"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

A MARCHA BATIDA PARA O ADESISMO DE LULA A DILMA

Muitas e muitas vezes me perguntaram: por que, afinal, Lula escolheu Dilma Rousseff? 
A dúvida já vinha acompanhada de uma meia explicação. 
Ele teria querido primeiro Antonio Palocci e, depois, José Dirceu. Quando ambos foram abatidos pelo mensalão, restou sua grande gestora.

Agora vejo com clareza que tanto fez quanto tanto faz. Um ou outro, todos, inclusive ele, já haviam embarcado na estrada do adesismo.

Foi disso que tentei falar no prefácio para o livro de Tilden Santiago. Tateava, procurando saber onde havíamos errado mais, pois, creio, há erros e erros. 
A isso me referia quando falei dos “tesouros perdidos pelo PT”, pois centramos toda a nossa atenção naquele operário carismático que fazia questão de dizer que não era de esquerda, e tão pouca atenção demos a outros que tratávamos como se fossem todos iguais, mas que tinham tido incríveis experiências de tentar mudar o destino de tantos povos. 
A gente nunca parou de verdade para ouvir Apolônio de Carvalho, nem Mário Pedrosa, nem Clara Charf, nem José Ibrahim, nem Manoel da Conceição, nem Xico Mendes...

Hoje, juntando cacos de memória, escuto alguém martelando, pouco antes ou pouco depois de 1989, que o PT sozinho não saía dos 30% do eleitorado. 
Aliás, esse raciocínio já devia ter aparecido na Constituinte, na qual ficou claro o apoio do partido aos dois turnos nas eleições para o Executivo, questão nunca discutida amplamente entre nós. Para mim, coisa de maluco beleza em partido de esquerda.

Então, as coisas foram se precipitando, dinheiro correndo para o caixa do partido, prefeituras realizando coisas boas para as populações locais, muito e muito oba-oba.

As bancadas cresciam. Em 1996, quando fui líder, já havia espaço para fazer algum barulho. 
Até o Palácio do Planalto mandava cedo buscar os “Informes” da bancada do PT na Câmara, nos quais fazíamos a análise dos projetos em pauta e dávamos orientação para a votação. 
Chegamos a inaugurar nossa página na internet, saudada pelo antigo “Jornal do Brasil” como o melhor noticiário de partido político.

Pois quero hoje reafirmar que não podemos deixar de reconhecer os erros que foram cometidos por Lula e secundados por todos nós – eu só saí quando achei que já era demais ele nos impor Dilma.

Mas o caldo já havia entornado. Tão logo a reeleição foi aprovada, contra nosso voto, ela foi alegremente adotada no partido. A CPMF, contra a qual votamos, já em 2003 virou modo de fazer mais caixa. 

Para os de cima, Lula entregou a rapadura ao ir muito além de Fernando Henrique e patrocinar a Emenda Constitucional 40/2003, que, além de tudo, tirou da administração pública o direito de fiscalizar o sistema financeiro. 

Depois, a cooptação dos movimentos sindicais e sociais, os créditos ao consumidor privado. Mesmo aumentando o salário mínimo, foi Lula quem estimulou o surgimento de uma sociedade de cidadãos conservadores em espírito e em prática. O bispo Rodrigues que o diga.

Agora é hora dos pingos nos is. Sem choro nem vela.


20 de outubro dee 2015
Sandra Starling
Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo.

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