer.
Mas a verdade é que não se constrói um mundo pacífico sem compaixão, solidariedade e capacidade de retaliação letal contra bandidos amplamente distribuída entre a população. E entre estes bandidos se incluem criminosos comuns, terroristas e qualquer governo que abuse de suas prerrogativas. Aliás, é por isso que o governo não tem que saber quem tem armas e quem não tem, nem quantas. Só o que o governo tem que saber é quem está habilitado a portá-las em via pública, pelo mesmo motivo que precisa saber quem está habilitado a dirigir um veículo automotor.
Todavia, de um modo nefasto, direita e esquerda se aliam para provocar o embrutecimento da política e o afastamento do cidadão médio da cuidadosa avaliação destes imperativos e da ponderação na política.
Eu disse com todas as letras que a culpa pelos ataques terroristas na França é da própria Europa. E eu sustento esta afirmação. Foi a falta de compaixão e solidariedade pelos povos que estavam sob domínio de ditaduras laicas ou religiosas e a fuga à responsabilidade pela sorte de milhões de inocentes massacrados que permitiu a expansão e a exportação de ideologias autoritárias e do terrorismo. Nenhum regime que submete inocentes à força é confiável. Alguns deles, ao se fortalecerem, se tornarão expansionistas. Aí estão a história do nazismo, do comunismo, do cristianismo e do islamismo para provar, cada um dos quatro com seu próprio deus único. Em um momento ou em outro, de um modo ou de outro, todos eles se tornaram expansionistas e massacraram muita gente.
Eu com todas as letras que o desarmamento da população honesta é uma estupidez coitadista que faz parte de um sistema de (des)educação que pretende emascular, acovardar e incapacitar o indivíduo a fazer uso de força – inclusive de força letal – para defender sua própria vida, sua família e sua propriedade. Aí está a história de todos os massacres em universidades americanas e de atentados terroristas na Europa para provar, cada um dos dois tipos de ataque com seu próprio método de explorar a incapacidade de reação da população honesta desarmada e a incapacidade do Estado de proteger seus cidadãos, seja com serviços de inteligência, seja com policiamento ostensivo, seja com que método for.
E eu também disse que não se pode sequer sonhar com uma sociedade livre de criminosos, fanáticos, intolerantes e insegurança. É algo com que teremos de conviver enquanto formos macacos falantes. Mas podemos minimizar muito os danos e construir uma sociedade agradável e segura de viver se – e somente se – deixarmos de dar ouvidos às ideologias pervertidas que sustentam o descaso para com o sofrimento do próximo, independentemente de fronteiras artificiais, e o mimimi coitadista e covarde de quem quer lavar as mãos e terceirizar a garantia de sua segurança para outros macacos falantes, uma expectativa irreal que mais uma vez foi demonstrada como tal.
O afastamento do centro na política é sempre embrutecedor. A terceirização obrigatória da segurança pessoal é sempre irrealista e inviável, por mais que seja útil contar com instituições que minimizem nossos riscos. Enquanto estas duas coisas não forem adequadamente compreendidas, não teremos paz, nem harmonia, nem segurança.

16 de novembro de 2015
Arthur Golgo Lucas 

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