"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 18 de julho de 2015

RENDIÇÃO UNILATERAL: A GRÉCIA TEVE DE ENTREGAR TUDO


Não há expressão melhor para qualificar o que a cúpula da área do euro decidiu, em Bruxelas, sobre a saída da crise da Grécia do que a que está no título acima. A Grécia teve de entregar tudo, inclusive sua soberania fiscal, para receber dinheiro novo cujo objetivo imediato é reabrir os bancos. Não haverá corte da dívida, apenas prorrogação de prazos. Ao contrário, a dívida aumentará porque a ela será incorporado o socorro de 86 bilhões de euros, a ser recebido em parcelas, se as cláusulas forem cumpridas. Nada menos que 50 bilhões de euros em ativos estatais da Grécia terão de ser leiloados sob a supervisão do grupo do euro.
As condições do pacote são mais duras do que as rejeitadas pelo plebiscito realizado apenas oito dias antes e ainda mais duras do que as aprovadas, em princípio, pelo Parlamento da Grécia, na última quarta-feira, que, por sua vez, tinham sido mais austeras do que as que foram objeto do plebiscito.
Essa consulta popular foi um evento absurdo, convocado e executado às pressas. Seus termos falavam de um plano de superação da dívida já extinto, cujos resultados (rejeição do acordo) foram ignorados tanto pelos líderes do eurogrupo quanto pelo primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.
DE JOELHOS
A Grécia foi colocada de joelhos, à mercê da cúpula do euro. A outra opção à submissão seria a saída da área do euro, hipótese que provocaria um desastre maior na economia e na vida do povo grego.
A bola está agora com o Parlamento, que terá de aprovar ou rejeitar os termos da capitulação. Se aprovar, terá de pronunciar-se novamente contra a decisão do plebiscito. Se rejeitar, atirará a Grécia para o precipício. Nessas condições, a quebra da maioria dos seus bancos ficaria inevitável.
As sete páginas do documento, negociado no fim de semana durante 17 horas, levam as assinaturas dos chefes de Estado e de governo dos 19 membros do eurogrupo – e não apenas as de Angela Merkel, que comanda a cavalaria prussiana.
CATÁLOGO DE ATROCIDADES
O documento contêm longa lista de imposições que a revista alemã Der Spiegel chamou ironicamente de “catálogo de atrocidades”. Exigem reforma do sistema tributário com aumento de impostos, reforma do sistema judiciário, reforma do regime previdenciário, que reduzirá aposentadorias e imporá idade mínima de 67 anos, e encolhimento do setor público.
O tempo dirá até que ponto o ambíguo Tsipras e seu partido com propostas nacionalistas radicais, o Syriza, se desmoralizaram, não apenas entre seus pares da área do euro, mas também na Grécia. Para aprovar o pacote que antes considerava abominável, o primeiro-ministro depende agora da oposição e dos que votaram contra ele no plebiscito. E sabe-se lá se essa dependência não lhe vai custar a sobrevivência política.
Do ponto de vista prático, ficou claro que, em casos de crise fiscal, não há saída que não envolva austeridade e muito sacrifício. E essa não é uma lição que serve apenas para “folgados” que habitam as terras do outro lado do Atlântico. Serve especialmente para nós, brasileiros, que adoramos o consumo fácil baseado no avanço do endividamento “a perder de vista”.
(artigo enviado pelo comentarista Guilherme Almeida)

18 de julho de 2015
Celso Ming
Estadão

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