"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

PARA A FRENTE, DEPOIS DA ERA DO CONSUMO



Li um interessante artigo publicado no jornal “Valor” desta semana, de autoria do presidente de FCA, Cledorvino Belini, que chama atenção para a “inovação” como forma mais direta e valiosa de sobreviver ao atropelo da crise. Ainda mais neste momento de provações enfrentadas pelos setores econômicos que sustentam o sistema e alimentam diretamente o erário, o estômago das pessoas, e garantem “ordem e progresso”. Para isso Belini chama a atenção para a “educação” como chave e panaceia da sociedade.
No jornal O Tempo do último sábado, uma entrevista do instituidor do projeto Inhotim, Bernardo Paz, aponta “sua” saída pela quebra de paradigmas sociais, uma revisão plena do “modus vivendi” marcada pela volta ao “natural”, ao lado artístico da vida que a humanidade deixou fora da “urbis”. Um resgate da tribo deixada atraente pela tecnologia.
Os avanços, especialmente da comunicação, deixam em segundo plano a necessidade de se aglomerar entre as muralhas de concreto. Paz, provavelmente influenciado pelas teorias da Era de Aquário, pelo esoterismo insurgente, se lança no espaço inexplorado do “pós-moderno”, da superação do trivial, que, aliás, é o norte do próprio projeto “Inhotim”.
DESEJO DO CONSUMO
A sociedade chegará ao momento em que o desejo do consumo estará saturado, e a mola mestra de hoje terá que ser substituída por outras fórmulas. Quais? Aí na bola de cristal temos duas visões: aquela do homem de indústria, que movimenta as engrenagens da economia, e a do outro, o colecionador de arte, o mecenas, vislumbrando uma saída dos paradigmas. Da fórmula do progresso pelo crescimento econômico. Bernardo Paz, que sabe conviver com o apelido de “louco” que se aplica com facilidade ao “profeta que nunca será reconhecido em sua pátria”, enxerga o futuro distante, mas já insurgente numa minoria.
Os discursos, aparentemente distantes, se entrelaçam na preocupação do enfrentamento da situação desfavorável, social e econômica.
Meu guru escrevia na década de 60 que chegaríamos ao ponto em que os valores que movem a humanidade nos últimos milênios se exauririam por uma parte da sociedade, mas seriam ainda necessários para outra, por meio do apaziguamento das necessidades ancestrais provocado pelo acesso ao consumo em larga escala.
Dessa maneira, os instintos de sobrevivência mais grosseiros e animalescos, com sua rudez e ferocidade, deixariam superadas as lutas com unhas e dentes para encher o estômago.
PÓS-FARTURA
Encontrando a fartura, deixará de disputar seu abastecimento como uma fera que se vale de tudo. A prole amenizaria os instintos, deixaria de caçar e passaria a ter disposição e tempo para procurar dentro de si valores que transcendem a cruel disputa. Isso se apercebe agora no despertar de pessoas que enxergam a vida não só como uma luta, mas como uma pacífica convivência.
O vidente teósofo Charles Leatbeater, no livro “O Homem, de Onde Vem e para Onde Vai”, profetizou, em 1900, a televisão e a internet, descreveu também formas de vidas para as épocas atuais e futuras que deixam para trás o modus vivendi dos últimos séculos. Haveria, assim, já uma sociedade mais sábia, moderada e feliz à procura da superação do mero materialismo. Mas, se uma parte evoluiu, outra tenderia a se extinguir na estreiteza de sua compreensão. Assim como o homem de Cro-Magnon sobreviveu ao Neandertal.
Belini enxerga na inovação a “via”, e esta se dará em sintonia com a procura de novos valores, auspicados por Paz. A inovação deve se dirigir a um norte, sinalizado pela necessidade de conversão de métodos impróprios para os sustentáveis e limpos.
A sociedade civil, tanto no mundo empresarial como no artístico-cultural, vem apresentando propostas muito valiosas. Acendendo luzes na escuridão que deveriam ser aproveitadas pelo mundo oficial.

30 de julho de 2015
Vittorio Medioli
O Tempo

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