"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

TODA CENSURA É BURRA


Illia Ehrenburg era o Jorge Amado da União Soviética. Eu não admitia ir a Moscou sem vê-lo. Em 1957, viajando pela Rússia, procurei, pedi, insisti, esperei, até que marcaram um encontro com ele, na casa dele.
A foto está aqui, amarelada, depois de quase 60 anos. Somos uma meia dúzia de jovens estudantes brasileiros em torno daquele velho simpático, silencioso, numa cadeira de balanço, no canto da sala.
As paredes cobertas de quadros de pintores franceses, Picasso, Monet, Rodin, de quando ele foi embaixador da União Soviética na França.
A conversa começou obvia, sobre a vida dele, a literatura dele, sobretudo seu ultimo livro, de 1954, “Ottiepel”, “O Degelo”, um sucesso mundial, que tinha acabado de ler e que consagrou o nome do começo da abertura na União Soviética, um ano depois da morte de Stalin e de Khrushev fazer seu histórico Relatório de 1956 ao XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética denunciando “os crimes de Stalin”.
Ilia Grigorievith Ehrenburg nasceu em Kiev, capital da Ucrânia, em 1891 e morreu em Moscou em 1967. Embaixador em Paris, voltou para Moscou quando a França foi ocupada por Hitler em 1940. Tornou-se popular com seus programas de radio durante a guerra. Eu não podia deixar de fazer a pergunta inevitável:
– E Stalin?
O intérprete ouviu, não traduziu, fechou a cara. Ele entendeu bem. Olhou para mim com uns olhos infinitamente tristes, tive a impressão de que ia chorar. Mal mexeu com a boca :
– Stalin? Hummm… Hummm…
E fez um gesto leve com a mão, como quem espanta um pássaro. Estava espantando um pesadelo. Já vi muitos olhos tristes. Nunca vi olhos tão tristes quanto os de Illia Ehrenburg.
Tentei ver Cholokov e Pasternak. Viviam no interior, exilados, proibidos. Não me deixaram vê-los. Mikhail Cholokov também nasceu na Ucrania e se tornou escritor universal com “O Don Silencioso”, painel das terras dos cossacos onde corre o Don, pano de fundo da primeira guerra mundial. Em 1965 recebeu o Premio Nobel de Literatura. Morreu em 1984.
DOUTOR JIVAGO
Pasternak, Boris Pasternack, nasceu em Moscou em 1890 e morreu em 1960. Tradutor de escritores franceses, ingleses e alemães, era considerado pelo regime comunista “um esteta anacrônico” apenas tolerado (suas traduções de Shakespeare são as melhores em língua russa).
Poeta consagrado, Pasternak em 1957 publicou escondido na Itália o romance “Doktor Jivago”, “Doutor Jivago”, proibido na União Soviética, que ganhou o mundo com estrondoso sucesso, virou filme e lhe deu o Premio Nobel de Literatura de 1958, que foi impedido de ir receber e foi expulso do poderoso e stalinista sindicato dos escritores soviéticos.
Que diferença fazia ver Ehrenburg e Cholokov e Pasternak não? As ditaduras são irracionais, estúpidas.
OMAR SHARIF
Essa semana morreu no Egito o ator Omar Sharif, Globo de Ouro e indicado para o Oscar por sua soberba interpretação no filme “Doutor Jivago”, de 1965. Enquanto os soviéticos perseguiam seu genial poeta e romancista e proibiam na União Sovietica o romance e o filme do romance, os americanos levavam a eterna história de amor do Doutor Jivago a todos os cantos do mundo, embalada pela inesquecível canção ‘Tema de Lara’.
Toda ditadura é estúpida, toda censura é burra.
PETROLÃO
Nos últimos 12 anos, os governos Lula/Dilma seguiram a filosofia do marqueteiro João Santana: não lidar com conceitos como verdade. A mentira é mais fácil de absorver. Nos primeiros 4 anos, colheu os frutos do Plano Real,uma economia sustentável com avanço social garantido pela estabilização econômica. No segundo mandato de Lula e no primeiro de Dilma, ao abandonarem os fundamentos que alicerçavam o Plano Real e não promoverem as reformas que modernizariam a economia brasileira, era questão de tempo a débâcle, que estão vivendo os brasileiros com a crise vitimando trabalhadores, classe média e importantes setores produtivos.
O ex-presidente Lula, apostando na falta de memória do povo, assume ares de oposição, ignorando que foi no seu governo que ocorreu o maior assalto ao dinheiro público na história do país. Semana passada, em Brasília, durante reunião com dirigentes do PMDB, disse que a apuração da roubalheira contamina a política e a economia:
-“A Lava Jato não pode ser a agenda do País”.
Resta perguntar: por que a operação tão bem conduzida pelo Ministério Público Federal, Polícia Federal, Receita Federal e a competência jurídica do juiz Sergio Moro teve que pautar o Brasil? Porque o PT fez da Petrobras uma sórdida gazua de fabricar dinheiro.

13 de julho de 2015
Sebastião Nery

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