Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados e hoje o mais ativo adversário do PT, aplica estratégia mortal que, a um só tempo, asfixia o partido e pavimenta sua própria candidatura a vôos mais altos - como a Presidência da República
Comecemos pela grande ironia: Eduardo Cunha é do PMDB, partido da chapa de Dilma, ocupando atualmente vice-presidência e também parte firme e forte do governo. Não apenas uma legenda “aliada”, como tantas outras, mas sim a grande parceira do PT durante todos esses anos. No âmbito político nacional, portanto, Cunha não deixa de ser uma “cria” do método petista de governar e exercer o poder.
Isso dá um sabor especial à graça dos militantes trezeconfirma bradando contra um líder que seu próprio partido forjou. Tal ironia é deliciosa demais para ser ignorada, é preciso que seja sempre lembrada para mostrar que, na política, mais do que na vida, o esperto quase sempre acaba engolido pela própria esperteza.
Mas sigamos.
Cunha traçou uma estratégia e a segue à risca: expor o PT. Mas não uma exposição por meio de denúncias ou manchetes acusatórias; isso acontece há anos e, muito infelizmente, não produz grandes efeitos no eleitorado. O povo parece incomodar-se menos com corrupção e mais com a situação econômica e posições ideológicas.
Sim, sim: o povo se incomoda com temas ligados à ideologia.
E aí está a chave da coisa: empurrar o PT para a esquerda, já que o partido somente se elege escondendo esse viés (motivo simples: o povo odeia esquerdices no geral). Um bom exemplo é a redução da maioridade penal, com apoio de quase 90% da população e o PT precisando marcar posição contra essa medida, queimando-se mais e mais.
Assim foram, são e serão as demais pautas. O plano executado por Cunha consiste única e tão-somente em expor o PT ideologicamente, mostrar o que de fato o partido pensa – especialmente quando tais ideias contrariem a maioria da população. Parece simples, de fato não é lá muito complexo, mas ao mesmo ninguém fazia isso no lado oposicionista.
Hoje, diante dessas táticas, Eduardo Cunha se posiciona como o grande adversário ideológico do PT, o grande nome nacional que se mostra contrário não apenas às práticas, mas também às ideias do partido – e os líderes petistas precisam expor esse ideário a cada nova votação.
Desse modo, e dia após dia, Cunha pavimenta seu nome no plano nacional. Menos discurso, mais ação.
Oposição não pode ter apenas pragmatismo eleitoral, é preciso ser também combativa ideologicamente, é preciso mostrar-se como uma opção ao pensamento de quem esteja no poder (se o governo é esquerdista, não há grande apelo a quem se opõe e também seja esquerdista).
Cunha entendeu isso muito bem e executa o plano de forma magistral, não apenas sem receio, mas sobretudo com orgulho dessa posição. E aí ganha o coração de todos que pensam da mesma forma.
Deixa de ser aquilo de “ok, aceito votar nesse, afinal o outro é o PT” para “esse sim tem ideias como as minhas”. E isso faz toda a diferença, por mais que a turma do pragmatismo-puro-e-simples não acredite e até ironize.
2018 é ainda um ano distante, talvez haja eleições até antes disso, mas mesmo assim vale registrar o óbvio: cada dia na presidência da Câmara é um tijolinho a mais na construção política de Cunha como grande nome nacional anti-PT, firmando-se como opção forte para o próximo pleito presidencial (o primeiro e maior passo já foi dado: a militância de Facebook o odeia, o que invariavelmente significa o seguinte: o resto da população, imensa e esmagadora maioria, concorda com seus atos e ideias).
Que os demais entendam isso e passem a mostrar oposição também ideológica ao PT. Afinal, todo mundo é contra a corrupção, isso não é diferencial, nem mesmo chega a ser um discurso em si.
A mais consistente dianteira anti-petista será de quem também deixar claras as diferenças de ideologia.
E essa dianteira, ao menos por agora, é de Eduardo Cunha.
13 de julho de 2015
Gravatai Merengue
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