"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

BRASIL DEVIA IMITAR O MODELO CAPITALISTA ADOTADO NO URUGUAI



Na ABI, a jornalista Jussara Martins, Mujica e o editor Carlos Newton



















Estamos sempre comentando aqui na Tribuna da Internet sobre a derrocada das ideologias, que hoje quase nada significam. Os exemplos são muitos, só não vê quem não quer enxergar. O mais interessante, porém, é o Uruguai do líder socialista Pepe Mujica. Por seu passado de guerrilheiro tupamaro, na facção marxista-leninista que enfrentou a ditadura uruguaia, ninguém esperava que Mujica se tornasse um governante que se libertasse das amarras ideológicas para se ater exclusivamente aos interesses nacionais. E o resultado é surpreendente.
Enquanto o Brasil mergulha numa esquisita tentativa de socialismo burocrático, com crescimento desmedido da máquina administrativa e seu aparelhamento ideológico, em meio a uma expansão de ações sociais com objetivos eleitoreiros, o Uruguai de Mujica faz exatamente o contrário, dando espaço ao crescimento de um capitalismo pragmático, que está possibilitando um admirável crescimento sustentado da economia.
Com uma população de apenas 3,4 milhões de habitantes, enquanto o chamado Grande Rio já tem mais de 12,2 milhões, o Uruguai caminha velozmente para ser um país desenvolvido. Essa mudança começou em 2005, quando o socialista Tabaré Vásquez assumiu a presidência, e se consolidou no mandato seguinte, comandando pelo correligionário Pepe Mujica. O curioso é que até hoje os dois são chamados de “esquerdistas”, apesar de terem implantado um modelo capitalista de prioridade nas exportações e fortalecimento do ambiente de negócios para atrair multinacionais e, por consequência, os investimentos.
12 ZONAS FRANCAS
O Uruguai, que deve registrar este ano crescimento de 3% a 4% no PIB, mantém 12 Zonas Francas, que já abrigam mais de 800 empresas estrangeiras. O Brasil, cujo PIB vai cair mais de 3%, só tem uma Zona Franca, a de Manaus. O desemprego no Uruguai é de 7,4%, mas a medição é verdadeira, bem diferente do deplorável sistema adotado no Brasil, que exclui da estatística quem desistiu de procurar emprego e quem se vira fazendo biscate ou trabalhando como camelô.
Esse sucesso econômico do Uruguai deveria notabilizar a dobradinha socialista Vásquez/Mujica, que preservaram duas conquistas do país – a melhor assistência médica pública do continente e um sistema de educação cada vez mais qualificado.
Na imprensa brasileira, raramente se lê alguma reportagem a respeito do êxito socieconômico dos pragmáticos “socialistas” uruguaios. Só se fala que Mujica legalizou a maconha e dirige um velho fusca, pelo qual recusou uma oferta de U$ 1 milhão de dólares, feita por um sheik árabe. Ao dizer não, disse que não podia decepcionar os amigos, que fizeram uma vaquinha e lhe deram o carro de presente, quando ele estava numa situação financeira muito difícil.
MUJICA IN RIO
No dia 27 de agosto, Mujica esteve no Rio para receber uma homenagem da Federação das Empresas da América do Sul, presidida por Darc Costa. Fui recebê-lo no auditório da Associação Brasileira de Imprensa, junto com o vice-presidente Paulo Jerônimo e nossos colegas da direção da ABI. Mujica fez um discurso histórico, de improviso, sobre a necessidade de conter o consumo e diminuir a devastação dos recursos do planeta, na mesma linha defendida pelo Papa Francisco. A imprensa inteira estava lá, todos os grandes jornais, as emissoras de TV, eram dezenas de jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas.
Depois da solenidade, eu e minha mulher, a jornalista Jussara Martins, estávamos conversando com Mujica quando os jornalistas nos cercaram para entrevistar o ex-presidente uruguaio. Por incrível que pareça, nos jornais e nos sites da mídia não saiu uma linha sobre seu importante pronunciamento, e as televisões também fizeram uma cobertura modesta.  Aqui na Tribuna da Internet, fizemos normalmente a cobertura do evento, sob o título “Mujica dá coletiva na ABI e critica políticos que enriquecem”, um enfoque interessante no atual momento político brasileiro.
O fato é que nenhum outro site ou blog publicou nada de importante sobre o que disse Mujica, ficaram mais preocupados em registrar que durante a solenidade, um dos elevadores da ABI, superlotado por jornalistas, desceu até o poço. Um vexame jornalístico. Nunca vi nada igual.
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PS – Outro dia um comentarista reclamou ter procurado no Google uma foto do editor da Tribuna da Internet, sem encontrar. A foto acima já foi publicada aqui, no dia da visita de Mujica, mas sem identificação do casal de papagaios de pirata, como se diz na gíria jornalística. Depois da entrevista, Mujica saiu de braços dados com minha mulher e quase a perdi para sempre. Ninguém resiste a este velho guerrilheiro. 

18 de novembro de 2015
Carlos Newton

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