"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

HÁ 60 ANOS, LOTT GARANTIA A POSSE DE JK, VITORIOSO NAS URNAS



Fidel Castro foi recebido por Lott em 1959
Exatamente hoje, 11 de novembro, há 60 anos desencadeava-se, sob a liderança do general Teixeira Lott, então ministro do Exército (naquele tempo chamava-se ministro da Guerra), o movimento político militar que afastou Carlos Luz da presidência da República e assegurou a posse de Juscelino Kubitschek, que vencera as eleições de 3 de outubro de 1955. Contra sua posse legítima começava a ocorrer uma conspiração liderada pelo deputado Carlos Lacerda (UDN-DF), que aglutinava em sua sombria estrutura setores radicais das Forças Armadas.
Carlos Luz era deputado por Minas, presidente da Câmara Federal, e investido no cargo em face do afastamento do presidente Café Filho, que sucedera Getúlio Vargas no trágico desfecho de agosto de 54. Café Filho revelara-se vacilante, mas estava na conspiração golpista. Licenciou-se para tratar de um infarte e se internara no Hospital dos Servidores do Estado, dirigido pelo médico Aloísio Sales, cardiologista de renome. O HSE, atualmente rebaixado, era unidade de referência nacional.
Com o afastamento de Café Filho, Carlos Luz assumiu o Palácio do Catete. Carlos Lacerda, através da Rádio Globo (a TV só surgiu em 65), pregava aberta e alucinadamente o que denominava de contragolpe. O panorama nacional fervia.
A VOZ DAS URNAS
Lott assumiu a posição legalista de respeito ao voto democrático e, portanto, a voz das urnas. Na noite de 10 de novembro, Carlos Luz convoca o ministro do Exército e anuncia sua demissão. O general Henrique Duffles Teixeira Lott – volta para sua residência oficial, no Maracanã, ao lado da casa do comandante do I Exército, general Odilo Denys.
Denys comunica a Lott que o alto comando não aceita a demissão que descortinava a estrada do golpe. Lott assume o movimento. Na alvorada de 11 de novembro – mais uma vez a história não esperou o amanhecer – Carlos Luz deixa o Catete e embarca no cruzador Tamandaré.
Carlos Lacerda está a bordo. Luz pretende ir a Santos e contar com o apoio de Jânio Quadros, governador de São Paulo. Antes de desembarcar a ideia se evapora. Jânio afirma-se pela posse de JK. A Câmara vota o impeachment de Carlos Luz.
O gaúcho Flores da Cunha passa a presidir a Câmara. Nereu Ramos, presidente do Senado, assume a presidência da República. Dez dias depois, Café Filho deixa o HSE. Propõe-se a reassumir o Catete. Mas a Câmara vota também o seu impedimento. O governo decreta sua prisão domiciliar. Café Filho morava na Joaquim Nabuco, esquina com N.S. de Copacabana.
Ali permanece até 31 de janeiro de 56, quando JK assume o mandato para o qual fora eleito. O seu vice era João Goulart. JK lançou o desenvolvimento econômico, com base no slogan 50 anos em 5. A 31 de janeiro de 61 passou a faixa presidencial a Jânio Quadros, depois dos anos dourados, com o país em plena democracia. Mas Jânio Quadros renunciou a 25 de agosto de 61. A partir daí a história do Brasil mudou de curso.
JK IA VOLTAR
JK não conseguiu voltar ao governo em 65, como era seu projeto, como era seu sonho. E também o sonho da grande maioria da população. Em 63, quando meu amigo Paulo Montenegro presidia o Ibope, uma pesquisa apontava JK com 63% das intenções de voto. Lacerda atingia 17 pontos.
Escrevi sobre essa pesquisa no Correio da Manhã. JK e o Correio da Manhã, como no filme famoso, se foram com o vento. O texto, hoje, é matéria de memória, para citar o romance de Carlos Heitor Cony, amigo e praticamente seu melhor biógrafo político. A interpretação de Cony sobre como Juscelino não se surpreendeu com a renúncia de Jânio é algo genial.
CARDOZO RESPONDE A LULA
Mas já que estamos falando de embates políticos, vamos sair do passado para o presente e focalizar a resposta que, através de entrevista a Catia Seabra e Gustavo Uribe, Folha de São Paulo de segunda-feira, o ministro Eduardo Cardozo deu ao ex-presidente Lula, acentuando que “ele tem todo o direito de não gostar de mim”. E acrescentou: “Se você quer, na vida política, se comportar dentro dos princípios do estado de direito, prepare-se para ter inimigos e perder amigos”. Mais claro, digo eu, impossível. Foi uma resposta direta ao verdadeiro autor do tema que, inclusive tornou-se fonte de inspiração da entrevista.
“O que posso dizer – continuou o titular da Justiça – é que tenho a consciência tranquila e jamais irei interferir no mérito de uma investigação, a menos que haja, comprovados, indícios de ilegalidade. A presidente Dilma Rousseff jamais me pediu que obstruísse uma investigação. Alguém que pensa assim (assim como? Quem é o personagem?) tem maus conhecimentos da própria estrutura institucional brasileira, além de má compreensão do papel do ministro da Justiça”.
As afirmações de José Eduardo Cardozo – claro – têm endereço certo. Lula, não há a menor dúvida. Vamos ver se o ex-presidente aceitará o debate nos termos em que Cardozo colocou. E no palco da Folha de São Paulo.

11 de novembro de 2015
Pedro do Coutto

Nenhum comentário:

Postar um comentário