Registra-se algum ceticismo entre os poucos privilegiados que assistiram as gravações feitas sábado pela presidente Dilma, para o programa de propaganda política gratuita do PT, a ser divulgado dia 6 de agosto em cadeia nacional de rádio e televisão. Há quem suponha um aumento de decibéis no inevitável panelaço previsto para aquela noite. Raramente o sol se levanta, no dia seguinte aos pronunciamentos de Madame, sem que tenha aumentado o número de desiludidos e até de indignados, dispostos a rejeitá-la.
As considerações otimistas são necessárias para qualquer governante em crise, junto com o reconhecimento de dificuldades óbvias. É preciso, no entanto, saber dosar a realidade com a fantasia. Parece que dessa vez haverá frustração entre os telespectadores, se a presidente não se dispuser a regravações. Tempo existe para que câmeras e microfones voltem ao palácio da Alvorada.
Corre a versão de que dirigentes do PT, com o Lula à frente, examinarão as cópias da fala presidencial. Claro que não como examinadores implacáveis, mas, ao menos, como colaboradores dispostos a contribuir para que o programa dos companheiros sirva de refrigério na crise, jamais para acirrá-la.
A GERENTONA PERFEITA
A personalidade de Dilma não comporta restrições. Ela se julga sempre certa e tem como rotina sustentar suas aparições públicas como irretocáveis. Fica até agastada quando recebe reparos, mesmo do primeiro companheiro. Ainda assim, haverá que esperar o desdobramento do episódio. O marqueteiro João Santana assistiu as gravações e teceu elogios à performance da chefe, mas não poderia ser diferente, sendo seu inspirador.
A pergunta que se faz é se alguma coisa vai mudar, mesmo se por hipótese duvidosa o pronunciamento presidencial for considerado bom ou ótimo pelo PT. Porque uma coisa é o Brasil televisivo, outra, o Brasil real. O que se espera do governo são iniciativas concretas para diminuir o desemprego. Se possível, combatida a corrupção. Como se torna impossível evitá-la, que tal ao menos organizá-la? Claro que sem aceitarmos o malicioso conselho do saudoso ministro Mario Henrique Simonsen, quando propôs fossem incluídas no orçamento as escandalosas e inevitáveis comissões extraídas das obras públicas, mas que essas não se realizassem. Muito dinheiro seria poupado…
28 de julho de 2015
Carlos Chagas
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